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09/04/2021 13:18

Cabelo caiu, menstruação mudou: sequelas pós-covid que mais afetam mulheres

Abaixo, três mulheres relatam como as sequelas que surgiram no pós-covid

09/04/2021 às 13:18 | Atualizado 09/04/2021 às 10:43 Uol
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Tive covid-19 em dezembro de 2020 e acreditava que em 14 dias, período de isolamento obrigatório, o principal sintoma, a falta de fôlego, sumiria. Melhorou muito pouco e ainda tive que lidar com mais sequelas por um mês: refluxo, sinusite, sudorese noturna de encharcar o travesseiro e crises severas de ansiedade.

Entrei em um grupo de Facebook onde pessoas relatam sintomas pós-covid e me deparei com outros casos que acometiam, principalmente, mulheres. Além dos mais óbvios e noticiados, como falta de ar e depressão, várias perguntavam quem mais teve queda de cabelo, alteração no ciclo menstrual e até incontinência urinária.

Um estudo liderado por pesquisadores da universidade King´s College, de Londres, divulgado em dezembro, mostra que mulheres são mais afetadas do que homens pelos efeitos da chamada "covid longa", quando problemas prevalecem mesmo após o fim da doença em si. Idosos e obesos também fazem parte desse grupo.
Abaixo, três mulheres relatam como as sequelas que surgiram no pós-covid afetaram suas vidas:

"Chorei no banho com medo de ficar careca"

"Comecei a perceber queda de cabelo em março deste ano, pouco mais de três meses depois de ter sido infectada, em dezembro de 2020. O médico tinha me alertado que poderia ter alguns sintomas persistentes, incluindo queda de fios. Mas não imaginava que pudesse ser tanto.

Um dia fui lavar o cabelo normalmente e começou a cair tufos. Fiquei desesperada porque meu cabelo nunca tinha caído assim. Chorei muito durante o banho, aquilo me deixou bem assustada. Depois disso, cheguei a evitar lavar o cabelo com só para não ver ele caindo todo no ralo. A possibilidade de ficar careca afetou muito minha autoestima.

Comecei um tratamento com vitaminas, passei a usar produtos específicos para queda capilar e tomo mais cuidado com a alimentação. Estou mais tranquila porque já senti uma melhora.

Também senti muito cansaço e falta de ar no pós-covid, o que me deixou bem preocupada, mas aos poucos fui me recuperando. A queda de cabelo foi o que mais me incomodou, porque até então, além do médico, não via mais ninguém falando disso."

Amanda Câmara da Silva, 28, podóloga

"Tive covid na gestação e desenvolvi síndrome do pânico"

"Era junho de 2020 e eu estava com seis meses de gestação quando meu resultado deu positivo para covid. Tosse, falta de ar, dor de cabeça foram alguns dos sintomas que permanecem até hoje. Depois de um mês da doença, um novo problema apareceu.

Comecei a ter palpitações, vertigens e suor excessivo. Achava que era pressão baixa, mas aí eu ia medir e estava sempre normal. Então começava a ter medo, de desmaiar, de morrer. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser nesse mal-estar.

Falei várias vezes sobre isso com meus médicos. Dizia que não estava bem, que não dormia à noite, quando as crises vinham. Eles achavam que era medo por causa da gravidez, nunca mencionaram ser sequela da covid. Após uns dois meses de insistência, me encaminharam para um psicólogo e um psiquiatra e fui diagnosticada com ansiedade e síndrome do pânico.

Sinto que meu quadro piorou por estar grávida. Tinha muito medo de morrer, do meu filho não resistir, até porque meu sonho era ter esse bebê, por mais que já tenha dois filhos. Iniciei tratamento com antidepressivos ainda grávida e, agora, depois de dar à luz, continuo com a medicação.

Tem dias que acordo como se os sintomas estivessem voltando, parece que o vírus ainda está a aqui. Isso atrapalha um pouco meu dia a dia, no meu lar, na minha vida a dois e com meus filhos. Sinto que me irrito muito facilmente com tudo e eu não era assim.

Descobri que essa doença não é fácil mesmo em casos em que a pessoa não chega a ser internada, como o meu. E que ela deixa muitas sequelas, não é coisa da nossa cabeça, como muitos dizem. Hoje estou melhor e espero ficar 100%."

Kelly Cristina Rodrigues Gomes, 35, designer de sobrancelhas

"Meu ciclo menstrual foi alterado e tive incontinência urinária após internação"

"Tive várias sequelas após a doença. Enfrentei perda de memória, diarréia, arritmia cardíaca e transtorno de ansiedade. Vejo que os médicos ainda estão sendo pegos de surpresa com o que apresentamos depois da covid.

Outro problema que ainda persiste é a alteração no meu ciclo menstrual. Minha menstruação sempre foi regrada. No mês que tive covid, em janeiro deste ano, não desceu.

No mês seguinte, veio muito leve e, no ciclo mais recente, menstruei três vezes e com muita cólica.

Cheguei a falar com minha ginecologista, ela ainda não estava muito antenada nesse assunto. Então só estamos acompanhando. Também estou tratando uma incontinência urinária, que já melhorou bastante.

A médica associou a incontinência com a internação. Fiquei cinco dias no hospital respirando com ajuda de oxigênio. Lembro que na minha alta precisei sair de fralda. Passei muito tempo deitada, tomei muita medicação e tossia bastante. Segundo ela, pode ter sido por isso tudo.

Durante a covid, tive 50% de comprometimento do pulmão, tosse com sangue, dor no peito, nas costas, dor muscular, febre e cansaço. Não existe mais grupo de risco. Tenho 25 anos, sem comorbidades. A doença se agravou muito rápido e tive todos esses problemas depois. Percebi que todos nós estamos sujeitos a passar por isso, mas o país não tem estrutura para dar tratamento adequado a todos.
Talita Silvério, 25, maquiadora

O que dizem as especialistas

A tricologista Viviane Coutinho, que se dedica ao cuidado do couro cabelo, cabelo e pelos, afirma que qualquer infecção no corpo pode gerar uma alteração no ciclo capilar.

Como o processo infeccioso desencadeado pelo coronavírus pode ser severo, os fios tendem a cair em grande quantidade. "Apesar de ser uma queda assustadora, conforme o corpo se recupera, eles voltam a crescer normalmente. O ideal é manter hábitos saudáveis para contribuir com o organismo no geral", diz.

A psiquiatra Danielle H. Admoni explica que há uma relação direta entre a covid-19 e transtornos psíquicos após a doença. "Muitos pacientes que tiveram a doença de maneira sintomática acabam evoluindo, de um a três meses depois, para um quadro de ansiedade", diz. "Vemos que também evolui para sintomas neuropsiquiátricos, como dificuldade de memória." Outras questões também podem ser fatores agravantes de estresse, como uma gravidez. "Imagina a mãe que teve covid na gestação, o medo que sentiu pensando que passaria para o feto?"

A ginecologista e obstetra Roberta Grabert diz que não há indícios de impacto direto da covid-19 sobre o ciclo menstrual, mas o estresse causado pela doença podem alterá-lo, uma condição que, inclusive, tem sido recorrente. "Se o caso for grave, pode haver também alguma alteração na coagulação sanguínea, o que aumentaria o fluxo", afirma.