domingo, 15 de junho de 2025

Busca

domingo, 15 de junho de 2025

Link WhatsApp

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp Top Mídia News
Economia

há 1 semana

Quase analógicas, mulheres entram no mundo digital e se tornam milionárias

Linguagem simplista, trocadilhos e duplo sentido se tornam o idioma universal e encabeçam negociações

Agulhas, tesouras, papel machê e serrotes, imagine uma mala equipada com todos estes itens e, ao lado, a necessidade de se ter resultados em um mercado totalmente digital. Impossível, não é? Mas, não! Cris, Celi e Andressa, três "poderosas", que se tornaram milionárias deram vida e capacidade financeira para métodos, objetos e modelos ultrapassados. Individualmente separadas, cada uma protagonizou a sua história, com um elo em comum, a internet; elas fazem dinheiro, tiveram o trabalho reconhecido internacionalmente e provam que não existe idade para empreender com tecnologia.

Cristiane Araújo, que na época tinha 28 anos, mal sabia que a mulher que aparece no vídeo (veja aqui) com voz tímida, sentada no chão, em um "cantinho" do seu comércio há 8 anos, se tornaria milionária e reconhecida como a "Rainha do Pegue e Monte". A história começou com um celular tão antigo que facilmente seria descartado por um jovem da atualidade.  O primeiro vídeo no YouTube foi marcado pelo ruído ao fundo do trânsito de motos e ônibus que passavam em frente à sua loja de 4 m², no bairro mais populoso de Campo Grande-MS, o Aero Rancho.

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internetCris Reis se transformou na "Rainha do Pegue e Monte" - Foto: arquivo pessoal

Cristiane tinha apenas a alma empreendedora, a vontade de ter mais tempo com os dois filhos - Ian, de 1 ano, e Mayra, de 5 anos -, e o desejo de viver, após ter passado por uma cirurgia de retirada do útero e ter sido demitida do trabalho. Foi então que decidiu investir os R$ 300 que lhe restaram. E o que, para muitos, parecia ser o fim, foi o pontapé inicial para Cris inovar com um sistema de locação de peças decorativas para festas em casa, com materiais de fácil manuseio e baixo custo. Veja:

 

 

"Sou pioneira no Brasil, tive o primeiro contato com um kit de 'Pegue e Monte', que era para decoradores, e percebi que não existiam semelhantes para festas infantis e adultas em casa, e foi quando eu desenvolvi. Então, o meu contato foi o conhecimento que eu tinha de algo raso e eu aperfeiçoei e criei os kits, dando uma projeção nacional e internacional a esse nicho", explica.

Aos poucos, o negócio foi dando cada vez mais certo e, a pedido das próprias clientes, ela começou a gravar os conteúdos de produções e dicas sobre criar um negócio de sucesso para auxiliar as mamães digitais: "Vaso feito com garrafinha de plástico", "Fazendo forminhas de papel", "Transforme bandejas em quadros para painel", foram algumas das ideias deixadas pela empresária em vídeos que, aos poucos, ultrapassaram a marca de 14 milhões de visualizações no YouTube e seguem sendo referência para os seus quase meio milhão de seguidores.

"Eu sempre vi as redes sociais como algo para contribuir com o conhecimento. No meu início, era uma pessoa que não tinha dentes, uma pessoa descabelada, suja e sem condição. Eu usava roupas de brechó, mas no fundo sabia que aquilo tinha um potencial gigante", relata a empresária, que hoje tem 44 anos e segue se destacando no mercado.

Atualmente, a loja que recebeu o nome de "Cantinho da Cris Reis" funciona em um espaço amplo, com bolos coloridos espalhados pelas prateleiras, totens de personagens, que se misturam com peças de cerâmica, vasos de plantas e uma ampla variedade de itens de luxo para a montagem de eventos. 

"Através dessa projeção, eu criei um sistema de locação que não tinha para o segmento. Além disso, abri outra empresa no setor de consultorias de marketing, que hoje é dirigida pela minha filha de 21 anos e oferece assessorias para quem quer investir nesse mercado. Já atendemos o Brasil e o exterior, mesmo sem nunca ter saído do meu país", conta emocionada. 

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internetEmpresária durante evento com mulheres sobre empreendedorismo digital - Foto: arquivo pessoal

Pesquisa do Sebrae em conjunto com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) identificou que a tendência de explorar as ferramentas digitais está em alta nos últimos anos. Em 2023, três em cada quatro pequenas empresas do país apostaram nos aplicativos de mensagens e redes sociais para fazer negócios. O melhor resultado de toda a série histórica iniciada logo após a pandemia de Covid-19.

