Polícia

25/06/2025 07:00

População morre e Adriane 'segura' dinheiro da Santa Casa

Emendas liberadas e pagas não são repassadas pela prefeitura ao maior hospital de Mato Grosso do Sul

25/06/2025 às 07:00 | Atualizado 25/06/2025 às 09:34 Vinícius Squinelo
Prefeita segue tranquila com situação do maior hospital de Campo Grande - Montagem / Marcos Maluf

A Prefeitura de Campo Grande está, deliberadamente, segurando a liberação de verbas de convênios emendas parlamentares destinadas ao maior hospital de Mato Grosso do Sul, a Santa Casa da Capital. Isso enquanto a população, literalmente, morre sem atendimento e a fila é de pelo menos 1.500 pacientes – somente na urologia para se ter uma idéia – à espera de minimamente entrar na ala hospitalar.

Uma das emendas, de autoria do senador Nelson Trad Filho (PSD), foi paga ainda em 2024, no valor de R$ 1,5 milhão, porém, conforme apurado pela reportagem, até o momento não chegou aos cofres da Santa Casa.

A nova descoberta coincide com declaração recente da vereadora oposicionista Luiza Ribeiro (PT), em entrevista ao TopMídiaNews, que afirmou ter certeza que a Prefeitura está usando verbas de uma área para cobrir despesa de outra, fazendo um ‘sorteio’ ou ‘rodízio’ de contas a pagar (assista aqui).

INVESTIGAÇÃO
Sobre o setor citado anteriormente, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul converteu uma investigação preliminar em um Inquérito Civil para apurar a fundo a crise no serviço de urologia da Santa Casa de Campo Grande. A decisão foi tomada após a suspensão de atendimentos por falta de pagamento a uma empresa médica terceirizada expor uma grave crise financeira e de gestão, resultando em uma fila de espera com mais de 1.500 pacientes e levantando sérios questionamentos sobre a governança da saúde na capital.

A investigação, conduzida pela 32ª Promotoria de Justiça da Saúde Pública, teve início em fevereiro de 2025, quando a empresa Uroclinic comunicou ao MPMS a interrupção dos serviços ambulatoriais e eletivos na Santa Casa devido à inadimplência do hospital. Conforme os autos, os pagamentos referentes a dezembro de 2024 e janeiro de 2025 estavam pendentes.

Os esclarecimentos prestados durante a apuração revelaram um complexo cenário de fragilidade financeira e administrativa. A Santa Casa informou que aguardava repasses de um convênio com o Governo do Estado de R$ 15 milhões e outro federal de R$ 5,3 milhões para regularizar seus compromissos. A crise expõe a dependência do hospital de repasses públicos que, quando atrasam, geram um efeito cascata que paralisa serviços essenciais.

A situação se agrava por ocorrer em um momento de profunda instabilidade na gestão da saúde pública de Campo Grande. A Prefeitura, responsável por gerenciar a fila de espera através do Sistema de Regulação, teve sua atuação questionada. A falta de governança culminou na decisão do Governo do Estado de centralizar a regulação de vagas de urgência e emergência através de uma resolução (CIB/SES n. 670), um movimento que o próprio Conselho Municipal de Saúde classificou como um retrocesso e que está sendo investigado em outro procedimento no MPMS.

Enquanto a disputa sobre a competência da regulação se desenrola, o custo humano da crise se torna evidente. Embora os atendimentos de urologia tenham sido retomados em 22 de maio, após um aporte emergencial do Estado, a Secretaria Municipal de Saúde informou ao MPMS que, até o final de maio, 1.572 pacientes continuavam na fila de espera por uma consulta. Pior ainda, a agenda para cirurgias urológicas permanecia fechada, sem previsão de retomada para os casos eletivos.

Diante da gravidade e da persistência do problema, a promotora de Justiça Daniella Costa da Silva determinou a conversão do caso em Inquérito Civil. O objetivo, segundo o despacho, é "aprofundar a apuração acerca da demanda reprimida em Urologia Adulto e das medidas adotadas para garantia da continuidade dos atendimentos". A instauração do inquérito permite ao Ministério Público utilizar instrumentos de investigação mais robustos para cobrar soluções definitivas da Santa Casa e dos gestores públicos municipais e estaduais.