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Polícia

Megaoperação prende 30 milicianos, dentre eles 4 PMs e um bombeiro

O principal alvo da operação é conhecido como Ferreirinha. Ele é acusado pela Polícia Federal de tentar atrapalhar as investigações do assassinato de Marielle Franco

31 maio 2019 - 08h42Por Da redação/Meia Hora

Os policiais civis da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) fazem, desde o fim da madrugada desta sexta-feira (31), uma megaoperação para prender 30 pessoas ligadas à milícia que atua em bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma das maiores do estado. Dentre os alvos da Operação Entourage, como foi batizada, estão quatro PMs e um bombeiro.

Os agentes também pretendem cumprir 62 mandados de busca e apreensão. O grupo é liderado por Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, que chegou a ser investigado como um dos mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes. Até o momento, foram cumpridos 15 mandados de prisão, sete contra pessoas que estavam soltas, dentre elas três policiais militares.

Um dos presos é Eduardo Almeida Nunes de Siqueira, de 38 anos, que clona veículos roubados e furtados para repassá-los aos integrantes da organização criminosa. Ele é um dos principais clonadores de carros do estado e é suspeito de ter clonado o Chevrolet Cobalt prata usado na execução de Marielle e Anderson.

OS PRESOS QUE ESTAVAM EM LIBERDADE

1. PM Ricardo Bezerra dos Santos, Ricardinho (31 anos) - Chefe do Terreirão (Recreio dos Bandeirantes)

2. PM Leandro Marques da Silva, Mingau - Homem de confiança de Orlando (02 da quadrilha)

3. Eduardo Almeida Nunes de Siqueira (38 anos) - Clonador de carros roubados

4. Rafael Carvalho Guimarães, Rafael da Merck -Clonador deveículos

5. Fábio Conceição da Silva, Tibinha (32 anos) - Atua na Boiúna e se reporta diretamente a Orlando

Um dos mandados de prisão cumpridos contra quem já estava preso foi contra o ex-PM Alan de Moraes Nogueira, o Cachorro Louco, que cumpre pena no Batalhão Prisional Especial (BEP), em Niterói. Ele é considerado o fornecedor de armas do bando e o matador da quadrilha.

Durante as investigações, foi descoberto que, no dia 25 de fevereiro de 2017, Alan, Orlando Curicica e o ex-bombeiro Luiz Claudio Ferreira Barbosa, o Claudinho, mataram os PMs Rodrigo Severo Gonçalves e José Ricardo da Silva, no sítio do Orlando em Guapimirim. Eles queimaram os corpos das vítimas e jogaram, no dia seguinte, na Cidade Alta, em Cordovil, para confundir a polícia, como se os traficantes da comunidade da Zona Norte tivessem sido os responsáveis pelas mortes.

MANDADOS DE PRISÃO CUMPRIDOS CONTRA PRESOS

1. Orlando Curicica - Líder da quadrilha, preso no RN

2. Ex-PM Alan de Moraes Nogueira, Cachoro Louco - Matador da quadrilha

FERREIRINHA

O principal alvo da operação é o PM Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha. Ele foi testemunha no caso Marielle e é acusado pela Polícia Federal de tentar atrapalhar as investigações. Ferreirinha morava na Taquara, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Como se mudou há 28 dias para um condomínio no Recreio, os policiais ainda estão procurando por ele.

O inquérito contra Ferreirinha e sua advogada, Camila Nogueira, por tentarem atrapalhar a investigação das mortes de Marielle e Anderson, foi entregue pela PF à Procuradoria-Geral da República (PGR) e tem mais de 600 páginas.

A investigação levou quase sete meses para ser concluída. A Polícia Federal quis saber se houve omissão ou fraude no processo de investigação das duas mortes. O inquérito concluiu que Ferreirinha e a advogada inventaram uma história para confundir a Polícia Civil do Rio. 

Ferreirinha chegou a ser considerado a principal testemunha do caso. Na época, o PM afirmou que Orlando Curicica e o vereador Marcello Siciliano (PHS) foram os mandantes do crime. Os dois sempre negaram as acusações.

Orlando Curicica está preso desde outubro de 2017 e atualmente cumpre pena em um presídio federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte. O bando do miliciano é acusado de aterrorizar moradores e comerciantes do Terreirão (Recreio), Camorim e Parque Carioca/Jambalaya (Curicica) e Merck, Boiúna, Santa Maria, Mapuá, Lote 1000, Pau da Fome, Tancredo, Jordão e Teixeiras (Jacarepaguá).

INVESTIGAÇÕES

As investigações para a operação de hoje começaram a partir de dois inquéritos policiais: um deles envolvendo a execução de Marielle e Anderson. O nome de Orlando Curicica, na época um dos suspeitos, foi apontado como responsável por vários crimes praticados por milicianos na Zona Oeste. As informações sobre sua quadrilha foram obtidas no celular dele, que foi apreendido no dia de sua prisão. O outro inquérito que levou à ação desta sexta é sobre uma intimidação e ameaça que o grupo paramilitar fez a um delegado e um juiz.

Os agentes estão em endereços do Rio e da Baixada Fluminense, como Ramos, Jacarepaguá, Recreio dos Bandeirantes e Bangu. Também vão ser cumpridos mandados em batalhões da Polícia Militar, dentre eles o 14º BPM (Bangu) e do Corpo dos Bombeiros, além de celas do Complexo Penitenciário de Gericinó, onde estão presos vários milicianos.

Ao DIA, o chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), o delegado Antônio Ricardo Nunes, disse que a Polícia Civil vai atuar com rigor até enfraquecer a milícia que está dominando várias regiões do estado. "Combater com rigor essas organizações criminosas é mais uma demonstração de força da Secretaria de Polícia Civil no combate às milícias. Todos os tentáculos desses grupos de transgressores serão objeto de rigorosas investigações, enfraquecendo cada vez mais essas estruturas criminosas", enfatizou.

'LEI DO SILÊNCIO'

Durante as investigações, os policiais conseguiram uma grande quantidade de documentos que comprovam a atuação dos milicianos. O material, anexado aos inquéritos policiais, demonstra que a atividade do grupo tenta criar um monopólio das atividades econômicas clandestinamente para subjugar a população local de forma ilícita.

Os inquéritos policiais, instaurados pela DH, revelaram que o grupo paramilitar atua na exploração ilegal de serviços básicos na região, como transporte, lazer, alimentação e segurança, cobrando taxas de proteção aos comerciantes, pedágios aos trabalhadores de transporte alternativos (vans e mototáxis), além de dominar associações de moradores. 

Os crimes praticados pelo bando são, em sua maioria, cometidos com muita violência, incluindo execução de testemunhas e tentativas de homicídio de autoridades responsáveis pelas investigações. Os membros da quadrilha fazem valer a "lei do silêncio" entre os moradores das regiões que atuam.

GRILAGEM

Os inquéritos policiais comprovaram ainda que a organização criminosa conta com grande poder armado, aterrorizando e impondo uma rotina de intimidação a moradores e eventuais testemunhas. 

Para manter o monopólio das atividades econômicas e a impunidade de suas ações criminosas, a quadrilha comete vários tipos de crimes, como homicídios, ameaças, torturas, extorsões, "grilagem", porte de arma de fogo, roubos, estelionato, contrabando, descaminho, dentre outros crimes.

A coordenadora do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Publico estadual (Gaeco/MPRJ), Simone Sibilio — que atua no Caso Marielle - acompanha as buscas na casa de um policial no Recreio dos Bandeirantes. As corregedorias da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, além do setor de inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), também participam da ação