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Entrevistas

02/02/2014 09:27

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2ª parte da entrevista com Pedro Pedrossian Neto - perfil de MS

Conjuntura Política

TopMídia News - Segundo a sua visão, o PSDB regional deve se preocupar com quais segmentos da sociedade civil organizada?


Pedro Pedrossian Neto - Um dos segmentos que não existia dentro do PSDB, ou melhor, existia apenas em projeto, é o PSDB sindical. Não existe um partido da social democracia sem uma relação forte com os sindicatos, com as associações de classe e com os movimentos sociais da sociedade organizada.

A ideia do PSDB nasce no final do século 19 e na primeira metade do século 20 como uma terceira via entre os dois sistemas antagônicos de organização social - uma era o capitalismo do livre mercado do lassez-faire e lasse-passer (expressões-símbolo do liberalismo econômico) onde se podia tudo.

O trabalhador não possuía nenhuma rede de proteção do estado e o capital podia fazer o que quisesse. Isso era negativo, pois criava mais instabilidade. Todas as grandes revoluções que ocorreram na Europa surgiram de um estado de bem estar social. O outro era o comunismo extremamente burocrático, centrado numa visão que inibia a livre iniciativa. A pretexto de resolver os problemas das desigualdades sociais, criou uma série de outros. Eram sociedades autoritárias, sem pluralismo e não entregou o que pretendia fazer.

Entre esses dois modelos antagônicos, surgiu uma terceira via que era a social democracia - buscava manter a economia de mercado e a livre iniciativa para poder empreender e também dotar o estado com mecanismos de proteção do trabalhador contra os excessos do sistema. Criou o estado de bem estar social, uma teia de proteção contra os problemas do desemprego.

TopMídia News - O que você está dizendo sobre o fortalecimento do sindicalismo não seria uma contradição, já que o PSDB tradicionalmente é considerado um partido de elite?


Pedro Pedrossian Neto - Boa pergunta. Essa é uma visão errônea que precisa mudar. Pra você ter uma ideia, a constituição de 1988 nasceu com o espírito e o DNA social democrata. Nós precisamos nos aproximar dos sindicatos e das associações de classe para poder construir a social democracia. Como partido, nós não podemos apenas ficar nem do lado do capital e nem do trabalhador, precisamos encontrar a via do meio. Aqui no estado não existia isso.

Em São Paulo, a relação do governo Alckmin com o movimento sindical é excelente. Aqui em Mato Grosso do Sul ainda temos muito que mudar. O nosso desafio é mostrar que o partido está a serviço de todos os segmentos da sociedade. 

TopMídia News - Você já entrou em contato com as lideranças sindicais de MS e qual foi a resposta deles em relação a esse interesse do PSDB?


Pedro Pedrossian Neto - Sim, já entramos em contato e a resposta foi muito positiva. Assumimos a tarefa há cerca de dois meses e já buscamos contato com o presidente do sindicato dos taxistas, com o pessoal da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Sindicato da Panificação e Sindicato dos Funcionários da Prefeitura nesse momento inicial.

É apenas o começo, são as primeiras ações que estamos estruturando e vamos buscar com outras categorias. Falamos com o presidente do Sindicato dos Jornalistas, pois essa é uma categoria que precisa ser fortalecida no estado.

Acredito que é preciso mais liberdade de ação dos jornalistas e hoje eu tenho a sensação de que os profissionais às vezes sofrem perseguição por crime de opinião. O jornalista não tem a liberdade para expressar o que pensa.

Percebo que os jornais de São Paulo, Rio e Brasília têm mais liberdade para dar os fatos. Em minha opinião, existe um patrulhamento, um cerceamento maior sobre os jornalistas aqui do estado.

Outra situação que precisamos avaliar é o programa "Mais Médicos" do Governo federal. Ninguém pode ser contra a ideia de ter mais médicos, mas esse programa foi criado de forma que colocaram goela abaixo na categoria.

