Campo Grande

26/09/2025 07:00

Mulher 'some' para fugir do ex-marido após seis anos de agressões: 'vivo escondida e com medo'

Mesmo com medida protetiva, vítima diz que ainda é perseguida; suspeito tem 16 passagens por violência doméstica

26/09/2025 às 07:00 | Atualizado 01/10/2025 às 09:09 Felipe Dias
Arquivo Pessoal

Após anos de "tormento" e violência doméstica, mulher de 26 anos vive escondida em Campo Grande por estar sendo perseguida pelo ex-marido, de 31 anos. Ela decidiu deixar a casa após a última agressão, ocorrida na noite de 16 de setembro, quando foi atingida por um soco no olho e um chute na perna, na Vila Carvalho.

O caso foi registrado na polícia e, mesmo conseguindo medida protetiva, a vítima ainda é perseguida. Segundo boletim de ocorrência, a vítima foi agredida após uma discussão por som alto da televisão. Ao tentar acionar a polícia, ainda teve o celular quebrado.

"Ele está atrás de mim, então eu estou escondida, aguardando a Justiça resolver o caso", contou à reportagem.

Segundo ela, a opção de se 'esconder' partiu dela mesma, já que "ele ainda continua me ameaçando por mensagens, fica enviando mensagens aos meus familiares, perguntando onde estou, me ofendendo". "Tenho medo", conclui.

Seis anos de medo

A jovem conheceu o ex-marido em um aplicativo de relacionamento. Pouco tempo depois, eles foram morar juntos. Ela lembra que, já naquela época, sinais de controle apareciam. "Ele era extremamente ciumento, não queria que eu tivesse amizade com ninguém. Se eu fosse visitar minha família, ele tinha que ir junto ou não deixava eu ir".

Logo vieram as agressões. "Quando engravidei, ele me bateu na frente de algumas pessoas. Foram seis anos de convivência e foi o maior pesadelo da minha vida. Eu nunca trabalhei nesse tempo, só ficava em casa cuidando dos filhos, enquanto ele controlava tudo".

Ela relata que foram mais de 16 boletins de ocorrência registrados, com o ex-marido chegando a usar tornozeleira eletrônica. "Todas essas denúncias fui eu que fiz, mas eu acabava voltando. Desta vez, depois do soco no meu olho, eu decidi sair de casa e não pretendo voltar".

Do relacionamento nasceram dois filhos, de 1 e 3 anos. Após a última agressão, o mais novo conseguiu sair com a mãe, mas o mais velho permaneceu com o pai.

"Eu não consegui estender a medida protetiva para o meu filho, agora estou aguardando julgamento. Quero a guarda unilateral. Ele não deixou eu levar meu filho de 3 anos, que já viu muitas vezes ele me batendo".

Segundo a vítima, o menino presenciou cenas de violência constantemente. "Meu filho já me viu ser enforcada, apanhar com socos e chutes. Uma vez, ele me ameaçou com uma tesoura no pescoço e meu filho estava lá, vendo tudo".

Ela ainda afirma que o ex também era agressivo com a própria criança. "Um dia ele bateu nas costas do filho porque não queria tomar remédio e chamou ele de 'viadinho'. Eu questionei e ele cuspiu na minha cara".

"Quero justiça"

Hoje, mesmo longe do agressor, ela diz viver em alerta. "Eu tenho traumas, não consigo dormir tranquila. Homem que bate em mulher não muda, só muda as vítimas. Espero que ele seja preso, que a justiça seja feita, porque foram seis anos que viraram um tormento na minha vida".

O sentimento, agora, é de busca por liberdade. "Eu quero poder viver tranquila, sem medo, sabendo que a justiça foi feita. Quero poder sorrir de novo e encorajar outras mulheres a denunciar. Nenhuma merece passar pelo que eu passei".

 
 

Relacionamento conturbado

Após a publicação da matéria, o ex-marido da vítima procurou a reportagem e contestou as acusações e disse que o relacionamento, iniciado em 2021, sempre foi marcado por brigas constantes e agressões mútuas. Segundo ele, a separação definitiva ocorreu em 19 de setembro, após uma série de discussões e novo sumiço da companheira.

O suspeito relatou que, no dia 16 de setembro, a ex teria se machucado após tropeçar em um colchão durante uma discussão sobre os filhos, negando as agressões físicas citadas pela vítima. Ele também afirmou que já foi ferido por ela em outras ocasiões, como em fevereiro deste ano, quando teria levado golpes de garrafa que quase atingiram uma veia do braço.

Ainda de acordo com sua versão, a ex-companheira chegou a viajar para o Paraguai levando um dos filhos sem autorização, retornando meses depois. Ele também alega que vizinhos registraram em câmeras de segurança a tentativa dela de deixar o filho mais velho com terceiros antes de ir embora do País.

O homem afirma ainda que a casa onde o casal mora foi invadida recentemente por três pessoas armadas, episódio que ele acredita ter ligação com a ex, já que os invasores teriam usado uma chave para entrar. "Acredito que ela mandou eles buscarem nosso filho que ela deixou. É sempre assim, ela briga, vai e depois volta e eu saio como errado", diz o homem que também registrou ocorrência contra a ex na Polícia Civil.

*Matéria alterada às 9h09 de quarta-feira, 1° de outubro, para acréscimo da versão do suspeito