Polícia

17/04/2018 19:00

Em MS, 16 mulheres são vítimas de violência doméstica a cada 24 horas

Somente entre janeiro e abril, polícia já contabilizou 27 feminicídios em todo o Estado

17/04/2018 às 19:00 | Atualizado Diana Christie
Wesley Ortiz

No começo era um romance. Ele era muito carinhoso, enviava flores e dizia para todo mundo que a amava. Um dia pediu que ela trocasse de roupa, aquela era curta demais e os homens ficariam olhando. Ela aceitou. Outro dia ficou com ciúmes da mensagem de um amigo, jogou o celular na parede. Algo parecia errado, mas ele era tão carinhoso...

Já ouviu uma história parecida? Por definição, a violência doméstica se trata de um padrão de comportamento que envolve violência ou outro tipo de abuso por parte de uma pessoa contra outra em um contexto doméstico, como a união matrimonial. Ela pode ser física, mas também psicológica e financeira, retirando a liberdade da vítima.

Em Mato Grosso do Sul, os índices de violência doméstica são assustadores. Somente no Judiciário, quando os casos chegam até lá, são cerca de 6 mil sentenças judiciais – com ou sem mérito – por ano. De acordo com levantamento do TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), foram 6.187 sentenças em 2016, 6.314 em 2017 e 1.940 até 11 abril deste ano.

Os números de feminicídios – quando os agressores chegam a matar a vítima – são tão assustadores quanto, com cinco sentenças proferidas em 2016, 16 em 2017 e 12 decisões até o início de abril deste ano.  Os dados do TJ/MS confirmam as estatísticas da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), compiladas na tabela abaixo:

Casos

Um dos casos que chocaram Campo Grande foi a morte da jovem Mayara Fontoura Holsback, 18 anos, na madrugada do dia 15 de setembro do ano passado. Ela foi assassinada a tesouradas pelo namorado Roberson Batista da Silva, 32 anos, que testemunhou sobre o crime em audiência no último dia 16 de abril.

Roberson alegou que deu o golpe após “ficar cego” ao ser chamado de corno e ter sido humilhado pela vítima. Ele afirma que a jovem fazia programas e não desistira da profissão, em que teria mais prazer do que com ele. Ainda, coloca a culpa nas drogas, em uma noite que teria sido regada à álcool e cocaína.

Outra Mayara também teve o mesmo destino. É a musicista Mayara Amaral, 27 anos, morta a marteladas pelo namorado Luis Alberto Bastos Barbosa, 29 anos. Ele assassinou a jovem em um motel da Capital e tentou carbonizar o corpo na região do Inferninho no dia 25 de julho de 2017.

Foto: Reprodução/Facebook/Wesley Ortiz

Inicialmente, Luiz disse que uma terceira pessoa foi com o casal ao motel e matou a vítima durante a relação sexual, porém, depois de alguns dias presos, mudou o depoimento e assumiu a autoria do crime. Ele alega que a jovem era sua amante e teria escarnecido de uma doença sexual que contraiu dele.

Nos dois casos, os autores culpam as vítimas pelo crime e buscam difamar a reputação das jovens, com insinuações de prostituição e infidelidade. Roberson ainda passa o papel de provedor ao garantir que ‘dava tudo’ que Mayara precisava, como presentes caros, joias e até veículos.