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Onde estava o Capitão? Contar cruzou os braços e deixou a direita sem vereadores
Enquanto a direita se organizava em todo o país para conquistar Prefeituras e Câmaras, o principal nome da oposição em MS escolheu a omissão, dizimando a base
Na hierarquia militar, que o capitão Renan Contar tanto preza, existe uma máxima: um oficial nunca abandona sua tropa. No entanto, o comportamento do "Capitão" nas eleições municipais de 2024 sugere que, na política, ele prefere marchar sozinho.
O saldo eleitoral do ano passado deixou uma ferida aberta na direita sul-mato-grossense. Não pela força da esquerda, mas pela omissão de quem deveria liderar. Contar encerrou 2024 como um "General sem Exército", isolado por escolha própria e cobrado por uma militância que se viu órfã de representação local.
O fato é incontestável e os números não mentem. Em um ano decisivo para a construção de bases políticas visando 2026, Contar cometeu três erros estratégicos fatais. Rejeitou ser candidato a prefeito ou vice em chapa majoritária competitiva, alegando preservar seu capital para o Senado.
Sob sua influência direta, o PRTB, que estava sob seu comando, tomou a decisão suicida de não lançar chapa de vereadores. Enquanto cabos eleitorais pediam votos, o líder de 2022 pouco fez para alavancar novos nomes conservadores. Preferiu pedir voto para a ex-superintendente da Sudeco do governo Lula, Rose Modesto.
Omissão custa caro na crise da Capital
O preço dessa estratégia equivocada está sendo cobrado à vista, agora mesmo. Campo Grande vive um momento de ebulição política. A gestão municipal de Adriane Lopes enfrenta desgaste, crises administrativas e questionamentos públicos. A Câmara de Vereadores se tornou o palco central de um embate que definirá os rumos da cidade.
Este seria o momento exato para uma "Bancada do Capitão Contar" brilhar.
Imagine vereadores eleitos na tropa do capitão subindo à tribuna hoje, fiscalizando as ações da Prefeita, cobrando transparência na crise da saúde ou do transporte, e marcando posição firme para a direita. Esses vereadores seriam os "canhões" de Contar, gerando fatos políticos diários e pavimentando o discurso de oposição para 2026.
Mas essa bancada não existe. As cadeiras que poderiam estar ocupadas por aliados leais de Contar, defendendo suas bandeiras e batendo de frente com a atual gestão, estão ocupadas por outros grupos. A voz da direita independente foi calada na Câmara não pela esquerda, mas pela inércia de seu próprio líder, que preferiu não eleger ninguém.
Líder que não forma sucessor não merece promoção
A comparação com outros líderes da direita nacional é cruel para Contar. Jair Bolsonaro viajou o país pedindo votos para vereadores e prefeitos. Tarcísio de Freitas trabalhou incansavelmente em São Paulo para fazer a base crescer. Até mesmo Eduardo Riedel, adversário de Contar, fortaleceu seu grupo elegendo prefeitos em mais de 70% dos municípios.
Todos entenderam que política é construção coletiva. Menos Contar.
Ao cruzar os braços em 2024, Contar passou um recado amargo ao eleitor conservador: o seu projeto é pessoal, não ideológico. Ele quer ser senador, o general, mas não quis ter o trabalho de ajudar a eleger o soldado, o vereador.
Agora, ao reaparecer no cenário visando 2026, Contar encontrará uma "terra arrasada". Quem fará campanha para ele nos bairros? Os vereadores que ele não ajudou a eleger? As lideranças comunitárias que ele ignorou em 2024? Como irá falar para o eleitorado da Capital, maior colégio eleitoral do Estado, após sumir por quatro anos. Ainda foi visto vendendo mosquitos da dengue, assunto que trataremos depois.
Na política, quem quer colher apoio na eleição majoritária precisa plantar lealdade na eleição proporcional. Contar quis pular a etapa do trabalho duro. A direita de MS, que cresceu e amadureceu, já percebeu: um líder que só aparece para pedir votos para si mesmo, mas se esconde na hora de ajudar o grupo na batalha municipal, não é um líder, é apenas um candidato de ocasião.