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06/08/2016 09:19

Boxe olímpico chega ao Rio tão perto, mas também tão longe do profissional

As novidades foram testadas pela primeira vez no Mundial de 2013 para que os pugilistas pudessem se acostumar

06/08/2016 às 09:19 | Atualizado
Getty Images

Fim do capacete, liberação da participação de profissionais, mudanças no sistema de pontuação… Muita coisa mudou no boxe olímpico entre Londres 2012 e a Rio 2016. Buscando aproximar a modalidade da Olimpíada, historicamente disputada por amadores, ao badalado mundo das estrelas profissionais, a Aiba (Associação Internacional de Boxe) promoveu diversas alterações durante este último ciclo. As novidades foram testadas pela primeira vez no Mundial de 2013 para que os pugilistas pudessem se acostumar e foram usadas em torneios qualificatórios para os Jogos. Algumas foram bem aceitas pela maioria, como a retirada dos capacetes. Outras causaram muita polêmica, como a permissão da participação de profissionais: só três, que você dificilmente já ouviu falar, virão ao Rio.

SEM CAPACETE

O público que comparecer ao Pavilhão 6 do Rio Centro para assistir às lutas vai perceber uma das mudanças logo de cara. Os protetores de cabeça, item obrigatório desde os Jogos de Los Angeles, em 1984, não serão mais usados. Foram proibidos. Um dos objetivos ao expor o rosto dos atletas é facilitar o reconhecimento dele pela torcida. Curiosamente, a novidade, que a princípio deixaria os competidores mais suscetíveis a contusões têm um embasamento científico de efeito justamente contrário. De acordo com estudos encomendados pela Aiba, o uso de capacete aumenta o número de lesões cerebrais nos boxeadores. Isso se daria porque, sentindo-se mais seguros com os capacetes, os atletas acabam se expondo mais, ficando mais sujeitos a golpes na cabeça. A ausência causou estranhamento inicial, mas os lutadores tiveram tempo para se adaptar, e hoje, a maioria aprova:

- A retirada do capacete foi boa, já são três anos lutando sem. No começo foi complicado porque tinha muito choque de cabeça e cortes, mas hoje já está bem melhor, diminuiu bastante. Além disso, melhorou nossa visão, enxergamos melhor o golpe vindo. Sem contar a imagem do atleta, que hoje é mais reconhecido. O capacete escondia muito a imagem. Hoje está mais bonito de ver o boxe  - disse Juan Nogueira, representante brasileiro na categoria pesos-pesados (+91kg).

Apesar da maioria aprovar a mudança, um ponto em comum gera grande preocupação. Diferentemente do boxe profissional, onde os pugilistas têm um intervalo de diversos meses entre uma luta e outra, nos Jogos Olímpicos, os atletas fazem diversas lutas em um intervalo muito curto de tempo, em certas ocasiões em dias seguidos. E sem os capacetes, os boxeadores ficam mais sujeitos a sofrerem cortes no rosto. E caso precisem levar pontos no ferimento, eles podem não serem autorizados a disputarem a luta seguinte, sendo eliminados por W.O., o que ocorreu com certa frequência em torneios qualificatórios.

- É bom por um lado, você tem mais visão, luta mais solto, mais à vontade. Mas por outro lado é perigoso, estão acontecendo muitos acidentes, muitos cortes, muitos machucados que acabam prejudicando para a luta seguinte. No boxe olímpico é uma luta atrás da outras, em uma semana você faz três, quatro, cinco lutas. Se você se machuca na primeira luta, você vai com a cabeça inchada para a outra. Mas o treinamento é focado para não ter esse tipo choque, mas é inevitável. O boxe é muito franco, e às vezes acaba acontecendo - analisa Michel Borges, representante brasileiro na categoria 81kg.

- De início, não gostei. Teve um mundial onde fiquei em segundo em que levei um corte no supercílio na semifinal por causa de uma cotovelada e já fui para a final meio prejudicado, meio sem visão, e isso na ocasião prejudicou bastante. Mas agora já me acostumei, no sulamericano e no mundial não sofri nenhum corte - disse Robson Conceição, vice-líder do ranking da Aiba na categoria 60kg e candidato a medalha na Rio 2016.

Esta mudança, no entanto, só vale para o masculino. A categoria feminina, que estreou nas Olimpíadas na edição passada, segue com o uso obrigatório do capacete. A brasileira Adriana Araújo, medalha de bronze em Londres 2012, lamenta que as mulheres tenham sido preteridas na implementação da novidade.

- Claro que preferia sem. Ele protege muito os impactos dos golpes e, pelo fato de eu ser uma atleta forte, quanto mais o golpe pegar diretamente na cabeça delas, melhor. Mas infelizmente as mulheres acabam sempre em segundo plano, né? Mas já estou sabendo que a partir de 2017 eles serão retirados também - disse a pugilista baiana.