Dessa vez não se viu o comedimento de ações e atos dos candidatos ao governo do Mato Grosso do Sul. Ainda que mantivessem o discurso de falar sobre projetos sem, no entanto, explicar de que forma serão executados por eles e suas equipes, partiram para ataques comedidos em determinados momentos e acirrados em outros.
Uma dobradinha não oficial se formou de última hora, mas não que não fosse caso pensado – ou talvez até uma estratégia pensada nos bastidores -, entre Reinaldo Azambuja (PSDB) e Nelsinho Trad (PMDB), com um único alvo – Delcídio do Amaral (PT) -, e uma só arma, o caso Petrobras.
Mas o caso Petrobras é uma incógnita que corre em segredo de justiça e permite apenas especulações, afinal foram muitos nomes vazados e todos, sem exceção, pelo ex-diretor que luta pelo benefício da delação premiada. Afora isso, apenas as doações de campanha feitas de forma legal por empresas envolvidas no esquema, mas mesmo as doações beneficiaram tanto Delcídio quanto para Reinaldo Azambuja, em menor ou maior monta.
E o debate foi sendo entrecortado por críticas aos governos anteriores, tanto da gestão Zaca do PT – que era atacado tanto por Nelsinho quanto por Azambuja, quanto da gestão atual de André Puccinelli (PMDB), criticado em suas ações pelos candidatos com menores possibilidades de vitória: Sidney Melo (PSOL), Evander Vendramini (PP) – este jogando tudo e todas as cartas para eleger senador o ex-prefeito Alcides Bernal (PP) – e, também, Reinaldo Azambuja que procurou desvincular a constante parceria PSDB/PMDB nos governos do Estado e da Capital.
O que esperar?
Das propostas e promessas podemos aguardar uma Holanda dentro da imensa Etiópia. Todas as críticas indicavam que faltou verba e gestão para que o Mato Grosso do Sul prosperasse conforme o desejado pelos seus cidadãos, com Saúde plena, Educação primorosa, Indústria e Comércio pujante, Infraestrutura adequada às necessidades, Fronteira segura e População idem; Turismo amplamente desenvolvido; tudo beneficiado pela alta tecnologia. Vale lembrar uma frase de Sidney Melo quando se dirigiu à Nelsinho Trad: “Eu conheço o Mato Grosso do Sul real, e gostaria de viver nesse Mato Grosso do Sul que o senhor enxerga [sem problemas]”.
Questão indígena
Uma das questões mais indigestas, demarcação de terras indígenas, foi unanimidade entre os candidatos: buscar soluções urgentes. Ainda que houvesse maior cobrança ao candidato Delcídio, pelo fato de seu partido, o PT, estar à frente da administração federal há 12 anos, e esta ser uma questão a ser solucionada pela Federação, responsável primeira pelas etnias indígenas, o senador foi beneficiado por ter tido, como senador, um posicionamento efetivo na questão. Delcídio apresentou dados atuais sobre os valores das indenizações pedidas versus indenizações calculadas até agora e disse que atuará como mediador para que haja um consenso entre as três partes envolvidas: produtores rurais, indígenas e governo federal.
Industrialização
Exceto Nelsinho usou de números de atração de indústrias e facilitadores para a instalação de empresas durante sua gestão, que se demonstram pouco confiáveis, todos, inclusive o peemedebista salientaram que a grande industrialização propalada pelo atual governo, deu-se apenas no setor sucroalcooleiro e de beneficiamento de grãos. As propostas indicam que o estado precisa se desenvolver de forma uniforme, beneficiando a todos os municípios de todas as regiões. Mencionaram o fato de o desenvolvimento não ser abrangente, uma vez que algumas cidades têm sofrido com o fenômeno do esvaziamento de sua população, com os jovens buscando outras regiões dentro do Mato Grosso do Sul e até em outros estados com maior oferta de empregos. Apresentaram como âncora do desenvolvimento a preparação de mão de obra dos jovens para que seja utilizada na industrialização pretendida.
Educação
O projeto maior consiste em espalhar escolas de ensino em tempo integral, mas não nos moldes das primeiras experiências, e sim com aproveitamento total do estudante para que estas escolas não passem a funcionar como “depósito” de crianças. Reforçar a qualidade de ensino tirando Mato Grosso do Sul da vergonhosa posição que ocupa hoje.
