Na entrevista da semana, o site Topmídia News retoma o assunto das eleições 2014. Conversamos com mulheres com expressiva bagagem política e que são cotadas como pré-candidatas nos partidos a que são filiadas. Falamos com exclusividade, com a ex-primeira dama de Campo Grande e suplente do senador Waldemir Moka (PMDB), Maria Antonieta Amorim dos Santos.
Artista plástica, pós-graduada em Comunicação Visual e militante experiente, Antonieta nos conta um pouco de sua trajetória na política nacional e local, os momentos mais marcantes na gestão de presidente do Instituto Mirim de Campo Grande, Fundo de Apoio a Comunidade (FAC) e titular da Secretaria Municipal de Políticas e Ações Sociais e Cidadania (SAS). Confira a entrevista:
TOPMÍDIA NEWS: Quando começou seu envolvimento com a política?
ANTONIETA AMORIM: Meu envolvimento com a política começou dentro de casa, aprendendo na estrutura familiar e na escola noções fundamentais de civismo. Sou natural do Rio Grande do Sul e me lembro que na escola não entravamos para sala de aula sem antes cantar o hino nacional. Estas noções me acompanharam e quando cheguei ao Estado uno de Mato Grosso, participei pouco tempo depois no processo da divisão do Estado. Foi muito marcante, ainda mais porque a data é próxima ao meu aniversário e tive a oportunidade de acompanhar a comemoração da população.
Isto me causou ainda mais interesse, pois desde aquela época acompanhava os assuntos políticos. Na época da Lei Falcão, eu ficava assistindo televisão e acompanhava os candidatos ao governo (naquela época ainda não existiam as eleições diretas) e anotava em um caderno os nomes, números e frases de cada representante. Não sei lhe dizer o porquê, mas meu interesse era fora do comum para minha idade. Uma coincidência que acredito contribui para minha curiosidade, foi que o nome indicado para assumir o governo do novo Estado, foi um tio meu, Arry Amorim Costa. Apesar de não termos muito contato fiquei atenta com o trabalho realizado para se compor a unidade federativa.
Alguns anos depois segui para o estado do Rio de Janeiro onde cursei Artes Plásticas na UFRJ e me vi no meio de uma verdadeira revolução de universitários, artistas e sociedade civil que lutava pelo direito de votar democraticamente. Um momento marcante nesta época foi minha participação no primeiro comício das Diretas na Candelária, com a presença de mais de um milhão de pessoas. Foi muito emocionante, ainda mais quando ouvi de Sobral Pinto, renomado jurista a seguinte frase: ‘O artigo nº 1 da constituição do Brasil afirma: todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido.’ Estas palavras calaram fundo para mim e a partir daí vislumbrei a possibilidade de trabalhar e lutar nos movimentos sociais e nas causas políticas. Depois, com a chegada da primeira eleição democrática, um conterrâneo, Leonel Brizola se candidatou a governador do Estado. Fiquei enlouquecida, me coloquei como voluntária e trabalhei incansavelmente, foi uma experiência e tanto.
A participação ativa nestes momentos históricos da política nacional me preparou para lutar pela cidadania, pelos meus direitos e de todos os cidadãos. E minha história continuou quando me casei com Nelson Trad Filho e retornei a Campo Grande. Acompanhei e participei ativamente de todas as campanhas e com a vitória na Prefeitura de Campo Grande iniciou outra etapa de trabalho em minha vida.
TOPMÍDIA NEWS: Quais os projetos que considera mais importante na sua gestão como primeira dama e titular do Instituto Mirim, FAC e SAS?
ANTONIETA AMORIM: Atuar em todos estes setores da administração pública despertou em mim um grande amor por Campo Grande. É uma paixão que não tem preço, amo esta cidade como se fosse minha e tenho um sentimento especial de querer cuidar da população, zelar como uma mãe por seus filhos.
Fui presidente do Instituto Mirim e tive a oportunidade de dar continuidade ao brilhante trabalho realizado pela ex-primeira dama, Beth Puccinelli. Conseguimos construir a segunda sede do Instituto, viabilizando o aumento do número de vagas a jovens que precisam apenas de uma oportunidade para direcionar sua vida pessoal e profissional. Fico muito feliz quando encontro ainda hoje, homens e mulheres que passaram pelo local e hoje trabalham, têm família formada e estabilidade profissional e lembram com carinho do trabalho que desenvolvemos lá.
No Fundo de Apoio a Comunidade (FAC) participamos de importantes campanhas sociais, como entrega de presentes no dia das crianças, natal, agasalhos e outros auxílios realmente importantes para uma grande parcela da população que é carente em tudo. Uma situação que também me ensinou muito sobre sentir a dor, a necessidade do próximo foi a gincana de agasalhos realizada pela Águas Guariroba. Eu e minha equipe saímos às ruas pedindo ajuda a população e testemunhamos de tudo, de cachorro bravo, palavras de desdém até pessoas maravilhosas que realmente doavam o que era do uso particular. Foram situações comoventes e vinham dos moradores de bairros mais periféricos que se emocionavam com as necessidades de irmãos menos favorecidos.
Na segunda gestão como primeira dama, assumi a pasta da SAS e mais uma vez pude absorver realidades dolorosas, mas que me oportunizaram a contribuir de alguma forma. Nunca me esqueço de um conselho do governador André Puccinelli que me disse: quer aprender como se trabalha e administra uma cidade? Fale com os moradores, a dona de casa, o dono de bar ou o representante de um projeto social. E foi isso que fiz, percorri todos os bairros de Campo Grande e fiquei sabendo quais as necessidades mais urgentes de cada região. Isso permaneceu para sempre no meu íntimo. É claro que não fiz tudo isso sozinha, sempre contei com uma equipe maravilhosa, colaboradores e amigos de mais de 20 anos de caminhada e me inteirei de assuntos que só sabe quem foi a campo, andou pelas ruas e visitou famílias e comunidades carentes.
