Cidades

27/02/2014 07:00

Casa de recuperação busca local para abrigar dependentes químicos na Capital

Na busca de um lar

27/02/2014 às 07:00 | Atualizado Carlos Guessy
Pacientes da Casa do Renovo que acolhem dependentes químicos podem ter de voltar para as ruas pois parte das terras foi vendida. Foto: GG

Faltando menos de cinco dias para vencer o prazo final da saída dos internos da ala masculina da Casa Renovo, a pastora Wainer Carvalho diz não ter outro local para instalar os mais de 50 homens dependentes químicos, moradores na chácara do Projeto Casa do Renovo.


Há um mês parte da chácara foi vendida e o destino dos internos por enquanto é incerto. Na segunda-feira (24), cerca de 50 voluntários entre eles, internos e amigos fizeram um protesto no meio da praça Ary Coelho embaixo de chuva. O protesto tinha a finalidade de chamar atenção da sociedade para o risco de despejo de parte da Casa do Renovo, além de recolher 10 mil assinaturas e entregar uma petição à Prefeitura, reivindicando uma área nas proximidades do InduBrasil.


Na prefeitura, a Pastora Wainer tentou ser recebida pelo prefeito Alcides Bernal (PP), porém um assessor alegou que ele (prefeito) estava viajando e quem trataria do assunto era o próprio. Segundo a pastora o assessor disse que a Prefeitura não tem áreas verdes para doação, que apenas essas áreas estão reservadas para construção de Ceinfs e praças. E que o prefeito não teria tempo em sua agenda para recebe-lá.


A pastora saiu dessa reunião arrasada. “Meu mundo, o chão se abriu naquele instante, pois eu tinha esperança de ser recebida pelo prefeito, pois eu sei que ele estava na prefeitura, todos os sites e até funcionários de outros setores confirmaram a minha suspeita. As palavras daquele assessor me machucaram. Eu sai de lá mal, arrasada, desci e comecei a chorar”, confessou Wainer.      



Ex-dependente química, a pastora Wainer Carvalho de Moura, 47 anos, lamenta não poder contar com o apoio do poder público para dar continuidade a um trabalho que começou após sair do vício das drogas.


“Não temos nenhum tipo de apoio, tanto da Prefeitura, tanto do governo do Estado, só vivemos de poucas doações”, queixa-se ela, que cuida da instituição localizada após o Aeroporto Santa Maria, na saída para Três Lagoas, na Capital.


Em funcionamento há três anos, a Casa do Renovo abriga 60 homens e quase 20 mulheres, além de 11 crianças. A pastora frisa que todas as crianças estudam na creche localizada no bairro Rita Vieira.


Ela conta que no momento a sua maior preocupação é achar um local apropriado nas proximidades da cidade para instalar todos os dependentes e não deixar o seu projeto morrer.

Com um funcionamento modesto em uma área de 12 hectares, seis da unidade masculina e seis da feminina, a Casa do Renovo precisa de um novo espaço urgentemente.


“Na verdade estamos desesperados, não existe um plano B, de um local grande para acomodar todo mundo”, confessou a pastora ao mostrar as dependências do local, onde também funcionam os alojamentos, cozinha e algumas salas nas quais os internos participam de atividades de cunho educativo visando a sua recuperação.


Wainer fala sobre os valores dos aluguéis e diz que é sua missão continuar o projeto Casa do Renovo. “Está difícil dar continuidade ao projeto pagando R$ 3.700 por mês de aluguel, incluindo R$ 1.600 da unidade feminina, R$ 1.400 da masculina e R$ 700 da creche”.


“Além do valor do aluguel tem a alimentação. Aqui a gente ganha, graças a deus”, garante, acrescentando que a Casa é beneficiada com doações de macarrão, arroz e trigo.


Entre outros itens de uma lista de prioridades, Wainer diz precisar de materiais de construção e leite. “E dinheiro, é claro”, que além de pregar numa pequena Igreja instalada no local é considerada uma verdadeira “mãezona” das pessoas confinadas em uma área arborizada, entre as quais, crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Ela explica que, apesar de toda dificuldade, tem alcançado resultados positivos no papel de promover a recuperação e a reabilitação da pessoa por meio de programas terapêuticos cristãos, encontros, palestras e outras atividades.


“A pastora tem um carinho muito grande pela gente, graças a Deus mudei minha vida. Eu comecei a usar maconha com 17 anos, aos poucos eu fui aumentando e acabei na pasta base. A pastora entrou na minha vida e aceitei vir para cá por livre vontade. Precisava de ajuda pois os caras do PCC iriam me matar, eu estava devendo eles, peguei droga pra vender e consumi tudo. Hoje eu tô limpo, mas eu sei que lá fora eu iria recair, por isso resolvi voltar para a chácara e ajudar a pastora. Conheci minha esposa aqui dentro, namorei e casei. Faz três anos que estou aqui e para onde a pastora, o projeto for, nos vamos”, conta um dos internos, Clemerson Barbosa, 23 anos.


A esposa de Clemerson é a Amanda Januária, 18 anos, meio tímida para conversar de início, Amanda se soltou aos poucos e disse que há três anos está no ministério da pastora Wainer. Ela contou para a reportagem como conheceu as drogas. “Eu briguei com minha mãe e resolvi sair de casa, sem lugar para morar, um grupo de amigos ficou de arrumar um local para me abrigar, como eu era menor na época, totalmente descabeçada, sem pensar, eu fui e acabei parando na boca de fumo. Graças a uma tia que conhecia o pastor da igreja no bairro Itamaracá que me indicou a pastora e já vim para cá”, disse emocionada Amanda.


 

Aliado a força de vontade e a disciplina, o interno tem de obedecer ao plano de recuperação da Casa, que é de no mínimo nove meses, com o direito de ressocialização a partir de análise e aprovação de equipe técnica. Eles podem receber visitas semanais 30 dias após a internação, somente de parentes de primeiro grau.

 

Quem quiser conhecer de perto o Projeto Casa do Renovo e fazer doações basta ligar nos números: 9257 6041 ou 9230 8406.