Arte em madeira de demolição

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internet

Cada cor estampada representa episódios da história dos antigos proprietários - Foto: Marcos Maluf

Enquanto Cris vende métodos, no bairro Jockey Club, em Campo Grande-MS, Celi Félix, 55 anos, de linguagem divertida e piadas semi-prontas a cada nova frase, fez do seu próprio jardim um verdadeiro showroom. Nele, bancos, mesas e armários se entrelaçam com a natureza e o que antes era comercializado no tradicional boca a boca, agora rouba a cena nas redes sociais com a simplicidade de quem nem tinha um aparelho celular e precisou aprender a digitar letra por letra.

"Eu não sabia mexer em nada, fui catando grãozinhos. Até que, em 2011, uma cliente veio buscar um bolo e eu comentei com ela que estava muito feliz por ter conseguido 10 curtidas no Facebook. Ela me sugeriu divulgar nos grupos de moradores, me adicionou e me ensinou a publicar", disse Celi, que contou com o apoio da sobrinha mais nova para compartilhar os produtos nas redes sociais. 

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internetCercada de belos móveis autorais, Celi compartilha a vida nas redes sociais - Foto: Marcos Maluf

Com o empreendedorismo no sangue, a empresária relembra que a paixão pela arte sempre esteve presente em sua vida. O que não sabia é que, no percurso para deixar a filha de 8 anos nas aulas de piano, encontraria, no mundo das vendas online, muito mais do que o seu ganha-pão, o seu estilo de vida. Veja: 

 

"Eu conheci um marceneiro e eu me encantei pelo trabalho e comprei uma poltrona. Eu já vendia bolos em casa, então não demorou muito a aparecer uma cliente interessada em comprar o bolo e levar a poltrona. Depois daquele dia, eu comprei outras duas poltronas e, com a ajuda da minha sobrinha, coloquei em um site de vendas. Mas, com pouco tempo, apareceu um cliente querendo 26 peças e eu encomendei e comecei a revender", relembra.

Enquanto os produtos eram vendidos em um curto espaço de tempo, Celi conta com carinho as vezes em que parou o carro no meio da rua para buscar madeiras e móveis que seriam destinados ao desuso. Com lixas, tintas e luvas nas mãos, ela restaurou por diversas vezes cada uma das madeiras e, com exclusividade, montou o seu próprio negócio. Modesta, quando questionada sobre o seu primeiro R$ 1 milhão, ela lista os itens conquistados, como o carro zero quilômetro, casas e um enorme galpão recheado com maquinário de ponta. 

"Eu nunca parei para contabilizar se sou milionária, aliás, essa foi uma boa pergunta e me traz reflexão. Mas acredito que, diante de tudo que eu já realizei, eu já até passei. Só tive consciência do que eu já tinha conquistado quando, seis meses após começar com as vendas, a minha filha me disse para comprar uma caminhonete S-10, que sempre foi o meu maior sonho, e eu disse a ela que não tinha dinheiro. Foi então que me mostrou que eu estava enganada", destaca.

O jardim da casa de Celi é regado por arte, peças carregadas de história, onde cada veio na madeira sussurra trechos da vida dos antigos proprietários. O carisma de quem trabalha com o que ama foi cativando cada vez mais clientes. 

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internetBancos, mesas e armários são desenhados e produzidos por Celi Félix - Foto: Marcos Maluf

Essa dedicação e autenticidade a fizeram romper barreiras e fronteiras. Recentemente, confeccionou peças exclusivas para uma mostra de arquitetura em São Paulo, mas também já enviou móveis para Nova Mutum e Rondonópolis, ambas no Mato Grosso; Rio de Janeiro, Pará e até mesmo para a Europa.

"Eu ficava feliz quando só tinha 10 curtidas, hoje em uma publicação para falar que foram poucas eu recebo 800, minhas visualizações são muito grandes e ganho seguidores todos os dias. Aprendi tudo sozinha, no início apertava o A e saía B, mas eu sempre vi que a internet era um lugar maravilhoso para divulgar o meu trabalho", afirma a empreendedora, que recebeu visitas das equipes do Sebrae-MS que a auxiliaram com dúvidas sobre tráfego pago na internet.

