Antônio Carlos Pereira, 36 anos, precisou mudar a rotina radicalmente após sua mãe, Clarinda Conceição, 59 anos, sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral) há cerca de um ano. Ela perdeu metade dos movimentos e agora precisa da ajuda do filho para as atividades mais simples como a alimentação e o banho. Para dificultar, os dois moram em um barraco de chão batido, com paredes de madeira e telhados quebradiços, no bairro Mata do Jacinto.
Clarinda ficou com o lado esquerdo do corpo completamente paralisado, desde o dia 6 de junho de 2014. Durante três meses, uma ONG (Organização Não Governamental) oferecia a condução para ela fazer fisioterapia na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), mas um contratempo interrompeu o serviço e a família perdeu a carona.
“O motorista da van vinha em casa e levava a minha mãe para fazer a fisioterapia, que era gratuita, durante três vezes por semana, mas a van foi parada em uma blitz. O motorista teve a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) recolhida e levou multa de trânsito. O carro só não foi levado para o Detran (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul), devido aos idosos cadeirantes que estavam nos bancos dos passageiros. Não tenho carro e nem dinheiro para colocar gasolina para alguém levar a minha mãe. Perdemos a vaga na fisioterapia porque tinha um limite de faltas devido o número grande de pessoas na fila pelo tratamento. A vaga dela foi passada para outra pessoa”, relata o filho Antônio.
A família mora em uma casa simples de chão batido, com apenas uma cozinha e um quarto. Foto: Deivid Correia.
Clarinda tem dificuldades para falar, andar e passa o dia sentada ou deitada em uma cama de solteiro. O gesto bonito do filho é admirável e emociona a mãe. Com a voz embargada, ela tenta explicar o dia-a-dia. “O meu filho que cuida de mim e compra as nossas coisas. Quando eu fazia fisioterapia ainda conseguia movimentar os braços e pernas. Ele faz comida e me dá banho. É difícil e vou melhorar”, destaca.
As lágrimas são inevitáveis quando ela lembra dos outros filhos e netos. Clarinda teve cinco filhos, mas somente Antônio e uma sobrinha de 16 anos, que mora no mesmo quintal, cuidam dela. “O que falta é condução. Tenho que fazer alguma coisa. Não posso ficar assim. De vez em quando meus netos aparecem aqui e dão uma ajuda”.
Clarinda não levanta sozinha e chora ao relatar o abandono. Foto: Deivid Correia.
Além disso, Clarinda tem um irmão, Adão Conceição, de 56 anos, que tem problemas com alcoolismo e também mora em outro barraco de madeira, colado na casa dela. Ele também depende de Antônio e da adolescente para comer e beber.
“O meu tio também é um caso sério. Os nervos estão atrofiados. Ele bebe. É completamente viciado e está se acabando. Ele anda pouco, mas quando eu saio para ir ao trabalho, os amigos de bar acabam trazendo bebidas. Ele não quer tratamento. Já tentamos tratá-lo mas ele nega o tratamento. Como fica bêbado, não consegue trabalhar e tenho que levar a comida e água”, conta Antônio.
Antônio ganha R$ 788 com o trabalho de serviços gerais em uma escola, paga a pensão alimentícia da filha e sustenta a mãe e o tio com menos de R$ 500 por mês. O sonho é terminar uma casa nos fundos do terreno e destruir o barraco feito de madeiras velhas. “Comecei a construir uma casa edícula e a obra está parada. Falta tudo. Só ergui as paredes. Falta porta, janela, cimento, tijolo, fio e fiação. Lá dá para abrigar a minha mãe e meu tio. Tenho quatro irmãos e não aparece nenhum para ajudar”.
A casa de tijolos está inacabada pela falta de materiais para construção. Foto: Deivid Correia.
Antônio explica ainda que a escritura do terreno está irregular junto a Prefeitura Municipal de Campo Grande. “Esse terreno foi da minha avó. Ela morava com toda a família, vendeu o terreno e depois faleceu. O proprietário do terreno nunca pediu para a gente sair do local. Fui até ele e disse que desejava comprar o terreno para a minha família e continuar no mesmo quintal. Entreguei uma motocicleta no valor de R$ 10 mil, mas agora falta pagar R$ 3,5 mil para regularizar a papelada da transferência e mais o imposto de asfalto que está atrasado. Esse outro valor já nem sei o preço. A minha luta é grande. Eu não queria ficar nessa vida. Preciso que apareça uma alma boa para ajudar”.
Os móveis da Clarinda são antigos e estão deteriorados. O lugar é muito simples e tem risco de desabar com chuva forte. “O que vir de ajuda será bem-vindo. Qualquer coisa já ajuda. Pode ser comida, condução, dinheiro, material de construção, ajuda médica para conseguir um novo fisioterapeuta, fraldas geriátricas”, enumera.
O barraco não tem estrutura para suportar uma chuva forte. Foto: Deivid Correia.
No começo deste ano, Antônio fez o pedido do recurso do auxílio-doença para a mãe, Clarinda, para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), mas teve a ajuda de custo negada . O tio Adão também não tem recurso algum e sobrevive da ajuda do sobrinho.
Clarinda, Antônio e Adão, moram na rua Miguel Seba, 995, no bairro Mata do Jacinto, em Campo Grande. Quem tiver interesse em ajudar pode entrar em contrato pelo telefone: (67) 9101-8921.