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Entrevistas

Vencedor do ‘Oscar Verde’, francês quer mapear tatu-canastra em MS

25 setembro 2015 - 08h22Por Amanda Amaral

Francês radicado em Campo Grande, Arnaud Desbiez é coordenador do projeto ‘Tatu Canastra’, projeto que recebeu o reconhecimento de um dos maiores prêmios de conservação ambiental, o Whitley Award, realizado em Londres. Considerado o ‘Oscar Verde’, o disputado prêmio foi entregue pela princesa Anne, da Inglaterra, e concedeu o recurso de 35 mil libras esterlinas (equivalentes a R$ 160 mil), através do Fundo Whitley pela Natureza (Whitley Fund for Nature – WFN), para ajudar a financiar a expansão da pesquisa da espécie, que além do Pantanal passa a acontecer na região do cerrado sul-matogrossense.

Em entrevista ao Top Mídia News, Desbiez e sua equipe contam sobre o importante trabalho realizado no Estado, as características do animal, pouco conhecido no mundo, e pedem também o auxilio da população para ajudar a encontrar esse animal, que raramente é visto.

Foto: Arquivo Pessoal 

TopMídia News: Como começou o projeto?

O projeto começou em 2010, não havia muita informação sobre essa espécie. Começamos na Baía das Pedras, uma fazenda privada de ecoturismo na nhecolândia, no Pantanal, desenvolvendo o estudo ecológico. O projeto começou comigo e com o Danilo Kluyber, chegou depois o Gabriel Massocato, e a gente foi expandindo. Agora estamos começando a agregar para o cerrado, em outros lugares do estado.

TopMídia News: Dentre as milhares de espécies de animais no Mato Grosso do Sul, por que decidiram estudar o tatu-canastra?

Na verdade, existem 21 espécies de tatu. No Brasil, a gente tem 10 dessas espécies, e o tatu-canastra é o maior de todos eles. Ele mede até 1 metro e 50 centímetros, pode pesar até 50 kg, é um gigante, mas totalmente desconhecido. Poucas pessoas sabem que ele existe, tem poucas informações sobre ele. Para dar um exemplo sobre isso, a dona da fazenda onde a gente trabalha foi criada e mora lá desde então, mas nunca tinha visto o animal antes da gente iniciar a pesquisa. É um animal muito raro, muito difícil de ver, é como se estivéssemos estudando uma agulha no palheiro.

TopMídia News: É um animal que corre algum risco de extinção?

Ele é classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como uma espécie vulnerável a extinção. Das 10 espécies do Brasil, duas tem essa classificação, um deles é o tatu canastra.

Foto: Arquivo Pessoal 

TopMídia News: O que já conseguiram conquistar nestes cinco anos de projeto?

Nós pudemos aprender muito, fazer muitas descobertas, sobre a área de vida, que é de mais de 20 quilômetros quadrados, como eles se comunicam entre eles, a densidade. O mais interessante foi descrever o papel importante que eles têm como os engenheiros do sistema, porque todo dia eles cavam uma toca, de cinco metros de profundidade, ficam dormindo durante o dia, saem pela noite. Essas tocas, a gente documentou que mais de 30 espécies utilizam, então a gente fala que o tatu canastra dá casa a esses outros animais, como um verdadeiro engenheiro do ecossistema. Isso é importante porque essas tocas são usadas por outros bichos, entre eles a jaguatirica, cotia, tamanduá mirim, como refúgio térmico, lugares onde podem escapar de predadores, tem a temperatura constante de 24ºC.

Através da mídia, o bicho está ficando mais conhecido e celebrado, nós inclusive fizemos uma parceria com a Sociedade dos Zoos e Aquários Brasileiros, isso nos ajudou muito. Em 25 zoológicos eles fizeram o ‘ano do tatu’, com um monte de material educativo celebrando a importância dos tatus no Brasil.

TopMídia News:  Como receberam a notícia da premiação Whitley e o que este reconhecimento representa para o projeto?