A D' Casa móveis rústicos faz parte de um número de pequenos negócios exportadores que mais que dobrou em uma década no Brasil: de 5,4 mil em 2014 para 11,4 mil em 2024. Levantamento do Sebrae, com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), aponta que a participação dos empreendimentos de pequeno porte entre o total de exportadores nacionais passou de 28,6% para 39,6% nos últimos dez anos, um aumento de 11 pontos percentuais.

De cara com o sucesso

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internetAndressa começou a empreender após bater o carro contra um Chevette - Foto: Marcos Maluf

A poucos metros da loja de Celi e ainda no bairro Jockey Club, em Campo Grande-MS, a empresária Andressa Amaro, 38 anos, voltou no tempo e contou sobre como uma batida de carro, em 2011, a fez conquistar o seu primeiro R$ 1 milhão em vendas de biquínis. Fazendo jus ao ditado popular que diz que lataria de carro antigo é dura, foi na resistência da carroceria de um Chevette que ela precisou se reinventar para conseguir R$ 800 para o conserto. 

"Já era a terceira vez que eu batia o carro e, como o Chevette é resistente, não aconteceu nada com ele, mas tive que arrumar R$ 800 para consertar o meu veículo", recorda. 

Sem recursos, a alternativa foi se desfazer de roupas do armário, dentre elas, dois pares de biquínis. Com somente 18 minutos do anúncio em uma plataforma de vendas, já estava entregando as peças de banho para uma cliente. Em poucas horas, conseguiu juntar mais de R$ 2.500, o que lhe mostrou a força das redes sociais e um mercado que ainda poderia ser explorado. Veja:

 

"Paguei o carro e, com o valor que sobrou, decidi investir em mais produtos para revender. Com a venda em minutos das duas peças que eu tinha inicialmente, foi então que decidi comprar mais 10 conjuntos de biquínis e, para a minha surpresa, no dia seguinte, já não tinha mais nada", comemora.

Em 2013, produzindo suas roupas de banho, ela decidiu mergulhar de cabeça no empreendedorismo e abandonou o trabalho em uma empresa de telecomunicação. Aos poucos, a casa de Andressa virou a sua loja. Na cozinha do imóvel, funcionava o comércio que seguia encantando os clientes pela internet, com carisma e peças escolhidas a dedo.  

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internetPeças são exclusivas e desenhadas para atender as características do corpo feminino - Foto: Marcos Maluf

No ano seguinte, o espaço da cozinha ficou pequeno e foi parar na sala da residência, tanto que os biquínis participaram das fotos de aniversário dos filhos. E, mesmo vindo de uma família de empreendedores, somente em 2019, quando recebeu apoio técnico do Sebrae-MS, teve a dimensão de que já estava milionária e construiu a loja física na frente da sua casa.  

"O Sebrae me deu toda a orientação de quem era a Andressa Biquínis, do que a empresa poderia se transformar e o que ela já representava em números. De fato, sempre fui muito organizada com meu fluxo financeiro, mas não sabia fazer a gestão", frisa a empresária que, desde o Mato Grosso do Sul, consolidou clientes em Portugal, na Grécia e nos Estados Unidos.

Unidas com a tecnologia e um smartphone, empresárias recriam padrão de sucesso na internetCores vibrantes e cortes especiais garantem sucesso das peças até fora do país - Foto: Marcos Maluf

Histórias como estas mostram uma forte tendência econômica que já soma a participação de mais de 160 mil microempreendedores individuais, representando 48% do total de empresas. Além disso, a Pesquisa Monitor Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2024), realizada pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe), mostra que a faixa etária com melhor desempenho em 2024 foi a de mulheres entre 45 e 54 anos, o que confirma, mais uma vez, que nunca é tarde para se jogar de cabeça no empreendedorismo.

 Lojas físicas expandem no digital

Com o tempo cada vez mais curto e reduzido, o analista de Marketing do Sebrae-MS, Bruno Navarros, pontua que o mercado digital tem sido cada vez mais procurado pelos clientes que buscam agilidade. Para auxiliar nesse quesito, existem algumas ferramentas fundamentais, como, por exemplo, o Google Perfil da Empresa, antigo Google Meu Negócio. Com ele, a intenção é a de estimular os clientes a avaliarem as empresas. Uma vez que a recomendação conta muito, e as pessoas buscam referências na hora de negociar com um pequeno empresário. Ouça!
 

 

 

 

 

Siga o TopMídiaNews no , e e fique por dentro do que acontece em Mato Grosso do Sul.
Loading

Carregando Comentários...

Veja também

Ver Mais notícias