Saúde

25/01/2018 19:00

Com dedo fraturado e após passar por dois hospitais, paciente desembolsa R$ 6 mil para cirurgia

Sem apoio, mulher de 42 anos teve de procurar a rede privada para conseguir fazer o procedimento

25/01/2018 às 19:00 | Atualizado Rodson Willyams
Dedo no dia do acidente e como está no final. - Reprodução / Arquivo Familiar

Negligência. Este é o sentimento de Ana Luiza Bispo, 23 anos, que acompanha a mãe Marta Bispo, de 42 anos, para tratar de sua saúde em Campo Grande. Ambas residem em Chapadão do Sul, a 331 km da Capital.

Mãe e filha percorreram dois hospitais e, sem sucesso no atendimento, tiveram de emprestar R$ 6 mil para fazer cirurgia de emergência em rede privada, mas já sabendo que o movimento do dedo havia sido prejudicado.

O drama de Marta começou no dia 29 de dezembro do ano passado, quando a salgadeira quebrou o dedo da mão direita em uma máquina de massas, enquanto estava no serviço em Chapadão do Sul. A mãe procurou atendimento no Hospital Municipal da cidade. "Minha mãe chegou no hospital com o dedo quebrado e com fratura exposta", relata Ana Luiza.

"Eles fizeram uma sutura no dedo da minha mãe e colocaram uma tala de ferro e a mandaram para casa porque não tinha médico ortopedista no local. Só que não engessaram o dedo dela e quem a atendeu disse que não precisava engessar. A minha mãe foi para casa sentindo muita dor", conta a filha.

Ana Luiza ainda relata que no dia 2 de janeiro procurou o posto de saúde da cidade para saber se teria o médico ortopedista. Conseguiu um consulta no dia 12 com o médico especialista, que pediu novo raio-x. O médico teria dito que 'não poderia fazer mais nada', uma vez que o dedo já estava com fratura torta.

"Ele nem olhou o dedo dela e disse que o problema era do hospital, que deveria ter engessado, e ainda falou que eles deveriam dar um jeito. O médico disse que ela já teria pedido o movimento devido a demora. No dia 15, nós pegamos um encaminhamento fomos até ao hospital da cidade. De lá, eles nos mandaram para a Santa Casa com pedido de cirurgia de urgência", comenta.

Porém, quando chegaram na Santa Casa, a equipe do hospital a avaliou e não quis atender, segundo Ana, dizendo que já havia se passado mais de 20 dias do caso. "A Santa Casa nos disse que não poderia mais atender porque não se tratava mais de cirurgia de urgência e que o caso seria de cirurgia eletiva, chegaram a querer nos mandar de voltar para Chapadão".

Inconformadas com a situação, ambas emprestaram R$ 300 para irem a um médico particular que pediu novos exames. Ao final, constatou que o caso é de urgência, "inclusive, com a possibilidade de perder o dedo". O valor de uma cirurgia na rede privada é de R$ 6 mil. "O patrão da minha mãe nos emprestou esse dinheiro e ela vai fazer a cirurgia na quinta-feira em hospital particular, mas já sabe que não terá todo o movimento do dedo novamente".


Pela imagem, é possível ver o inchaço no local. (Foto: Arquivo familiar.)

Influência política

Após receber a negativa da Santa Casa, a família entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Chapadão. Depois do contato, uma mulher do setor de regulagem do município teria entrado em contato com Marta, a pedido do próprio prefeito da cidade, e oferecido ajuda para um novo encaixe por meio de 'ajuda política' e de 'contatos em Campo Grande'.

"Veio uma ambulância lá de Chapadão até aqui e nos levaram lá para a UPA Coronel Antonino. Ficamos o dia inteiro lá. Só que eles não quiseram atender. Nos falaram que por causa da Santa Casa ter se recusado nenhum outro hospital iria pegar o caso, porque não seria mais de urgência. Por isso, que tivemos que ir para a rede privada, mesmo a gente não tendo condições de pagar", diz a filha.

"O que mais nos deixa indignados é que um descaso no primeiro hospital nos causou muitos transtornos. Estou deixando de trabalhar para cuidar da minha mãe e estamos de favor em casa de parentes. Isso tudo poderia ter sido evitado se o hospital inicialmente tivesse nos encaminhado para Campo Grande logo quando aconteceu isso", pontua.

Por fim, a reportagem conversou com Marta. "Me sinto um nada de estar nas mãos deles. Estou com o meu dedo paralisado tudo por conta de negligência do hospital. Eu trabalho com as minhas mãos e agora estou impossibilitada de fazer o meu trabalho", finaliza.