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16/10/2025 11:17

Cervejeiro de MS explica diferença entre álcool da cerveja e metanol de bebidas adulteradas

Dúvida sobre possível contaminação em cervejas é comum

16/10/2025 às 11:17 | Atualizado 16/10/2025 às 09:57 Carol Rampi
Arquivo pessoal da fonte

Com um óbito em investigação e quatro casos suspeitos de intoxicação por metanol após o consumo de bebida alcoólica em Mato Grosso do Sul, os consumidores tentam entender os processos de fabricação de bebidas alcoólicas.

A intoxicação por metanol ocorre por meio de bebidas alcoólicas adulteradas, produtos de limpeza ou solventes, principalmente em bebidas destiladas, muito utilizadas para a realização de drinks em bares. 

Uma dúvida comum é: e as cervejas? A reportagem conversou com o jornalista e cervejeiro, Marcelo Rezende, que explicou como se dá a composição e o teor alcoólico da bebida.

"A graduação alcoólica da cerveja, também chamada de teor alcoólico, corresponde à porcentagem de álcool (etanol) gerada durante a fermentação dos açúcares do malte pelas leveduras. Quanto maior for a quantidade de açúcares fermentados, maior será o teor alcoólico da bebida. Esse valor, normalmente indicado como ABV (álcool por volume), varia bastante entre os diferentes estilos de cerveja e influência diretamente o sabor, o aroma, a textura e a percepção de ‘peso’ da bebida", detalha Rezende.

Ele explica que o teor alcoólico da cerveja é definido no processo de fermentação, em que o fermento tem papel essencial. "Basicamente, utilizamos três ingredientes principais: o malte, o lúpulo — responsável pelo amargor — e o fermento. A fermentação é uma reação química em que o fermento libera gás carbônico, responsável pela formação do gás da cerveja, e também influencia diretamente o teor alcoólico", explica.

"No meu caso, nunca produzi cervejas com teor alcoólico superior a 6%, o qual é o padrão das artesanais. Existem, no entanto, cervejas com teor muito mais elevado, como algumas irlandesas que chegam a 39%, mas essas costumam passar por processos diferenciados para atingir esse nível", explica.

O cervejeiro também reforça que o risco de contaminação não está no teor alcoólico em si, mas na falta de higiene durante a produção. "A cerveja é feita a partir do açúcar, que vem do malte, e da levedura, que funciona como fermento. Quando o açúcar é misturado à levedura, ocorre uma reação que libera CO, responsável tanto pelo gás quanto pelo teor alcoólico da bebida. O teor varia conforme a quantidade e o tipo de levedura utilizados, mas normalmente não ultrapassa os 6%. Existem pessoas, porém, que misturam álcool à cerveja, como alguns produtores irlandeses que gostam de experimentar, mas eu, particularmente, nunca vi ninguém fazer isso por aqui. Agora, se o fermentador não estiver bem limpo, pode haver contaminação, e aí a cerveja fica ácida, com gosto de limão, praticamente intragável", alerta.

Ou seja, o álcool etílico está presente em bebidas como cerveja, vinho e destilados. O metanol é um produto químico industrial tóxico. O grande perigo é que, em bebidas adulteradas, o metanol pode ser adicionado ilegalmente, e uma pessoa não consegue diferenciá-lo pelo cheiro ou sabor.

A cerveja artesanal ou industrializada, quando produzida dentro dos padrões sanitários, não oferece risco de intoxicação por metanol — diferentemente de bebidas destiladas adulteradas, nas quais o álcool é adicionado de forma indevida, gerando risco real à saúde.

Como evitar

A principal recomendação é ter atenção à procedência do produto e não adquirir ou consumir bebidas alcoólicas vendidas de forma informal, sem rótulo, sem lacre de segurança ou sem selo fiscal. Produtos com preços muito abaixo dos praticados no mercado também são um alerta. 

Características descritas no rótulo como fabricante, ingrediente e o registro do Ministério da Agricultura também devem ser observados. 


Infográfico feito pela ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas)