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07/01/2014 06:00

No dia da liberdade de culto, conflito de opiniões religiosas ainda gera polêmica

Religião

07/01/2014 às 06:00 | Atualizado Renan Gonzaga
Foto: Renan Gonzaga

Hoje, dia 7 de janeiro, é celebrado o Dia da Liberdade de Culto. Mas você sabe o que significa isso exatamente? É uma data que está ligada à liberdade de expressão e de pensamento, ou seja, ao respeito por outras religiões ou doutrinas, condições básicas para um convívio social pacífico.


Com certeza é um assunto polêmico, principalmente porque o Brasil é um país que abriga muitas etnias e, consequentemente, muitas religiões. Tanto que a liberdade de culto precisou ser amparada legalmente e garantida como um direito universal de todos, para garantir o respeito à individualidade de cada cidadão.


Em Campo Grande, o assunto gera muitas discussões, por parte de religiosos e ateus. O radialista César Tremeschin, de 35 anos, é um exemplo que de a liberdade para pensar e se expressar pode mudar uma pessoa. Evangélico por anos, hoje acredita que o pensamento livre foi fundamental no seu amadurecimento.


“Deus faz parte deste contexto e devemos ser livres para acreditarmos em deuses ou não. Um Deus não molda caráter, o que ela faz é doutrinar pensamentos, ou na falta dele cada um decide no que acreditar. Se um Deus te faz de alguma forma praticar o bem, então sua criação se faz necessária”, explica.


Ateu convicto, em várias situações teve que enfrentar a opinião das pessoas que não concordavam com sua escolha. “Recebo criticas até hoje, mas como aprendi na minha vida de evangélico que onde habita a filosofia, o pensamento e a ciência, não habita Deus. Então prefiro dizer que sou ateu graças a Deus”.


Orações diárias fazem parte da rotina de Divonete. Foto Renan Gonzaga


Por outro lado, a campo-grandense Divonete Costa, é referência na comunidade quando o assunto é catolicismo. Desde pequena estudou para ser freira e quando estava prestes a ser convocada, conheceu o seu atual marido, que estava em um seminário estudando para ser padre na época.


Apesar de abrirem mão da carreira religiosa, continuaram disseminando a palavra de Cristo mesmo depois de casados. “Desde solteira eu já visitava os doentes com minha madrinha que também é muito religiosa, desde os 17 anos a gente ajudava com alimentos, fazia cestas e levava”, afirma.


Em seu trabalho, como supervisora de uma escola da Capital, Divonete é vista como referência pelos outros funcionários quando o assunto é religião. “Meus colegas falam que minha oração é forte, quando tem algum problema pedem para eu rezar”, relata.


“Eu sou católica, fui criada dentro de uma família católica, então minha mãe e meu pai sempre me passaram a importância da religiosidade. É o que me ajuda a superar as dificuldades, a vencer os obstáculos e os desafios. É o que me dá força para ir lutando. Penso que a pessoa que não acredita em nada se sente vazia”, garante.


Gruta guarda Nossa Senhora em jardim na Capital. Foto: Renan Gonzaga


A supervisora, aos 46 anos, afirma que não importa qual seja a religião, porque o importante é ter uma ligação com Deus e não deixar de acreditar no divino. “Quem não acredita em Deus é uma pessoa como todas as outras, só que ela fica meio órfã, meio perdida, porque existe um criador. Tem um ser superior que nos deu tudo isso”.


A intolerância religiosa foi exibida na mídia recentemente com um caso que chocou o país. Foi noticiado em setembro que traficantes evangélicos armados, sob as ordens de pastores, se intitulam “Exército de Deus” para atuar em comunidades carentes, fechando terreiros de Umbanda e Candomblé, torturando e expulsando famílias e incendiando ONGs de apoio a cultura afro-brasileira.


Crimes como este acontecem em lugares onde o poder público é omisso, e são negados diretos básicos de vida, como segurança e respeito. Para o espírita Luiz Corrêa, de 54 anos, é importante saber tolerar as religiões alheias, porque segundo ele, todas levam ao mesmo caminho.


“O mal não está em determinada religião, mas em determinados religiosos que usam sua posição para lesar os outros. E isso ocorre em várias as doutrinas, mas não se pode colocar a culpa em todas, porque elas são úteis e necessárias ao povo brasileiro”, ressalta Luiz.



São Gabriel enfeita residência em Campo Grande. Foto: Renan Gonzaga


O integrante da Sociedade Espírita Castro Alves, sustenta que a pessoa que acredita na superioridade de sua religião, é alguém com uma consciência míope, porque Deus é imparcial e não favorece uma ou outra doutrina. “Talvez essas pessoas não procuram conhecer o principio de outras religiões, por isso são assim”.


Enquanto espírita, ele acredita que cada um tem total liberdade para ser o que quiser. “O ateu se diz não acreditar, mas quando conversamos com uma pessoa enxergamos o seu caráter. Então ele pode ser uma pessoa do bem, e útil para a sociedade. Até mesmo um grande pai de família”, finaliza.