É natural que eles estejam chateados, pois o governo trouxe médicos sem a revalidação do diploma. Você imagina contratar um profissional que não está qualificado para os nossos padrões de atendimento. É claro que a classe médica vai se posicionar de forma contrária. De fato, precisamos privilegiar mais os nossos médicos.

 

TopMídia News - Esse programa não gira entorno da falta de médicos? Não é melhor ter um profissional sem a revalidação do diploma do que não ter um profissional atendendo à população?


Pedro Pedrossian Neto - No ponto de vista emergencial, em curtíssimo prazo, até é possível aceitar a legitimidade do programa. Mas como ação a médio e longo prazo, eu acho que a gente realmente precisa fazer uma ampliação da oferta de vagas no curso de medicina.

Precisamos fazer uma ampliação das vagas de forma responsável, consciente, privilegiando os nossos profissionais, além de dar uma oportunidade a milhares de jovens que sonham em ingressar na carreira, mas não desistem desse sonho.

Todos sabem que muitas vezes, a relação candidato/vaga num curso de medicina é altíssima, em média de 150 candidatos por vaga. Tem gente que passa cinco, seis anos da vida se dedicando de forma exaustiva em função desse sonho, mas não consegue. Muitos buscam outras carreiras e se tornam profissionais frustrados por conta dessa realidade.

Ao mesmo tempo, a sociedade tem uma carência de médicos e uma população desassistida. Ora, se tem gente querendo trabalhar e uma população desassistida, por que não ampliar o número de vagas nas universidades? É razoável.

TopMídia News - De que forma seria possível o surgimento de mais vagas nos cursos de medicina, já que não houve um aumento expressivo no aumento das vagas desde a criação da UFMS, a mais antiga do estado?   

       

Pedro Pedrossian Neto - No âmbito do "Pensando MS", nós vamos apresentar uma proposta agora no início deste ano da criação da Faculdade de Medicina do Pantanal. Fiz um levantamento mostrando que das 79 cidades de Mato Grosso do Sul, apenas 10 cidades possuem mais de um médico para cada grupo de mil habitantes.

Há 69 cidades que estão abaixo dessa relação 1/1000, que é o mínimo exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMC). Quando comparamos a realidade de cada uma dessas cidades com a de outros países, existe um padrão africano na oferta de médicos no interior de MS. Miranda, por exemplo, tem 26 mil habitantes e 7 médicos cadastrados no total.

Eu sei que muitos médicos atendem mais de um município, contudo, a estatística é uma realidade diante do cadastro oficial. Em Campo Grande não há esse problema e ela está acima de 2 médicos para cada grupo de mil, mais do que a média nacional.

A questão na Capital é o SUS (Sistema Único de Saúde), pois não possui um plano de cargos e salários que vão manter os profissionais atuando na esfera pública da saúde. É um problema de gestão e alocação dos profissionais. No interior, o problema é de falta mesmo, não existem profissionais residentes nessas cidades.

Fiz uma conta: considerando a expansão das vagas atuais, já com a criação da faculdade de medicina da UEMS em Campo Grande, a expansão das vagas UFMS, na UFGD e da UFMS em Três Lagoas, só vamos atingir a relação de 1/1000 nas cidades do interior de MS daqui a 30 anos.

O ritmo atual de abastecimento de novos profissionais nas menores cidades de MS é muito baixo. Nós precisamos de um novo curso de medicina no interior do estado, pois acredito que se o aumento das vagas acontecer apenas na Capital, os profissionais formados tenderão a permanecer aqui e não irá resolver o problema da saúde no interior. 

TopMídia News - Nesse projeto, já decidiram qual cidade receberia a Faculdade de Medicina do Pantanal?


Pedro Pedrossian Neto - Definitivamente nas cidades próximas ao pantanal. É uma decisão mais ampla, pois envolve a sociedade como um todo. Deverá acontecer uma audiência das várias cidades, ver a disposição e a capacidade de abrigar esse novo curso.

