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Interior

há 2 anos

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Índios de Dourados denunciam que agrotóxico está sendo usado como arma química

Situação teve repercussão nacional e em 2019 três crianças precisaram ser hospitalizadas após avião despejar veneno em escola indígena

Indígenas de Dourados denunciam há mais de três anos que aviões com agrotóxicos estão sendo despejados em suas aldeias, causando impactos extremamente negativos aos moradores e ao meio ambiente. 

A situação até chamada de "guerra contra os índios com uso de armas químicas" foi divulgada em matéria especial do UOL. Conforme o portal, as plantações de soja, e fazendas ao redor das aldeias do município estariam provocando malefícios a saúde dos indígenas por conta do despejo desenfreado de toxinas em suas ocas e territórios. 

"Eram 4h da manhã, ainda estava escuro, e meu avô achou que estava chovendo, pelo barulho das gotas batendo no teto de lona. Quando saiu, sentiu o cheiro bem fedido e percebeu que era agrotóxico", conta Erileide Domingues, liderança da aldeia Guyraroká, no município de Caarapó.

"A gente vive no meio do veneno. Respira, come, bebe e veste o veneno que eles jogam."

A pulverização noturna com aviões é mais um capítulo da conflituosa relação dos guaranis-kaiowás com seus vizinhos fazendeiros. Os casos são tão frequentes e sistemáticos em Mato Grosso do Sul que foram definidos como "agressões químicas" pelo procurador Marco Antônio Delfino, do Ministério Público Federal, que leva à frente várias denúncias.

"É como uma guerra. Eles começaram com tiros para intimidar e tratores empurrando nossas ocas. Depois passaram a atacar a gente com veneno, que é uma arma que mata aos poucos. Eles querem correr com a gente daqui, mas nós vamos resistir", afirma Ezequiel João, liderança no assentamento Guyra Kambi'y, em Douradina.

Segundo a legislação, os aviões pulverizadores só podem voar a mais de 500 metros de distância de áreas habitadas. Não é o que se vê em vários flagrantes gravados por celulares dos rasantes e sobrevoos em terras indígenas na região.

Crianças passaram mal 

Segundo o site, a  escola na aldeia Guyraroká foi inaugurada em abril de 2019. No mês seguinte, o colégio já virava notícia: uma nuvem de calcário e agrotóxico fez quatro crianças e dois adolescentes serem hospitalizados. Eles tinham dores no peito, estômago e cabeça, além de tosse seca, falta de ar, vômitos, diarreia e irritação cutânea.

A demarcação do território Guyraroká está no STF (Supremo Tribunal Federal), onde tramita desde 2014, entre decisões e recursos, esperando uma votação do plenário. Essa demora jurídica e as ofensivas dos fazendeiros fizeram a OEA (Organização dos Estados Americanos) inspecionar as condições de vida dessa população.

Pressão e indenização

Duas aldeias de Mato Grosso do Sul conseguiram indenização depois de comprovarem nos tribunais o ataque com agrotóxico. A primeira delas foi a comunidade Tey Jusu, no município de Caarapó. Uma professora filmou em 2015 os rasantes do avião agrícola sobre a oca que serve de escola, lançando uma chuva tóxica sobre 70 moradores dali.

Na decisão judicial de 2019, o fazendeiro Francesco Canepelle, a empresa C-Vale e o piloto responsável pela pulverização foram condenados a pagar uma indenização de R$ 150 mil, a ser aplicada na educação e saúde dos indígenas.

"Minha comunidade também pediu indenização em 2015, mas não saiu até agora. Nossas roças de mandioca e abóbora ficaram escuras e morreram. Os poços e os animais também se contaminaram. Mas eles queriam outras provas. Precisa mais que isso? Tem muito filho de fazendeiro que é advogado, juiz e político. Então, as autoridades não olham muito para o lado dos índios", reclama Ezequiel João. "Por isso a gente batalha. A Justiça é que nem feijão: precisa de pressão."

Sem caça

Ezequiel João, liderança da aldeia Guyra Kambi`y, em Douradina (MS), fala da pressão que indígenas sofrem dos vizinhos fazendeiros.

Perto dali, José Aquino conta que as casas do assentamento Itay Ka'aguyrusu tiveram de mudar de lugar porque a plantação de soja avançou na direção delas. "Recuamos uns 100 metros pra dentro da mata no nosso tekohá [território, em guarani], porque desse jeito a gente não ia sobreviver. Era muito trator pulverizando ali."

Aquino diz que a caça também foi prejudicada. "Antes a gente pegava tatu, cutia e capivara no que sobrou de floresta. Agora está difícil encontrar, e a gente ainda fica com medo que o animal silvestre esteja contaminado."

A Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul) afirmou à reportagem do TAB que difunde cursos de boas práticas e prevenção de acidentes na aplicação de defensivos agrícolas a produtores e trabalhadores do campo em todo o Estado e que acompanha as denúncias de mau uso na Justiça e aguarda o desfecho dos processos.

Enquanto isso, os guarani-kaiowá oram cantando diante da casa de reza. Pedem chuva, demarcação e alimento para Nhanderu, o Deus criador do mundo. 

Veja a reportagem completa clicando aqui. 

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