Lona esticada, lenha acessa e bruacas enfileiradas. Este é o cenário do típico almoço pantaneiro que deixou às beiras das estradas e o meio do Pantanal sul-mato-grossense para se instalar na Praça da Liberdade, neste 15º Festival de Inverno de Bonito. Atração paralela à programação oficial, o restaurante ao ar livre é a opção para os turistas que querem experimentar um almoço típico do estado.
Como não poderia deixar de ser, o almoço é produzido por um típico pantaneiro. Dinarte Rondon da Silva, 48 anos, ou o sargento Rondon, como é chamado pelos colegas de Exército, não deixou lado suas raízes, apesar de se dedicar aos serviços militares. “Nasci e fui criado em fazenda e acompanhei muitas comitivas de boiada”, afirma.
(Foto: Deivid Correia)
O sargento é velho conhecido por seus almoços na cidade de Aquidauana, distante 139 quilômetros, onde vive. Lá, ele costuma levar a combinação de arroz carreteiro, mandioca cozida, macarrão e feijão tropeiros para às escolas com objetivo de manter viva a cultura dos peões pantaneiros, que costumam cozinhar e comer o prato durante os longos dias de comitiva para deslocar a boiada. “Vemos que isto quase não é conhecido dos mais jovens”, explica.
O diferencial do almoço não é somente os sabores típicos da terra, mas a maneira como ele é produzido. Acompanhando uma comitiva, a cozinha necessita ser desmontável. Panelas, partes que compõem o fogão à lenha e os mantimentos são carregados em bolsas de couro, chamadas bruacas. De acordo com o Rondon, o transporte dos utensílios exige habilidade. “É preciso colocar o mesmo peso em cada bruaca que é colocada em cada lado do burro, senão ele pode desequilibrar”, afirma. Para protegê-las da chuva, um couro é colocado sobre as bolsas durante o transporte.
(Foto: Deivid Correia)
Cerca de oito homens costumam fazer parte da comitiva e todos precisam respeitar a hierarquia durante o momento da refeição. “O condutor da boiada é o primeiro a se servir. Depois ele autoriza os outros a comer”, explica Rondon. O cozinheiro também tem sua autoridade, já que observa a forma de cada peão se servir e pode levá-los a pagar com um porco ou uma galhinha, se falam sobre as panelas ou se servem sem utilizar o chapéu, que evita a queda de algum fio de cabelo no prato.
Em Bonito, o prato que costuma custar apenas R$ 5 em Aquidauana, é vendido a R$ 15. Mesmo com o ajuste, o almoço está entre as opções mais em conta no evento, que está em seu quarto dia de programação. O aumento do preço tem explicação. De acordo com Rondon, o dinheiro arrecadado durante o Festival de Bonito será revertido para ajudar a pagar a cirurgia de um amigo acidentado. As iniciativas filantrópicas do sargento por meio do almoço se estendem também a asilos e instituições que cuidam de pessoas especiais.
(Foto: Deivid Correia)
O Festival de Inverno de Bonito está previsto para terminar amanhã. Neste sábado (02), Tulipa Ruiz, Lulu Santos e Titãs estão entre as principais atrações da programação. Dança, teatro e apresentações musicais ocorrem durante todo dia na Praça da Liberdade, no centro de Bonito.