Setembro Amarelo

23/09/2025 17:00

Número de suicídios em Campo Grande em 2025 já supera todo ano passado

Até setembro foram 57 registros; casos crescem desde 2020 e homens são as maiores vítimas

23/09/2025 às 17:00 | Atualizado 23/09/2025 às 09:56 Felipe Dias
Imagem Ilustrativa - Wesley Ortiz

O número de suicídios registrados em Campo Grande em 2025 já é maior do que todo o ano passado, segundo dados do Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional) e da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). Até 14 de setembro, foram contabilizados 57 casos na Capital, superando os 46 de 2024.

O crescimento acompanha uma curva contínua desde 2020, quando foram registrados 25 casos. Em 2021, o número subiu para 42, passou a 46 em 2022, caiu levemente para 41 em 2023, mas voltou a crescer no ano seguinte. Em 2025, faltando ainda três meses para o fim do ano, a média já é de pelo menos seis suicídios por mês.

Os homens concentram a maioria dos registros em 2025. São 42 casos contra 15 de mulheres. Entre as faixas etárias, adultos são os mais atingidos, com 39 ocorrências. Jovens de 18 a 29 anos aparecem em seguida, com 11 casos. Foram ainda registrados três casos entre adolescentes e quatro entre idosos.

Os meses com mais ocorrências foram janeiro, fevereiro e abril, com registro de 10 a nove casos em cada mês. Março teve o menor número registrado: apenas três; já setembro, mês em que se debate o tema, já foram quatro.

A diferença entre os gêneros chama atenção. Especialistas apontam que a dificuldade em reconhecer sinais de sofrimento emocional e a resistência em buscar ajuda continuam sendo barreiras comuns entre homens. A pressão social para que não demonstrem fragilidade também é um fator agravante.

A psicóloga e psicanalista Kerolly Lopes reforça a necessidade de atenção aos primeiros sinais. Segundo ela, as mulheres costumam ter maior percepção sobre a própria saúde mental, o que facilita o início do tratamento. "Nos homens, os sintomas ficam mais camuflados. Quando chegam a pensamentos suicidas, muitas vezes a depressão já está em estágio avançado e o tempo para tratar é mais curto", explicou.

Segundo o Ministério da Saúde, a depressão é a doença mental mais associada às mortes por suicídio e pode se tornar crônica e recorrente quando não tratada. O tratamento envolve medicamentos e acompanhamento psicoterápico, além da atenção a fatores agravantes, como o abuso de álcool e drogas.

O médico atuante no CAPS em Campo Grande e especialista em emergências psiquiátricas, Vitor Hugo Leite de Oliveira Rodrigues destacou a importância de falar do tema ainda considerado tabu. "O isolamento social, a perda do prazer de atividades que fazia e hoje não quer mais, como a prática de esporte ou quaisquer que sejam, são os indicativos mais clássicos iniciais do processo depressivo, além de choro frequente e crises de ansiedade. Sempre ofereça ajuda, porque é um tema muito tabu, tem muito preconceito envolvido e por isso precisamos do mês do Setembro Amarelo para mostrar que não tem nada de fraqueza em pedir ajuda", destacou o especialista que atua no Núcleo de Prevenção ao Suicídio do Ambulatório de Saúde Mental da Prefeitura de Campo Grande

De acordo com especialistas, é importante estar atento a sinais como tristeza constante, falta de energia, apatia, crises de ansiedade, alterações no sono e no apetite, dores físicas recorrentes e expressões de ideias ou intenções suicidas.