Cidades

10/07/2020 12:34

Pandemia potencializou crise e mais pobres do país são os mais afetados, garantem especialistas

População em situação de pobreza ou extrema pobreza é a mais exposta ao vírus

10/07/2020 às 12:34 | Atualizado 10/07/2020 às 11:41 Nathalia Pelzl
Divulgação

O cenário de pandemia potencializou problemas sociais e econômicos em locais onde o problema já é existente, como a América Latina.

Em debate virtual na décima edição da série de webinários, População e Desenvolvimento em Debate, promovido pelo Fundo de População da ONU no Brasil (UNFPA) e Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), especialistas concluíram que as populações mais pobres são as mais afetadas pela crise.

O sociólogo e pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole da USP, Rogério Barbosa, acredita que a pandemia e a má recuperação do mercado de trabalho desde 2015, especialmente para as camadas mais pobres da população, no médio e longo prazos agravam as desigualdades no Brasil.

“Quando vemos a pobreza caindo [durante a pandemia da Covid-19], significa que a pobreza monetária está caindo e não necessariamente as condições de vida da população estão melhorando. Quando este programa [Auxílio Emergencial] for desligado, certamente esses índices irão subir, pelo menos para 28% da população”, explica Rogério Barbosa.

Paulo Saad, diretor do Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografía (CEPAL/CELADE), no que lhe concerne, traz o contexto de toda a América Latina e Caribe.

De acordo com Saad, a população que vive em situação de pobreza ou extrema pobreza vem crescendo nos últimos anos e existe uma desaceleração nas políticas de redução da desigualdade na região.

“As comunidades pobres não só estão muito mais expostas ao contágio, mas quando pegam o vírus, possuem muito menos recursos para a devida atenção ao tratamento. Além disso, os pacotes de apoio estatal geralmente encontram muito mais dificuldade para alcançar estas comunidades, incrementando a dificuldade dos moradores em manter o confinamento”.

“As cidades na América Latina e Caribe são caracterizadas pela segregação e pela urbanização informal, onde há superlotação e acesso limitado a água e saneamento básico, que amplificam o risco de propagação nessa áreas mais pobres”, conclui o Saad.

“A pandemia escancarou as enormes desigualdades sociais no Brasil pela primeira vez”, refletiu, Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho Administrativo do Magazine Luiza.

Luiza acredita que existe a necessidade da realização de novas reflexões e atitudes, tanto da pessoa física quanto das empresas, para amenizar os impactos nas populações mais vulneráveis diante desta nova realidade.

A convidada também compartilhou as ações que têm promovido, como a criação do projeto Parceiro Magalu para aqueles que estão desempregados, a ampliação de campanhas de violência contra a mulher, e, com o Estudo do Desenvolvimento do Varejo, tem tido contato com os secretários do Ministério da Economia para o auxílio na criação das medidas.

Trajano relata que percebeu que o que chamou de cultura da doação também cresceu com a grande exposição das desigualdades sociais que a pandemia da Covid-19 trouxe, e pontua que empresas estão agindo para auxiliar as populações mais vulneráveis.

Os e os palestrantes convidados para o debate foram: Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza; Rogério Barbosa, sociólogo, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole da USP; e Paulo Saad, diretor do Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografía (CEPAL/CELADE). A mediação do webinário foi realizada por Astrid Bant, representante do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil.