Campo Grande

há 1 semana

Falso pai de santo acusado de tortura durante ritual é indiciado em Campo Grande

Investigação aponta práticas abusivas contra mulheres em terreiro

28/11/2025 às 15:00 | Atualizado 28/11/2025 às 17:06 Carol Rampi
Redes Sociais/Repórter Top

O delegado responsável pelo caso do falso pai de santo acusado de tortura e ameaça contra duas mulheres durante um ritual, em julho deste ano, em terreiro no Jardim Nhanhá, será indiciado. Com o indiciamento, a Polícia Civil encerrou a fase inicial da investigação e encaminhou o caso ao Ministério Público, que agora decide se apresenta denúncia, propõe algum acordo legal ou solicita novas diligências. O processo seguirá para análise no Juizado Especial Criminal de Campo Grande, onde serão tomadas as próximas medidas judiciais.

Ainda conforme o documento, a polícia identificou que o autor possui passagem por violência doméstica, no ano de 2019, inclusive com emissão de medida protetiva por parte da vítima. 

O caso

Duas mulheres, de 21 e 44 anos, denunciaram terem sido vítimas de tortura e ameaças durante um ritual espiritual realizado em um terreiro localizado no Jardim Nhanhá, em Campo Grande. O responsável pelo local, um pai de santo de 40 anos, foi apontado como autor das agressões.

Conforme o boletim de ocorrência registrado, as vítimas participavam de um trabalho espiritual tradicional da casa, quando o falso pai de santo anunciou que havia incorporado uma entidade chamada "João Mulambo". Segundo o relato, sete mulheres participavam do ritual, todas filhas de santo, e foram submetidas a uma série de práticas consideradas abusivas, sob ordens diretas do líder espiritual.

Ainda segundo a denúncia, o falso pai de santo proibiu que as participantes se sentassem durante cerca de duas horas. Em seguida, rodou uma garrafa de cachaça e obrigou todas a ingerirem a bebida. Duas das mulheres foram forçadas a permanecer de joelhos por mais de uma hora segurando velas acesas.

Em determinado momento, o homem teria ameaçado todas as participantes dizendo que se alguma delas incorporasse uma entidade sem sua autorização, ele daria "cabeçadas até abrir a cabeça".

A denunciante mais velha relatou que, após sentir fortes dores de cabeça, pediu para sair, mas foi impedida sob a justificativa de que teria que ser "punida". Ela também afirmou que todas foram obrigadas a participar de um ritual em que se colocava pólvora na palma da mão e, em seguida, se acendia o material com um charuto.

Elas tiveram a mão queimada, mas não foram autorizadas a lavar o ferimento. Ainda conforme a denúncia, o falso pai de santo tentou jogar uísque sobre as queimaduras, prática que a denunciante recusou, mas outras participantes teriam sido submetidas à ação.

Abalada, a mulher contou que, após o ritual, conseguiu pegar a filha e ir embora do local. Ela afirma que todas as participantes foram submetidas à tortura sem justificativa e que o pai de santo, ao ser questionado, tentou legitimar os castigos como parte dos "fundamentos" da casa.

Atendimentos

Em setembro deste ano, o acusado teria voltado a realizar trabalhos espirituais em Campo Grande. Pelas redes sociais, ele divulgou perfil com atividades como banhos, búzios e tarô. 

''Só com hora marcada'', observa o perfil do religioso. A foto é do próprio falso pai de santo com cenário típico de casas religiosas, com frutas e plantas sobre uma mesa. 

O que chama a atenção é que o perfil está restrito e não aparece o número de telefone do homem. Outro detalhe é que, após as denúncias das vítimas, o pai de santo nunca se manifestou aos jornais. Apesar das várias tentativas de contato.