Polícia

25/01/2018 15:10

Discretos, personagens principais da 'máfia dos stents' tiveram caminhos cruzados na ganância

Entre os que conhecem o cardiologista Mercule Pedro o clima é de espanto

25/01/2018 às 15:10 | Atualizado Liziane Berrocal

Considerada “eminência” parda do meio médico, Pablo Augusto de Souza Figueiredo é alguém avesso às redes sociais. Dono de duas empresas de produtos hospitalares em Belém, no Pará, hoje ele recebeu medida cautelar de tornozeleira eletrônica após investigação apontar que fazia parte de um esquema de superfaturamento de insumos para cirurgias cardíacas.

Na outra ponta, Mercule Pedro Paulista Cavalcante. Mestre em medicina, conhecido no meio cardíaco, há pouco mais de uma semana havia perdido o pai. Querido entre os colegas, era aclamado como um dos grandes cirurgiões de Campo Grande, sendo referência no campo da hemodinâmica. Fotos nas redes sociais? Sempre ao lado dos amigos e ligadas à sua profissão, ou seja, praticando o ofício de cirurgião.

O que cruzou o caminho desses dois homens: segundo a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União, Mercule é suspeito de aceitar propina para fraudar licitações e direcionar a compra dos materiais – superfaturados ou mesmo vencidos – para ajudar a empresa de Pablo, a Amplimed.

Entre os amigos e colegas de profissão do médico, o clima é de espanto e tristeza.

"Um grande profissional, uma pena ver isso acontecer", contou um colega de jaleco, sob condição de anonimato. Ele já foi afastado da Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores de Mato Grosso do Sul) onde operava e era ovacionado. 

Superfaturamento 

As investigações mostraram que o médico aceitava viagens e transferência de veículos de alto valor em seu nome como forma de pagamento. Um stent, que no mercado teria o valor de R$ 800 a R$ 900, era comprado por pelo menos R$ 2 mil, ou seja, mais que o dobro do preço.

O cardiologista tinha várias funções em hospitais públicos, que iam desde controle de estoque até de licitações, que acabavam favorecendo, em conjunto com empresários, para que a empresa vencesse a licitação.

“Devido a precariedade de fiscalização e controle nesses locais, alguns stents coronarianos eram desviados e tinham valores superfaturados durante a compra. E itens de aparelhos eram, ou desviados do estoque, ou reaproveitados, e até mesmo vencidos e reinseridos no mercado”, explicou Cleo Mazotti, que está na superintendência interina da Polícia Federal.

E, bem ao esquema de licitações que são direcionadas para favorecer empresas, eram impostas cláusulas restritivas e pesquisavam os produtos com especificações exatas e também com pareceres médicos subjetivos. “Com isso acabaram favorecendo a empresa investigada”.

E o horror, de quem conhece a saúde pública no Brasil não termina aí, já que os envolvidos ainda são suspeitos da prática de desviar materiais públicos – de quem realmente precisa, para clínicas particulares, e assim vender a quem pode pagar.