TOPMÍDIA NEWS: Uma grande marca de sua gestão foi a criação da Cidade do Natal. Como foi o início de tudo?
ANTONIETA AMORIM: Com minha formação cultural e cristã percebi que a cidade não tinha uma árvore de natal como existem em muitos municípios. Nós já realizávamos um trabalho de conscientização da data para as crianças quando entregávamos presentes no final de ano. Sempre pontuamos que o natal é a comemoração do aniversário de Jesus Cristo e procurávamos repassar para todos.
Iniciou-se assim, o desejo e a busca de levar o espírito natalino para população com a decoração das árvores centenárias na Avenida Afonso Pena e a criação de uma árvore e um presépio. Só que as idéias foram crescendo junto com nossa vontade que era muita. Saímos em busca de parceiros, não utilizávamos dinheiro público para a construção. E quando percebemos, de uma praça de natal chegamos a Cidade do Natal, levando a população um momento de confraternização, lazer e reflexão sobre a data. Contamos com parceiros importantes como o chefe da Casa Civil, Osmar Gerônimo e o arquiteto Paulo Hernandes que colocaram literalmente a ‘mão na massa’, para ver toda aquela beleza em funcionamento.
TOPMÍDIA NEWS: Outro importante trabalho na Assistência Social foi a mudanças no atendimento a terceira idade. Pode nos falar um pouco sobre ele?
ANTONIETA AMORIM: No último censo do IBGE foi divulgado que a população idosa em Campo Grande ultrapassou 50 mil pessoas. Na época existia um projeto que era o baile no Horto Florestal e nosso espaço de convivência era pequeno para atender a demanda. Então quando vimos o espaço do Grêmio Enersul ir a leilão unimos esforços com o governo do Estado para construir o primeiro Centro de Convivência dos Idosos (CCI Vovó Ziza). Sonhamos e planejamos cada espaço, cada curso e conseguimos resgatar a dignidade de pessoas que entraram na terceira idade e se sentem deprimidas e desmotivadas. As pessoas estão vivendo mais e com mais qualidade e necessitam conviver para que possam aproveitar este período da vida.
O resultado foi tão vitorioso que Campo Grande é referência nacional em centros de convivência, sendo que temos o maior e mais bem equipado no ranking brasileiro. Focamos nosso trabalho na assistência social e conseguimos humanizar as atividades. Aprendemos muito também com os participantes, pois, o idoso é muito sábio e tem muito a contribuir.
TOPMÍDIA NEWS: A senhora é cotada pelo PMDB como uma das pré-candidatas na disputa de deputada estadual. Qual sua posição sobre a indicação?
ANTONIETA AMORIM: Venho trabalhando ativamente com o senador Moka, mas minha base é aqui na Capital, já que me comprometi com a população a permanecer aqui. Com sua generosidade, ele me responsabilizou por indicar projetos e ações na área de educação e ação social que foram transformadas em emendas para a cidade. Aliada a experiência que já tenho me coloquei a disposição do partido para contribuir da melhor forma possível, mas isso será conversado posteriormente.
TOPMÍDIA NEWS: Como avalia o espaço concedido as mulheres no cenário político?
ANTONIETA AMORIM: Desde que a mulher conquistou o direito de votar, em 1934 muito se melhorou no sentido de inseri-la na sociedade. Contudo, ainda verificamos com pesar muitas desigualdades. No trabalho ainda somos menos remuneradas do que os homens, a questão da violência persiste, apesar de termos leis de proteção como a Maria da Penha.
É preciso deixar claro a importância que as mulheres têm na construção da sociedade, com competência, capacidade e sensibilidade. Sempre digo que precisamos nos atentar para conseguir valer os direitos conquistados e batalharmos para ser reconhecidas como cidadãs. Como conseguiremos isso? Pelo voto, com a escolha de representantes que estejam comprometidos com o fortalecimento e ampliação destas conquistas. Um grande passo foi a escolha de uma presidente mulher em nosso país, a exemplo de países como Alemanha e China. Precisamos também aumentar a bancada feminina no congresso, no senado, na assembléia e na câmara, lembrando a abertura conquistada com muito esforço pelas pioneiras da política em nosso Estado.
TOPMÍDIA NEWS: Como avalia o desempenho das atuais vereadoras da Capital?
ANTONIETA AMORIM: Estão de parabéns pelo trabalho e comprometimento com a população campo-grandense. Em especial a vereadora Carla Stephanini que tem trabalhado com dedicação e competência. Torço para que mais mulheres se dediquem a política, se filiem e comecem a trabalhar. Sejam como candidatas ou como militantes, para exigirem retorno dos poderes constituídos.
Quero ainda deixar aqui meu agradecimento aos cidadãos e cidadãs anônimos, os líderes comunitários, conselheiros e representantes de entidades diversas que se dedicam a trabalhar pelos seus semelhantes, de forma voluntária e dedicada. A eles rendo minha homenagem, por me ensinarem a olhar a cidade e perceber quais suas reais necessidades. Se hoje Campo Grande é bonita isso se deve a estas pessoas que atuam incansavelmente junto aos políticos, levando as reivindicações da população.