19/10/2025 13:30
Morte de bebê expõe violência obstétrica: 'ouvi do médico que o diabo levou minha filha'
Uma mulher detalhou seu caso ao comentar uma matérdia do TopMídiaNews sobre a morte do pequeno Ravi
Um comentário publicado nas redes sociais por uma mulher que viveu a dor da perda de um filho na gestação revela o sentimento profundo de quem já passou por tragédias semelhantes às da família do bebê que morreu durante um parto na Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande, na manhã de quinta-feira (16).
A autora narra sua experiência traumática de 1999, quando perdeu sua primeira filha ainda na barriga. Ela recordou que mesmo em hospital particular, suas queixas iniciais foram desacreditadas e, além disso, ouviu comentários que culpavam o “inimigo” pela morte da criança, naturalizando a dor e colocando a culpa em forças externas, em vez de reconhecer falhas humanas no atendimento.
“No retorno ainda tive de ouvir do médico que não era Deus quem tinha levado minha filha, porque Deus não faz coisas assim. Era o inimigo. Além de tudo, ouvi que minha filha foi levada pelo diabo. Mas não deveria ser surpresa: na boca de quem faz o absurdo e naturaliza como coisas da vida, fatalidades, o diabo é o primeiro a ser culpado por tudo.”
Ela também destaca o impacto duradouro que o ocorrido teve em sua vida, impedindo-a de engravidar novamente por muitos anos, além da angústia constante de questionar se a morte poderia ter sido evitada com mais atenção médica.
O comentário ressalta que a violência obstétrica e o descaso não são recentes, mas persistem devido ao corporativismo entre profissionais da saúde, que dificulta mudanças. “A insensibilidade na medicina não é algo de hoje, para a nossa tristeza, tampouco o corporativismo. Enquanto o segundo existir, o primeiro só irá crescer. Dá um cansaço profundo a gente saber que não vai conseguir mudar nada no que nos causou uma dor imensa. E nada traz a criança de volta. O quartinho pronto vazio, as roupinhas passadas, o cheiro de bebê pela casa que precisava desaparecer, o nada do lugar do tudo que se esperava... a dor de voltar de braços vazios. É uma ferida na alma que nunca se apaga”, descreveu.
A mulher ainda afirmou que mesmo após tantos tempos, sempre tenta formar justificativas para o ocorrido.
“Tentamos explicar que Deus sabe o caminho, mas, na verdade, não é nem Deus e nem o inimigo, são ações humanas que muitas vezes causam abismos nas almas”.
A autora finaliza clamando por justiça e por uma maior humanização no atendimento, lembrando que a dor da perda nunca se apaga e que, apesar de existir profissionais dedicados, a indiferença ainda é a regra para muitos pacientes.
A morte do bebê Ravi na Maternidade Cândido Mariano
O comentário foi motivado pelo caso do recém-nascido Ravi, que morreu na manhã de quinta-feira (16) durante um parto normal na Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande. A família denuncia que houve descaso e violência obstétrica durante o atendimento.
Segundo o boletim de ocorrência, a mãe entrou em trabalho de parto no dia anterior e permaneceu em uma espécie de pré-sala por horas, com dilatação incompleta para o parto, mas o procedimento só foi iniciado na manhã seguinte. Durante o parto, médicos e auxiliares realizaram uma manobra forçada para retirar o bebê, que já apresentava deformação e coágulo na cabeça. O bebê não apresentou sinais vitais ao nascer, tendo o óbito confirmado após tentativas de reanimação.
Após a perda, a mãe ouviu comentários desrespeitosos da equipe médica, sugerindo que poderiam “fazer outro bebê” e que uma cesariana seria indicada numa próxima gestação. A família relata que a gestação não apresentava riscos e que já havia partos normais anteriores.
A maternidade se posicionou por meio de nota oficial afirmando que não houve falhas, e que o óbito decorreu de uma distocia de ombro, complicação obstétrica grave e imprevisível, comprometendo-se a apurar o caso internamente pelas comissões éticas e de óbito.