27/06/2022 19:00
Maioria da bancada feminina de MS silencia sobre estupro e violência de Klara Castanho
Temas de repercussão nacional impactam mulheres também em Mato Grosso do Sul; atriz teve intimidade violada e menina de 11 anos teve aborto negado
Mulheres que representam Mato Grosso do Sul na política evitam emitir opiniões sobre os dois casos de estupros de repercussão nacional, com desfechos diferentes e julgamentos no tribunal da internet.
Ambas vítimas de estupro - a menina de 11 anos que teve aborto negado, e a atriz Klara Castanho, que entregou a criança a adoção - tiveram o mesmo pano de fundo: independente da escolha da vítima, o machismo estrutural sempre as tem como alvos. Ainda não é aceito que as mulheres sejam donas de seus corpos.
Em buscas nas redes sociais da senadora Simone Tebet (MDB) não foi encontrado posicionamento sobre o tema. Nos perfis da pré-candidata a governadora de MS, deputada Rose Modesto (União), também nenhuma declaração.
Apenas a senadora Soraya Thronicke (União) respondeu aos questionamentos da reportagem. Ela destaca que "o caso de exposição de algo tão triste e íntimo como o da atriz Klara Castanho é o claro exemplo do que não devemos normalizar. Além da violência abominável que ela sofreu, ter ainda que lidar com tantos “juízes de plantão” e tanta exposição é cruel".
"É preciso lembrar que a LEI GARANTE à mulher o direito de doar a criança, seguindo os trâmites corretos, independente inclusive de ser fruto de um abuso. Se todos respeitassem a lei, não estaríamos discutindo a escolha privada de uma mulher. Ela não fez nada de errado. Errado mesmo é o que estão fazendo com a Klara", destacou.
Já sobre o estupro da menina de 11 anos, Soraya ressalta que não "estamos nem falando da escolha de uma mulher, pois ela é apenas uma criança". "Criança vítima de abuso, que não tem condições de decidir por si própria. Por isso existe lei! O Estado deve garantir a proteção e o apoio necessários a ela. Se alguém não concorda com o que está definido em lei, que busque uma forma de alterá-la, e não impedir o acesso da criança ao que lhe é garantido na legislação vigente".
Pedidos de posicionamento foram encaminhados a todas as assessorias, já que as representantes do Estado são mulheres e corriqueiramente tecem comentários em defesa do gênero.
O tema é difícil, muitas vezes visto como um tabu e tratado com silêncio, mas as mulheres sul-mato-grossenses também aguardam a discussão.
Opiniões masculinas
No cenário, o deputado Fábio Trad alertou para que o tema não seja usado como cortina de fumaça no âmbito político.
“Cuidado com o diversionismo! A questão estupro/aborto já está sendo manipulada por quem deveria prestar contas sobre a fome, a inflação e a corrupção. O povo não tem o que comer, está sem dinheiro e sendo roubado. Esta é a pauta. Olho vivo!”, disse o deputado Fábio Trad, do PSD.
O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (União) disse, nesta segunda-feira (27), durante entrevista no programa Papo Reto, do TopMídiaNews, que como médico e político avalia ambas as situações como delicadas, e que as duas vítimas precisavam de acolhimento.
Se referindo à criança, que foi impedida de realizar o aborto e induzida pela juíza responsável a levar a gravidez adiante, Mandetta classifica como situação absurda e diz que não houve aplicação da lei.
“É um drama enorme para a criança e para a família da criança. Não sei ao certo, mas me falaram que o menino que teve relação com ela tinha 13 anos, fato totalmente de atipia. Mas o fato é que é uma criança de dez anos de idade. Ela tem o direito legal. Depois a juíza tira da guarda da mãe, faz aquilo que é uma coisa absurda. Abaixo de 14 anos, a lei considera incapaz e a interrupção é garantida por lei."
Em relação ao caso de Klara Castanho, o médico diz que o hospital e a equipe de atendimento cometeram erro grave ao vazar a informação. "O outro caso foi da atriz, que a palavra dela basta para dizer que foi um estupro. Ela fez o processo de doação legal, dentro da lei. O terrível foi ter entrado hospital, médico e enfermeira transformarem um caso de foro íntimo em tribunal da internet."
Ele diz que o debate é extremamente denso, permanente, mas não sabe dizer se isso entraria na pauta do Congresso Nacional. “É um tema tão amargo, ácido e duro que não vejo nenhum presidente de Câmara ou Senado colocando isso em pauta”.