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Economia

Enquanto a miséria aumenta, MS bate recordes na produção da soja

Enquanto alguns ganham em dólares e investem em produção de commodities para o exterior, o Brasil do "agro" contabiliza milhares passando fome e dificuldades financeiras

23 setembro 2021 - 13h00Por Rayani Santa Cruz

Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) de 2020 indica que o valor da produção agrícola de Mato Grosso do Sul atingiu recorde de R$ 29,5 bilhões em 2020. O problema é que enquanto o agronegócio bate recorde, a miséria, desemprego e a fome crescem no País "do agro".

Existem dois "Brasis" diferentes: um deles com a população sobrevivendo com alta da inflação e preços altíssimos de alimentos básicos como arroz, feijão, óleo e a carne vermelha (mesmo o MS sendo um dos maiores produtores de gado). E outro onde os produtores estão felizes com altas de exportações, a exemplo da soja, que não necessariamente é transformada em alimento para consumo humano.

Segundo a PAM, entre as culturas agrícolas que mais contribuíram para esse crescimento em MS, "houve destaque para a soja, principal produto da pauta de exportação nacional, que alcançou a marca de 10,9 milhões de toneladas, gerando R$ 14,3 bilhões em valor bruto, o que representou um acréscimo de 50,5% frente à safra anterior, que havia registrado retração no volume produzido."

Ainda conforme a pesquisa, a produção de milho no estado, que obteve incremento de 8% na produção, apresentou novo recorde, atingindo 10,7 milhões de toneladas, que geraram um valor bruto de R$ 9 bilhões, número 109,3% superior ao registrado no ano anterior.

(Indicadores mostram recordes em produção no ano de 2020. Foto: IBGE-PAM)

Insegurança alimentar

Apesar dos números altos em produção agrícola, um dos motivos para tamanha disparidade entre recordes de exportação e insegurança alimentar tem a ver com o fato de o Brasil ser grande na agricultura, mas focar em culturas específicas para a exportação como é o caso da soja. 

O G1 divulgou paralelo onde indica que a agricultura familiar é responsável por boa tarde dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, mas que o setor não tem tanto incentivo do governo e é pouco atrativo em níveis de mercado.

Existem incentivos de crédito, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), além de programas de aquisição de alimentos, tal qual o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Mas, eles não são de fácil acesso aos produtores com menor estrutura. 

Culpa do agro?

O agrônomo e pesquisador Paulo Petersen, integrante do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), disse ao G1 que a produção do Brasil não é voltada para a alimentação, mas sim para commodities, principalmente o cultivo de grãos usados em ração para animais.

Commodities são produtos que funcionam como matéria-prima. Elas podem ser desenvolvidas em larga escala e estocadas sem perder a qualidade. No caso do agro, são itens como soja, trigo, milho e café. 89% de todos os grãos produzidos no país no ano passado foram de milho e soja, diz Petersen.

"Basicamente tanto um como o outro é voltado para a exportação. Então, a produção interna é muito voltada para a indústria e não diretamente para o consumo humano, isso que explica a aparente contradição”, afirma.

Além dos grãos, o Brasil é um grande produtor de cana-de-açúcar, item que também não é focado apenas na alimentação, já que é a matéria-prima para o etanol.

Por isso é que, segundo Petersen, "à medida que o agronegócio vai se expandindo e se tornando mais vigoroso economicamente, isso não significa que as demandas de alimentação e nutricional estejam sendo atendidas”.

Enquanto isso...

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina acaba de anunciar no Twitter, que o governo federal suspendeu a cobrança de PIS e Cofins na importação de milho até 31 de dezembro deste ano. O objetivo é desonerar o custo de aquisição externa com foco no aumento da oferta interna buscando reduzir a pressão de preços e os custos dos criadores de animais, já que o grão é importante insumo na alimentação de bovinos, suínos e aves. 

A medida consta na Medida Provisória Nº 1.071, publicada nesta quinta-feira (23) e foi proposta por ela em razão da quebra na produção de milho neste ano por causa da seca, e do cenário de aperto no abastecimento, o que provocou alta no preço do milho para os criadores de animais.

"A suspensão permitirá a compra de milho de outros mercados fora do Mercosul de maneira competitiva, melhorando o abastecimento interno e evitando reajuste nos preços das carnes para o consumidor. A expectativa é que a retirada da cobrança da tarifa represente redução de 9,25% no custo de importação ou R$ 9 por saca".

(Ministra postou sobre desoneração de taxa. Foto: Reprodução Twitter)