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há 11 anos

Com ingredientes direto do nordeste e pinga de graça, tapiocaria mantém uma década de tradição

O nordeste do centro-oeste

14/10/2014 às 07:19 | Atualizado Tainá Jara
Foto: Geovanni Gomes

Um pedacinho do nordeste em Campo Grande. Não há definição melhor para exprimir toda a atmosfera proporcionada pela Tapiocaria Pernambucana, localizada na Vila Jacy, região sul de Campo Grande. Com quase uma década de existência, o estabelecimento soa incompleto se definido apenas como restaurante. As xilogravuras na fachada, os chapéus de cangaceiro e as estampas chita levam os clientes a um verdadeiro mergulho pela cultura nordestina. Mas o cardápio, composto com ingredientes trazidos diretamente do Recife e cachaça de graça, são o segredo das mesas lotadas.


Atualmente, a capacidade do restaurante é para abrigar 150 pessoas. Mas para dar espaço aos clientes, o que no início funcionava apenas no espaço da garagem teve de tomar os cômodos da casa da família Quirino, responsável pela administração do local. "Há dois anos mudamos daqui e aproveitamos o espaço para ampliar o negócio", explica Thamara Martins Quirino, 22 anos, a primeira da segunda geração a assumir a administração do local.


(Foto: Geovanni Gomes)


As mesas mais isoladas passaram a ser as preferidas de casais com bebê pequeno e daqueles, que por algum motivo, não querem ser vistos na calçada. Apesar de poder escolher ao seu gosto o local para sentar, a preferência dos clientes pelo prato é indiscutível. Nordestino do começo até o fim, o cardápio está longe de se restringir apenas aos 50 sabores da tapioca que dá nome ao local. "O pessoal vem aqui para comer a comida nordestina mesmo", explica Thamara.


A comprovação da origem não fica somente na fala, mas nas opções incomuns aos olhos sul-mato-grossenses. Ingrediente típico de vários pratos nordestinos, a carne de sol atrai os curiosos quando sua origem é a do bode e não do boi. "Ela acaba sendo mais adocicada e macia", adianta a gerente a quem prova a carne do animal. A opção de origem suína também faz parte do cardápio.



Carne de sol também é ingrediente de escondidinho. (Foto: Geovanni Gomes)


Pratos mais trabalhosos, mas igualmente tradicionais, com a Buchada de Bode e o Baião de Dois são feitos apenas por encomenda. Para os que preferem encarar opções mais leves, os caldos são a alternativa. Nesta linha, o mais inusitado é o Bodagra, que na verdade de leve tem bem pouco. Composto por moído de bode, com ovo de codorna, catuaba, caracu e pão, a receita "é capaz de levantar até defunto", como diz Romero Bastos Quirino, o idealizador da tapiocaria.



 (Foto: Geovanni Gomes)


Além da variedade, a origem dos ingredientes é o que dá um gosto singular aos pratos oferecidos no local. Dos enormes camarões da porção a manteiga de garrafa utilizada nos pratos, tudo vem diretamente do nordeste. "O caranguejo, por exemplo, vem de Porto de Galinhas, diretamente das mãos das 'mulheres caranguejeiras', explica Romero. As pingas, oferecidas gratuitamente aos clientes, também não fogem a regra.



 Porção de Camarão (Foto: Geovanni Gomes)

Atrações culturais - O segredo para o público animado não esta somente em agradar o paladar e no bom forró na caixa de som, mas também nas originais atrações culturais do local. Idealizadas por Romero, as encenações parecem ter saído de uma boa história da literatura de cordel.


 (Foto: Geovanni Gomes)


O clímax da noite é a dança que o pernambucano realiza com uma boneca especial, chamada Cidinha do Forró. Pesando cerca de 15 quilos, a mulher de ficção veio diretamente do Recife e causa alvoroço ao fazer suar, não somente o parceiro de dança, mas também os clientes seduzidos por suas cantadas.


Foi da cruza de uma cachorro nordestino com uma onça pantaneira que surgiu, a segunda atração cultural exclusiva da tapiocaria. O 'Cachonça' é pequeno, mas chama a atenção pelos comentários indiscretos. "Ele sai por aí farejando tudo que é corno, viado e sapatão", conta Romero.


Com tanto diferencial, o local acaba virando ponto turístico mesmo não sendo típico do estado. A vendedora, Terezinha Maria de Luz, 60 anos, frequenta o local há cerca de dois anos e trouxe o irmão Nash Duarte, 55 anos, para aproveitar um das noites de suas férias em Campo Grande. "Vivo no norte, mas mesmo tão perto não tive oportunidade comer uma tapioca tão boa", afirma o corretor de imóveis.