Demissões

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Demitidos às vésperas do Natal, funcionários do São Julião choram com corte de repasse da prefeitura

Sem salário, sem carteira assinada e sem respostas, cerca de 130 trabalhadores foram desligados de hospital e culpam Adriane

05/12/2025 às 15:00 | Atualizado 05/12/2025 às 14:10 Dayane Medina
Divulgação/SES

Às vésperas do Natal, cerca de 130 funcionários, entre fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, faxineiros e seguranças, foram desligados do Hospital São Julião, em Campo Grande, devido à falta de repasse da prefeitura. O corte também levou ao fechamento de aproximadamente 100 leitos, todos destinados a pacientes da rede pública.

Aos prantos, um dia após a demissão, um trabalhador de 42 anos, que preferiu não se identificar, resume o sentimento de quem dedicou a vida ao hospital e se viu sem emprego perto das festas de fim de ano.

“A gente queria saber se tinha culpa, se fizemos algo errado. Perguntamos isso para melhorar profissionalmente, mas o RH confirmou que foi por falta de repasse”, chora.

A situação, segundo o denunciante, estava trágica nos últimos três meses, mesmo a administração do hospital se esforçando para manter o salário dos funcionários, já com a redução de 30% do repasse vindo da prefeitura.

O hospital já lidava com falta de insumos e brusca redução no número de pacientes atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). “De uns três meses pra cá, vimos mudanças drásticas. Faltava material, faltava cuidado, faltava tudo. A missão salesiana teve que assumir a folha de pagamento porque o repasse do SUS não chegava”, detalha.

O trabalhador relata que o hospital tentou alternativas. Houve reuniões com prefeitos do interior e até um encontro de primeiras-damas e gestores municipais para buscar mais verba e reforçar o atendimento de pacientes enviados de outras cidades. Nada disso impediu o colapso.

“O corte oficial da prefeitura fechou cerca de 100 leitos. O São Julião já não estava mais aceitando pacientes pelo SUS e agora fechou oficialmente”, detalha.

As demissões atingiram profissionais que sustentam famílias inteiras, inclusive alguns com situações delicadas, com parentes enfermos de câncer.

“Tem funcionária que vai passar o Natal sem emprego e com o marido com câncer. É muito triste. É triste para quem perdeu o trabalho e mais triste ainda para a população, que fica sem atendimento adequado”, se emociona.

De acordo com o ex-funcionário que atuou no hospital por mais de um ano, o São Julião é referência internacional no tratamento de hanseníase e só neste ano chegou a abrir alas extras por enfermaria para absorver a demanda vinda das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), quando houve superlotação das unidades de saúde com síndromes respiratórias, mas não recebeu o reconhecimento da prefeitura.

A reportagem solicitou retorno da prefeitura sobre o fim do contrato com o hospital e do São Julião sobre os cortes de repasse, as demissões e o fechamento de leitos.

Em resposta, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informa que não houve redução no repasse municipal ao hospital. O que ocorreu foi a finalização de um contrato entre a instituição e o Governo do Estado, acordo este que era apenas aditivado pelo município, mas integralmente custeado pela Secretaria Estadual de Saúde.

"Assim, não houve encerramento do montante de leitos disponibilizados ao SUS pelo hospital. A secretaria ressalta, ainda, que mantém tratativas contínuas com os hospitais para ampliar a oferta de leitos clínicos e de terapia intensiva, garantindo assistência adequada à população local", informa a secretaria.