O pantanal é o símbolo do estado, contudo, é o local mais carente de médicos e a mais pobre de MS. A realidade é de muita pobreza e estagnação, para a surpresa de muitos.

A ideia é ser uma cidade pequena, preferencialmente menor do que 50 mil habitantes para que o profissional que esteja ali formado já se acostume com a vida do interior. Pode ser Miranda, Aquidauana, Anastácio, ainda não sabemos.

TopMídia News  - A estratégia desse projeto é que o novo profissional crie raízes nessas cidades do interior?


Pedro Pedrossian Neto - Exatamente. Com a criação do SISU (Sistema de Seleção Unificada) houve uma mudança do perfil dos alunos da UFMS. Mais de 70% dos alunos são de fora do estado. O acadêmico se forma aqui e volta para as cidades de onde vieram. Isso acaba se tornando um problema por conta dessa evasão de novos profissionais.

Se a gente tivesse uma reserva de vagas para nascidos em MS (cerca de 25 ou 30% das vagas) acredito que seria positivo, pois é uma ação afirmativa contra uma realidade que está nos prejudicando. 

 

TopMídia News - Como economista, você acredita que a oferta das vagas de medicina em universidades particulares interfere no custo da saúde para a população da Capital?


Pedro Pedrossian Neto - Nos últimos anos, houve uma expansão dos cursos de medicina na iniciativa privada, uma realidade do Brasil. Em contrapartida, a expansão das públicas sempre teve um orçamento muito contido e expandiu pouco.

Como aumentou o número de vagas na rede privada e são cursos caríssimos, custando 5 ou 6 mil reais por mês ele, o recém formado sai da universidade com um investimento feito ou pelo pai ou pelo FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) com uma dívida de centenas de milhares de reais. Será possível que esses profissionais não vai para o interior ou SUS? Ele está desenhado para ficar nos grandes centros. O ensino não é público. É uma lógica mercantil do processo.

Daí surge a ideia injusta de que o médico só pensam em ganhar dinheiro. O profissional precisa pagar essa conta e ele não pode se dar ao luxo de ganhar pouco. A gente precisa mudar essa realidade, ter mais universidades públicas a serviço da população e com reserva de vagas para os alunos provenientes do Mato Grosso do Sul.

Como ação emergencial, o programa "Mais Médicos" é legítimo, o povo não pode esperar. Como ação pública e estrutural, é complicado.

TopMídia News - Produtores rurais versus indígenas. A questão é mais social, política, de defesa da propriedade privada, como você se posiciona a respeito do assunto mais polêmico do momento em MS?


Pedro Pedrossian Neto - É lamentável que nós tenhamos chegado a esse ponto por absoluta negligência do Governo federal. O Governo estadual quer resolver a situação, mas efetivamente o problema só pode ser tratado constitucionalmente e legalmente pelo Governo federal. Então a caneta está com eles.

Em primeiro lugar, eu entendo que existe sim uma divida histórica da sociedade brasileira com as nações indígenas. Basta ser minimamente informado e conhecer os livros de história para ver que o projeto da colonização portuguesa foi um projeto extremamente violento, que exterminou um genocídio das populações indígenas desde os idos de 1500 até o final da monarquia no Brasil.

Dito isso, a dívida é do Brasil. O país precisa reconhecer a situação de cada uma dessas etnias, dar conforto e proporcionar um espaço para aqueles que querem continuar mantendo suas tradições. Agora, a dívida é da União, não é dos produtores rurais que hoje estão com suas propriedades invadidas.

Basta fazer uma análise técnica responsável dos títulos de cada propriedade invadida para constatar que a imensa e esmagadora maioria comprou as terras de boa fé. Espero que o Governo federal intervenha de forma justa a fim de solucionar essa questão o mais rápido possível.

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