Foi ao escolher uma escova de dentes que Bruna* (nome fictício), então com 5 anos, sinalizou à mãe, pela primeira vez, que não se identificava com seu gênero de nascimento. Ela queria o modelo da Moranguinho, e a mãe mandou procurar “uma de menino”. Bruna insistiu, sua mãe cedeu.
Até conseguir hoje, aos 8 anos, em uma decisão inédita da Justiça do Rio, o direito de mudar nome e gênero no registro de nascimento, Bruna passou por seguidas situações de preconceito e constrangimento.
— Foi difícil no início. Queria comprar roupa para ela, que queria um vestido para girar... Mas ele (o pai) não aceitava. E eu tinha medo de estar errando — lembra a mãe.
Na escola, foi pior: Bruna escrevia seu nome, a professora a mandava apagar. “Imagina o sofrimento”, lamenta sua mãe. Ela diz que não via nenhum esforço dos funcionários para entender a situação.
Depois de mobilizar dirigentes do colégio, do município e um advogado voluntário para uma reunião, a mãe de Bruna conseguiu que ela passasse a usar o banheiro feminino e ser chamada pelo nome que escolheu. Em poucos meses, a menina aprendeu a escrever.
— Tudo o que ela não desenvolveu antes, conseguiu. Foi dançar, cantar. Virou outra criança. Hoje a deixo na escola tranquila — comemora.