A gente ficou extremamente feliz com o prêmio, acho que consagrou o trabalho de uma equipe que há quase cinco anos está trabalhando junto. É um trabalho onde ficamos muito isolados no campo, demanda muito esforço, então, receber esse prêmio mostrou também que estamos indo no caminho certo, ficamos extremamente honrados e felizes. Queremos muito agradecer as pessoas que nos ajudaram, em particular os donos da fazenda Baía das Pedras, eles abriram a fazenda deles pra deixar a gente trabalhar, sempre deram muito apoio e suporte, quando o projeto não era nada.

TopMídia News:  Como se deu sua vinda e permanência no Brasil?

Eu vim pra cá em 2002, fui fazer um trabalho com a Embrapa Pantanal, um projeto sobre pecarídeos, como a queixada e o porco monteiro. Comecei morando em Corumbá, morei lá por sete anos. Acabei ficando, me casei (com a bióloga especialista em antas, Patrícia Medici) tenho filhos e a minha vida é aqui. Moro em Campo Grande, mas revezamos muito quem fica em casa e sai para o campo.

O Projeto no Cerrado

Integrantes do ‘Tatu-Canastra’ e responsáveis pela expansão do projeto no Cerrado, os biólogos Gabriel Massocato e Bruna Oliveira explicam como será realizado o trabalho da equipe, que começou a mapear a região de Campo Grande há quinze dias.

Foto: André de Abreu 

TopMídia News:  Como será a metodologia dessa pesquisa nessa nova fase?

Bruna Oliveira: Começamos o projeto piloto em Campo Grande há 15 duas semanas, depois vamos expandir pro Mato Grosso do Sul inteiro. Primeiro a gente selecionou áreas em 30 microbacias de tamanhos semelhantes, com diferentes proporções de cobertura vegetal.

Nós queremos fazer um mapa de distribuição da espécie pro cerrado sul-matogrossense, porque não se sabe exatamente os lugares em que isso ocorre. Além disso, estamos analisando como que as pessoas enxergam o tatu canastra, nós conversamos com as pessoas, perguntamos sobre algumas lendas que existem por aí, de que o animal traz má-sorte, por exemplo.

Gabriel Massocato: Nesse tempo, já conseguimos levantas essas informações, elaboramos um folder (abaixo) que nos auxilia na identificação na propriedade, mostra os vestígios que o animal deixa, seja um rastro, a marca do rabo, um cupinzeiro que ele pode se alimentar do cupim, maneiras de a gente checar se tem ou não o tatu. Daqui alguns meses já vamos ter um mapa do município de Campo Grande. É um projeto de vida, a longo prazo, pretendemos seguir como carreira mesmo.

As pessoas tem ajudado?

Gabriel Massocato: Muito, nós estamos surpresos com o apoio que estão dando, estão nos recebendo muito bem e em muitos lugares as pessoas já conhecem os sinais, mas nunca conseguiram ver o animal, isso nos ajuda bastante porque a própria pessoa acaba nos levando até o local, facilitando muito o serviço.

Como começaram a se envolver com a espécie e o projeto?


Gabriel Massocato: Eu estou no projeto faz três anos e meio, já morava no Mato Grosso do Sul, mas sou de Ribeirão Preto. Trabalhava no pantanal com turismo, mas queria trabalhar mais diretamente com a causa animal. Foi então que fiz um estágio no projeto, durante quinze dias, me identifiquei bastante com o animal, com as pessoas, com a causa e fui me envolvendo cada vez mais.

Bruna Oliveira: Já conhecia o projeto de acompanhar pela internet, pelas redes sociais, já gostava pra caramba. Sempre tive vontade de trabalhar em projetos de conservação, mas nunca tinha tido a oportunidade de participar. Me formei em bacharelado de biologia em 2012 e logo depois em licenciatura, e estava me encaminhando para um programa de pós-graduação. Aí fiquei sabendo que o projeto precisava de uma pessoa pra fazer essa expansão pro cerrado e deu certo de entrar.

Se alguém vir algum sinal do tatu-canastra, entre os exemplos no folder disponível na galeria abaixo, pode entrar em contato pelo e-mail tatucanastra.ms@gmail.com. Para saber mais sobre o projeto, acesse os sites http://giantarmadillo.org.br ou http://vivatatu.com.br.