Hospitais Regionais
A regionalização da saúde de forma a desafogar o atendimento em Campo Grande, foi o tema central que, de acordo com as promessas, porque fórmulas e investimentos para tanto não foram mencionados, a população pode ficar despreocupada em relação ao atendimento à saúde nos 79 municípios do estado. Todos irão colocar em funcionamento os Hospitais inoperantes por falta de equipamentos e profissionais, escrever os últimos capítulos da novela Hospital do Trauma que se arrasta há duas décadas, e implantar equipes de saúde por todo o território sul-mato-grossense. O único a lembrar que o saneamento básico proporciona qualidade de saúde que evita doenças foi o candidato médico Nelsinho Trad.
Carga Tributária
Deve ser equacionada e desonerar produtores e população. Não mencionaram um dado sequer, uma estatística que fosse, uma porcentagem como ideal, mas afirmaram que podem colocar em prática todas as outras promessas mesmo com queda da arrecadação. Apenas Sidnei Melo traçou um be-a-bá econômico de: menores impostos geram maior consumo que gera mais produção que gera mais emprego que geram maior consumo etc.
Turismo
Subvalorização desta importante indústria foi o ponto comum. A necessidade de explorar novas frentes e modalidades turísticas é ponto comum, mas também ai sem um direcionamento ou ideias concretas e plausíveis. O roteiro turistico foi muito virtual, sem algo que implique garantia de operacionalização.
Troca de tiros
Dessa ficaram ilesos os candidatos Sidney Melo e Evander Vendramini, menos sorte tiveram Nelsinho Trad, Reinaldo Azambuja e, principalmente, Delcídio do Amaral, o líder das pesquisas de intenção de votos a ser desacreditado pelos oponentes com maiores chances de ir ao segundo turno.
Nelsinho evitou o ataque direto, mas não deixou de “cutucar” durante vários momentos o senador, pela sua ligação com o governo petista envolvido nos mais diversos escândalos de corrupção. Sidney Melo chegou a citar enquete recente do TopMídia News única a apontar a “Corrupção” como tema principal das preocupações dos cidadãos sul-mato-grossenses, seguido de “Saúde”, quando questionou o senador nas diversas reportagens que ligam seu nome aos escândalos Petrobras.
http://www.topmidianews.com.br/politica/noticia/enquete-mostra-que-combate-a-corrupcao-e-saude-sao-prioridades-agora
De forma geral, Delcídio se saiu bem das acusações, lembrando que em um dos casos a Revista Veja fez uma retratação por meio de sua edição eletrônica, 24 horas após a denúncia. Em relação à compra da refinaria de Pasadena, afirmou que já não era funcionário da estatal à época da decisão pela compra. Corrigiu o candidato do PSOL em relação ao termo investigação, e disse que o inquérito, não investigação, está em fase de conclusão e será arquivado por absoluta falta de provas.
Os ataque se seguiram, mas o candidato petista insistiu que irá responsabilizar judicialmente os responsáveis por divulgar boatos.
Reinaldo cobrou uma resposta a respeito dos folhetos apócrifos encontrados pela polícia em comitê petista, que a assessoria do candidato nega qualquer envolvimento, reputando ao Partido a responsabilidade pelos impressos. Delcídio cobrou a insistente onda de denúncias que partem do candidato ao Senado pela coligação capitaneada pelos tucanos, inclusive com a compra e distribuição gratuita de exemplares que traziam como manchete principal ataques ao petista.
Pela postura dos candidatos e pela estratégia de partir para o ataque em busca dos votos perdidos, foi o melhor debate de uma arrastada campanha que parece não ter fim, nem propostas concretas. Para o eleitor, mexeu com o “torcedor” que caracteriza o brasileiro. É aguardar a melhor das pesquisas, a contagem de votos” para saber quem realmente se saiu melhor.
Um ponto a ressaltar é que os muros pichados com “Fulano venceu a pesquisa” estão sendo substituídos pelas páginas pessoais das redes sociais. Não menos cansativo, mas muito mais fácil de limpar.