Há poucos dias da mudança para o Bairro Jardim Noroeste, previsto para terça (2) ou quarta-feira (3), conforme anunciado oficialmente, a população está confusa sobre o paradeiro dos moradores da favela da Cidade de Deus, localizada no Bairro Dom Antônio Barbosa, na saída para São Paulo. No Jardim Noroeste, há faixas com dizeres contra esta resolução da Prefeitura Municipal de Campo Grande. O local que muitos pensam que será o destino da favela encontra-se apenas com cavaletes e os próprios vizinhos não sabem se a região será o local escolhido.

Além do clima de hostilidade o que impera é a insegurança, na região. Na entrada do bairro é possível ver uma faixa com os seguintes dizeres : “Atenção Sr. Prefeito. Não passe a responsabilidade da favela Cidade de Deus para o Noroste. Não temos infraestrutura para antender 150 famílias”. “Sou contra essa mudança. Aqui no bairro não tem nem médicos e escolas para a gente, imagina para os de fora”, contou a atendente Sandra Silva, de 23 anos, que está apreensiva com a vinda dos novos vizinhos, na próxima semana.

Sem mencionar, que os próprios moradores da Cidade de Deus estão aflitos com essa transferência, porque muitas famílias tiram o sustento do lixão e estão com receio de serem hostilizados pelos moradores do Jardim Noroeste. Outro problema é que a conta não bate, enquanto a prefeitura diz que são 150 moradores, a comunidade alega que são 450 famílias que deveriam ser cadastradas e beneficiadas.

Conjunto Serra Ville

No terreno que muitos indicaram como o destino dos moradores fica no Conjunto Serra Ville, próximo ao Presídio de Segurança Máxima é possível ver o seguinte recado: “Não queremos favela aqui! Mudar a favela de lugar não resolve o problema”. O Policial Militar e morador do Serra Ville há oito anos, Carlos Augusto Russo, de 50 anos, está confuso com a mudança, porque disse que já viu alguns terrenos com faixas que seriam loteamentos para vendas. “Cada um fala uma coisa. Acho que está todo mundo com medo da vinda deles. Tem faixas espalhadas por tudo que é canto. Na verdade, ninguém sabe para aonde realmente eles vão”, disse.

No meio das reclamações, há quem se comova com a situação dos moradores da Cidade de Deus. “Eu tenho as minhas dúvidas. Sei que vem gente malandra, mas tem muita gente boa que está passando por necessidades, eles estão sem energia. Mas acho que a prefeitura deveria construir casa para eles, se não vai ficar a mesma coisa, a favela só vai mudar de lugar”, contou a dona de casa Alice Santana, de 24 anos. “Não sei se eles vem para a nossa região. Deixa que vem, a terra é para todo mundo”, diz Elio Lima, de 55 anos, que reside a mais de um ano no Conjunto Serra Ville.

Leon Denizarte Conte

A maioria dos moradores que vive em uma favela no conjunto residencial Leon Denizarte Conte, próximo ao lixão do Jardim Noroeste, se sente injustiçado pelo fato de priorizarem as pessoas de outras localidades. “Estou aqui há um mês, mas neste pouco tempo vi o sofrimento desse povo. O prefeito (Gilmar Olarte PP) só está acumulando problemas, porque já prometeu nos tirar daqui e ainda eles vão trazer mais gente. É vestir em um Santo para descobrir outro”, contou a pintora, Marinalva da Silva Verão, de 44 anos.

Em meio a tanta miséria, há as pessoas que se sentem solidárias. “Do mesmo jeito que nós aqui passamos por dificuldades, eles também precisam de ajuda. A situação do povo da Cidade de Deus é pior porque estão sem energia, temos que colaborar”, diz a dona de casa, Rosilene Rodrigues, de 40 anos. Ela conta que foi morar nessa favela do Jardim Noroeste há dois meses, porque não deu conta de pagar o aluguel.