há 3 semanas
Corumbaense Helder Carvalho descobre orgulho da própria negritude e transforma identidade em força
Após anos negando ancestralidade e cultura, mestrando em comunicação e fotógrafo de 27 anos reconecta-se com cabelo, religião e história familiar, inspirando mudanças pessoais e profissionais
Muitas pessoas passam pela vida sem se conectar com a própria ancestralidade, negando traços, cultura e histórias familiares. Para algumas, essa descoberta vem tarde, mas de forma transformadora, redefinindo identidade, autoestima e até carreira. Esse é o caso de Helder Carvalho, mestrando em comunicação e Fotógrafo de 28 anos, que após anos tentando se encaixar em padrões alheios, encontrou orgulho em ser negro e se reconectou com a cultura de seu povo.
“Eu passei anos negando a minha ancestralidade, a minha negritude, a minha cultura”, conta Helder.
O ponto de virada foi o cabelo, símbolo marcante da identidade negra. Como muitos, ele observou a mãe alisando os fios, negando a própria ancestralidade e a religiosidade de matriz africana presente na família. “Quando minha mãe entendeu o cabelo dela e o poder que ele tinha, eu também comecei a entender o meu. passamos juntas pela transição capilar, e foi um processo muito importante para mim”, lembra.
Helder conta que foi na universidade que a percepção sobre identidade se aprofundou. Vindo de escola pública, sem referências de letramento racial em casa, começou a estudar a história do povo negro, suas lutas e culturas. O processo de autodeclaração se tornou real quando decidiu usar cotas raciais no vestibular, enfrentando o medo do julgamento e do desconhecimento alheio.
“Eu tinha medo de que as pessoas achassem que eu estava me apropriando de pautas que não me pertenciam, mas tudo isso sempre me pertenceu. A graduação também me abriu portas para o redescobrimento das religiões afro-brasileiras. Fui criado em um ambiente evangélico", explicou
O fotógrafo relata que descobriu que sua avó e outros familiares seguiam tradições de matriz africana, mas sofreram apagamento histórico, o que o levou a se conectar e hoje, atua na umbanda e pesquisa religiosidade afro-brasileira, relacionando-a com visualidade e comunicação.
"Essa jornada pessoal influenciou meu crescimento profissional. Trabalho com projetos culturais afro-brasileiros, criando representatividade e ampliando voz a comunidades marginalizadas. Reconectar-me com minha identidade foi fundamental para construir meu caminho", conclui Helder.