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Juros altos limitam expansão da estocagem de grãos no Brasil

22 julho 2016 - 13h30Por Fonte: Revista Globo Rural

A falta de planejamento na formação de estoques internos é uma das principais razões que levaram à alta nos preços de produtos como soja, milho, arroz e feijão no Brasil. A avaliação é do economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, para quem tanto o setor público quanto o privado tem sua parcela de responsabilidade pela situação atual.

No entanto, ele pondera que a questão não está associada somente à infraestrutura de armazenagem ou à situação das safras agrícolas produzidas e comercializadas anualmente. Para ele, há também um fator financeiro: os juros. O custo de capital para formar e carregar estoques fica mais alto para as empresas e o próprio governo com as taxas nos atuais níveis.

Usando a lógica do custo de oportunidade, Silveira explica que, quando as taxas estão altas é possível pesar esse custo com, por exemplo, a rentabilidade de uma aplicação financeira. “É um fator macroeconômico que desequilibra. Por que estocar produto agrícola com esse custo elevado quando tem um câmbio que estimula as exportações e juros que estimulam a fazer dinheiro e investir no mercado?”, questiona Silveira.

Nesta quarta-feira (20/7), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BC) manteve a taxa básica de juros da economia brasileira nos atuais 14,25% ao ano. Referência para as negociações de títulos públicos, a Selic é utilizada pelo governo para o controle da inflação. Sua elevação encarece o crédito, o que, em tese, desestimularia o consumo e conteria os preços. O efeito contrário ocorreria com redução da taxa.

No comunicado que justifica a decisão, o Copom destacou que há incertezas relacionadas à adoção das medidas necessárias para o ajuste da economia brasileira. Considerou também a persistência da alta dos preços. “A inflação acima do esperado no curto prazo, em boa medida decorrente de preços de alimentos, pode se mostrar persistente”, mencionava a nota.



Fábio Silveira reforça que o principal ponto de pressão sobre os índices de preços tem sido os alimentos, mas questiona a ideia de “baixar preços agrícolas com juros”. Para dele, seria preciso reduzir a Selic, melhorando, consequentemente, as condições de financiamento de estocagem, a exemplo de outros países.

 
 

“Tem que baixar juros para a estocagem ser mais atrativa. Nos Estados Unidos, é zero. Se, no Brasil, fossem de 2%, 3%, 4%, 5% ao ano, talvez fosse possível financiar isso. Mas os juros elevados são um aspirador contra a atratividade necessária para a formação de estoques”, diz ele.

Na tentativa de reduzir o déficit de armazenagem da produção agrícola brasileira, o governo federal lançou o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA). Mas, nos últimos anos, a linha de crédito passou por redução do volume de recursos disponíveis e aumento nas taxas de juros. (veja tabela)


Efeito agravado

Na visão de Fábio Silveira, os baixos estoques ajudaram a ampliar os efeitos sobre as cotações internas de uma alta nos preços internacionais de commodities agrícolas e da quebra de safra no Brasil. A safra 2015/2016, cujo calendário terminou oficialmente em junho, chegou a ser estimada em mais de 200 milhões de toneladas, mas foi revisada até chegar aos 189,2 milhões divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) neste mês.

O clima desfavorável causou forte quebra na produção de milho, que já vinha com estoques bastante reduzidos por causa da exportação recorde do ano passado, de quase 30 milhões de toneladas. De acordo com a Conab, a produção do cereal - somadas as duas safras anuais - deve ser de 69,141 milhões de toneladas no ciclo 2015/2016, 18,3% a menos que no anterior.

A produção de soja teve uma queda 1% na comparação com o ciclo 2014/2015, totalizando 95,306 milhões de toneladas nas estimativas deste mês divulgadas pela Conab. O governo chegou a prever 100 milhões de toneladas, em meio a um aumento de 3,5% na área plantada, para 33,22 milhões de hectares.

“O clima afetou principalmente a produção de milho, mas também a de soja. E a preferência por plantar culturas de exportação, como soja e milho, por causa do câmbio favorável, influenciou a produção de arroz e feijão”, resume Silveira.

As valorizações de soja e milho pressionaram os custos da indústria de aves e suínos. Com a perda de área e de produção, o feijão também teve um aumento expressivo, chegando a superar os R$ 400 a saca ao produtor e os R$ 15 o quilo no mercado varejista, tomando por base o praticado em São Paulo. Assim como o arroz, que superou os R$ 50 a saca de 60 quilos nas principais regiões produtoras.

“Os preços de alimentos estão sob pressão altista neste momento”, diz o consultor. Para ele, um alívio deve ficar mais evidente apenas no quarto trimestre, quando será percebida na ponta do consumidor uma desaceleração das cotações no atacado.

Esse movimento não impedirá, no entanto, que 2016 acumule alta nos alimentos. De acordo com Fábio Silveira, há uma “inércia” que fará somente o IPCA deste grupo avançar 15%, o dobro do que ele projeta para a inflação geral, de 7,5%, e acima da meta do governo (4,5%, podendo variar para 2,5% ou 6,5%).