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Entrevistas

Após notícia ruim, família se dedica e ajuda Beto a ser ‘um super-homem’

Roberto nasceu com falta de oxigenação no cérebro e, segundo os médicos, não seria capaz de andar e falar

19 fevereiro 2018 - 08h54Por Dany Nascimento

Quem olha o sorriso tímido de Roberto Bitencourt Brandão, 42 anos, um homem de quase 1,90m, com mentalidade e coração de uma criança de seis anos, não imagina que uma das primeiras notícias dadas pela equipe médica à família Bitencourt Brandão era de que o menino não tinha chances de se desenvolver.

“Seu filho não vai andar, nem falar. Foi isso que ouvi do médico quando ele nasceu, que eu me desse por satisfeita se ele ficasse sentadinho para ver televisão”, relembra a mãe Eclair Bitencourt Brandão.

Mas a fé e a vontade de ver o filho se desenvolver tomou conta do coração daquela mãe e do pai, Jairo Caldas Brandão, 66 anos, que buscaram ajuda de especialistas. “Ele passou por fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicóloga, e até musicoterapia.  Quando nasceu minha segunda filha, ele cresceu com ela, o que ajudou muito no desenvolvimento dele. Hoje ele estuda na Pestalozzi e graças a Deus se desenvolveu muito”.

Roberto foi o nome escolhido pela mãe, que é apaixonada pelo cantor Roberto Carlos. Hoje, mãe e filho cantam e dançam juntos as músicas do artista, já que Beto, xará de Roberto Carlos, também se tornou um grande fã e sabe de cor diversas letras do rei. 

Confira a entrevista completa:

TopMídiaNews: Como foi a gestação do Beto?

Eclair Bitencourt: Eu engravidei três vezes. O Roberto foi o primeiro, com uma gravidez tranquila, sem nenhum problema. Na época, nós não tínhamos carro, eu andava de ônibus, ia à praia porque na época ainda morávamos no Rio de Janeiro, passeava bastante. Fazia os exames conforme solicitado pelo médico. Mas nos dois últimos meses, troquei de médico, pois esse era conhecido de familiares. Pelas minhas contas, ele ia nascer no final de setembro ou começo de outubro.

TopMídiaNews: O parto foi normal ou cesariana?

Eclair Bitencourt: Em uma das consultas, na véspera, eu fui em uma exposição de animais à noite e tomei leite fresco, coisa que amo.  Chegando na clínica, o médico me examinou e disse que o bebê já estava coroando e, naquele tempo, não tínhamos nada para consultar, livros eram raros. O médico disse que tinha que fazer uma cesariana, pois eu não tinha passagem.

Fui para dentro da clínica, coloquei um roupão e meu marido e sogra foram pegar roupas para mim e o bebê. Eu fui para uma sala toda iluminada, fiquei deitada com dois médicos do lado. Um deles me perguntou o que eu estava sentindo, eu disse: 'tirando a barriga enorme, não estou sentindo nada'.  Ele me perguntou quem autorizou minha cesária, eu respondi o doutor Mário. Foi quando os dois se olharam e ficaram quietos. O doutor Mário era o dono da clínica.

TopMídiaNews: Qual foi o primeiro contato com seu filho?

Eclair Bitencourt: Depois do parto, levaram o bebê no quarto, ele parecia escuro. Achei estranho. No primeiro banho dele, fui junto, e vi que tinha muitos quartos ocupados, mas bebê só o meu e não tinha um lugar adequado para o banho, foi numa banheira. Ele não mamava direito, não tinha força.

Três dias depois saímos dali, e fomos em um pediatra, que disse que meu filho era prematuro. Com dois meses, ele foi internado porque vomitava todo o leite. Ele ficou internado e não me deixaram ficar com ele. Quando ele saiu, tinha que dar um leite de meia em meia hora, uma colherinha, foi muito difícil.  Tudo com ele era lento.

TopMídiaNews: Quando recebeu a notícia de que seu bebê não teria chances de se desenvolver normalmente?

Eclair Bitencourt: Quando ele tinha 2 anos levamos em um médico que era especialista em prematuros. Esse médico examinou por alto meu filho, quase não colocou as mãos nele e disse para eu sentar, eu falei que estava bem de pé. Falou para eu ficar calma, mas que meu filho não ia andar, nem falar. Que eu me desse por satisfeita se ele ficasse sentadinho para ver TV. Eu respondi que ele não era Deus para me dizer aquilo, nem o único médico na terra. Falei que eu ia sair dali e procurar outros para me ajudar. E saí dali bem devagar e nunca parei de acreditar que seria diferente do que aquilo que escutei.

TopMídiaNews: Como foi o processo de desenvolvimento do Roberto?

Eclair Bitencourt: Quando ele estava com 4 anos, fomos em outro médico, que me disse que ele ia andar e falar, mas que eu tinha que escolher entre eu e ele, pois o trabalho seria grande. A partir desse momento, me concentrei só nele. Era médico todo dia, fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicóloga,  e até musicoterapia. Mas quando nasceu minha segunda filha, Claudia, ele cresceu com ela. Na época ganhei todos os LPs, discos do cantor Roberto Carlos, que eu admiro muito e o Roberto ficou apaixonado pelas músicas. Sempre pedia com as mãos para ouvir as músicas do Rei. Ele chegou a aprender a colocar o disco na vitrola, e colocava a agulha, arranhou vários. Uma  vez eu disse que queria ouvir a música “A Baleia”,  ele foi rápido, do jeito dele e pegou no meio de vários discos, o que eu queria. Ele colocou a agulha em cima da música certa e começou a tocar. Ficou todo feliz com a minha reação de alegria.

TopMídiaNews: Como os médicos reagiram ao tomar conhecimento de que a criança que não andaria estava se desenvolvendo?

Eclair Bitencourt: Eu contei isso para os médicos que cuidavam dele e todos não conseguiram entender como ele fazia isso. Ele não sabe ler nem escrever.  Até hoje ele é um apaixonado pelo Roberto Carlos, tem todos os discos e DVD.  Hoje ele ama muito Almir Sater, Chitãozinho e Xororó,  Daniel,  Sandy e Junior, André Rieu, músicas clássicas, óperas. O Michel Teló ele só reconhece no Grupo Tradição. Ama Michael Jackson, Fábio Júnior, adora Beatles, Djavan, Chico Buarque.

Ele é muito organizado com as coisas dele. Se alguém pergunta o dia de Natal por exemplo, ele não sabe dizer, mas o dia do aniversário ele sabe direito e fala com orgulho ‘1º de setembro’. Ele é um adulto com a mente de 6 anos e com um coração enorme, recheado de carinho. 


 


Beto com a irmã  Karine, que se fantasiou de Homem Aranha para fazer surpresa ao irmão no aniversário de 42 anos