Política

31/08/2016 07:00

Aliado de Olarte diz que Andréia era quem ‘comandava’ prefeitura e distribuição de cargos

Esposa do ex-vice-prefeito afastado teria grande peso nas tomadas de decisões e gestão do dinheiro supostamente desviado

31/08/2016 às 07:00 | Atualizado Amanda Amaral
Foto: Geovanni Gomes/Arquivo TopMídiaNews

Em mais um capítulo da investigação que colocou Gilmar e Andréia Olarte (ambos PROS) atrás das grades, um diálogo chama atenção por aumentar o protagonismo da ex-primeira-dama de Campo Grande na trama alvo da Operação Pecúnia. Isso porque, em interceptação telefônica autorizada pela Justiça, aliados de Olarte apontam que Andréia ‘fazia e acontecia’ dentro da prefeitura durante a gestão do marido.

A conversa se deu em abril de 2014, entre o militar reformado Luiz Márcio dos Santos Feliciano – acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro após emprestar cheques a Olarte em troca de vantagens – e Edna Lima, esposa de Ronan Feitosa, ex-assessor da prefeitura apontado pelo Gaeco (Grupo de Atuação e Combate ao crime Organizado) como braço-direito em articulações criminosas. Todos eram envolvidos com as atividades da Igreja Adna, fundada pelo pastor e político.

Os dois comentam que o dinheiro arrecadado criminosamente pouco antes e após Gilmar substituir o prefeito Alcides Bernal (PP), então cassado, era direcionado à sua esposa. Em dado momento, Márcio comenta que “o pastor nunca foi homem de tomar decisões e a Andréia é quem está comandando a prefeitura, ela faz e acontece...”.

Segundo ele, era Andréia quem direcionava as nomeações durante a gestão do marido e organizava a ‘melhor’ forma de distribuir as tais vantagens entre os seus aliados. “[...] tem um monte de nomeações, tá tudo barrado lá por causa dela, fica com ela os papeis da nomeação, e ela coloca o DCA ainda. Então o que ele conseguiu fazer é isso, ‘Márcio, vou pagar a Edna por fora e não vou nomear ela’, eu não contestei, né!”, disse.

Eles continuam a conversa citando a igreja Adna. Confira abaixo um trecho do diálogo:

Edna: Cara. E como vai ficar a igreja hein?

Márcio: (Risos)

Edna: Ele [Olarte] disse que era, a igreja era prioridade, mas não dá não.

Márcio: Aí tem aqueles ‘pastorzinho’ lá que não, não vale um centavo, né?

Edna: É

Márcio: Aquele, ele, ele trouxe o Munhoz pra ser isso né, pra ser o cara.

Edna: É, só barulho

Márcio: É, aquele ali... Na verdade quem administra a igreja ali ‘é’ eu. Todos os eventos, todas as coisas que tem que comprar, pagar...

Edna: Cê ta nos bastidores, né

Márcio: É. Entendeu? Aí o que tem que fazer ele passa pra mim, pá eu faço.

É então que Edna dá ‘conselhos’ ao colega de como investir o dinheiro que supostamente teria recebido de forma ilegal após ajudar Olarte, citando como exemplo o que aconteceu com o marido. “Então, mas olha... Ah! Foi bom você tocar nesse assunto, porque eu vou te falar uma coisa. O Ronan entrou no pepino que tá hoje, por causa disso, viu? Você fica esperto. Não faça nada com dinheiro seu, não faça compra... sabe? Sabe? Não fica passando cheque teu. Não fica cobrindo nada. Se é pra você fazer tudo isso, você tem que ter na mão um caixa. Entendeu? Um caixa. Destinado pra esse teu trabalho”, disse Edna.

Ela continua, falando inclusive do empreendimento de Andréia, Casa da Esteticista, que teria sido beneficiado em esquema fraudulento. “Não mexe nas tuas ‘coisa’. Não põe o teu nome nas coisa, entende? Põe a igreja, põe o pastor. Põe quem é responsável pelo financeiro, mas não se põe porque você vai entrar em um problema grande. O Ronan entrou em um problema grande por causa disso. Porque o Ronan, o Ronan dava dinheiro pra Andréia, pra fazer as coisa da, de, de ‘Casa de Esteticista’, de tudo que era coisa e o Ronan cansou de conseguir dinheiro. Dez mil, vinte mil. ‘Passá’ na mão dela, entendeu?”.

Operação Pecúnia

As investigações tiveram início a partir dos dados obtidos com a quebra do sigilo bancário de Andréia Olarte e de sua empresa, a Casa da Esteticista.  De acordo com o MPE (Ministério Público Estadual), entre os anos 2014 e 2015, enquanto Gilmar ocupava o cargo de prefeito, “sua esposa adquiriu vários imóveis na Capital, alguns em nome de terceiros, com pagamentos iniciais em elevadas quantias, fazendo o pagamento ora em dinheiro vivo, ora utilizando-se de transferências bancárias e depósitos, os quais, a princípio, são incompatíveis com a renda do casal”.

Além do casal, que reagiu à prisão ‘aos gritos’ no dia 15 deste mês, foram detidos Evandro Simôes Farinelli e Ivamil Rodrigues de Almeida. Segundo o MPE, Andréia e Gilmar contaram com a ajuda de Ivamil, “corretor de imóveis e braço direito do casal nas aquisições imobiliárias fraudulentas” e Evandro, “pessoa que cedia o nome para que as aquisições fossem feitas em nome de Andréia Olarte”. 

Prisão

O advogado de defesa do casal, João Carlos Veiga afirmou ao TopMídiaNews que continua aguardando resposta diante do pedido de Habeas Corpus impetrado no STJ (Superior Tribunal de Justiça), solicitando a soltura tanto de Gilmar quanto de Andréia. A defesa alegou no documento que não existem razões para manter o casal "atrás das grades", já que documentos foram apreendidos e todos os presos foram ouvidos.

Gilmar Olarte permanece em cela especial no Presídio Militar, enquanto Andréia continua presa na sede do Garras (Grupo Armado de Resgate e Repressão a Assaltos e Sequestros), mas dessa vez, sem nenhuma companhia. "Ela ainda está no Garras, na cela, sozinha", disse o advogado.

A ex-primeira-dama estava dividindo cela com uma mulher que teria sido presa por fazer parte de uma quadrilha de assaltantes. Como Andréia é graduada, o advogado impetrou um pedido de cela individual ou na presença de pessoas que tenham a mesma qualificação profissional da esposa do prefeito afastado.