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Polícia

‘Não tive intenção de matar. Só defendi meu filho’, diz Joice em cela de presídio

A cabeleireira Joice Espíndola da Silva é acusada de matar a facada Camilo de Freitas durante uma briga de rua, em maio de 2018

23 março 2019 - 10h25Por Da redação/JP News

Dez meses depois da morte do vendedor de tijolos Camilo de Freitas da Silva, atingido por uma facada no peito, a acusada pelo crime falou do caso pela primeira vez. A cabeleireira Joice Espíndola da Silva, de 35 anos, está presa desde maio do ano passado na cadeia feminina de Três Lagoas, aguardando o fim do processo e o julgamento, que não tem data prevista.

Em entrevista, ela afirma que não tinha intenção de matar Camilo, na época com 28 anos. “Eu jamais pensei em tirar a vida de qualquer pessoa. Foi uma fatalidade, um acidente. Só agi em legítima defesa do meu filho”, disse.

A cabeleireira, que tinha entre as clientes pessoas da alta sociedade três-lagoense, dona de um salão montado no bairro Vila Nova, zona Norte da cidade, hoje divide cela com outras cinco mulheres, entre elas, a vereadora licenciada Marisa Rocha, também secretária municipal de Esporte, presa há três semanas por suspeita de tráfico de drogas.

O caso

Camilo foi esfaqueado durante uma discussão com Joice, no bairro Bom Jesus da Lapa, em 20 de maio de 2018, quando, supostamente, estaria agredindo a mulher Larissa Fontoura, de 20 anos. Joice e três filhos, de 18, 16 e 11 anos, passavam pelo local. A cabeleireira disse que interveio no desentendimento do casal porque uma criança, que seria filha de Camilo e Larissa, dizia que o pai batia na mulher.

“Como a criança respondeu isso, eu já estava ligando para a polícia. Nisso, o Camilo começou a me xingar. Meu carro ‘afogou’ e ele veio em minha direção, totalmente alterado. O meu filho, que tinha 16 anos, desceu do carro e eu comecei a ficar desesperada. Estávamos voltando da festa de aniversário da minha filha e tinha um kit churrasco dentro do carro. Os dois começaram a discutir e eu peguei o kit, que tinha uma faca, e fui até eles".

"O Camilo me viu com o objeto na mão e eu mostrei que estava com a faca”. “Ele avançou e eu me posicionei no meio [dos dois] e creio que foi o momento da facada. A camiseta ficou vermelha, o Camilo viu que tinha um corte e tentou estancar o sangue. Eu imaginei que a ferida ia dar um ponto [cirúrgico] apenas”, contou. Chorando durante a entrevista de quase meia hora e acompanhada por três advogados, Joice disse que não conhecia Camilo e Larissa.

O outro lado

“Eu sei que é difícil para a família dele. Mas, estou dando a minha versão do que ocorreu porque somente nós estávamos lá. Também é difícil para minha família”. A cabeleireira diz que não fugiu após o crime, mas que foi tirada pelo marido do local por medo de ser agredida. Disse que ficou na casa de amigos por quase três dias, antes de se entregar à polícia e que ficou desesperada ao saber da morte e ser “taxada como um monstro”.

O juiz da 1ª Vara Criminal de Três Lagoas, Rodrigo Pedrini, determinou que ela enfrente júri popular, após três tentativas da defesa de obter liberdade. 

Tempo é para a cozinha e separação de alimentos

Para ocupar o tempo, enquanto aguarda pelo julgamento, Joice Espíndola da Silva trabalha na cozinha do presídio feminino. É ela quem separa e distribui alimentos para detentas, diariamente, na unidade. “Eu aproveito para trabalhar, ajudar as ‘meninas’, e também faço cursos aqui dentro”, contou. Joice também é a cabeleireira da cela, onde fica com presas ameaçadas por outras detentas e que têm filhos.

Além da secretária de Esportes Marisa Rocha, na cela também há uma mulher com um bebê recém-nascido. “Trata-se de uma ala menor, chamada de convívio. Não é um setor especial”, informou a diretoria do presídio. Atualmente, o local tem 82 presas, divididas em quatro setores, com média de sete mulheres por cela.

O júri

Joice diz que está preparada para enfrentar o júri. “Tenho muita fé em Deus. Tudo não passou de um acidente. Não tenho antecedente criminal, sou mãe e sempre trabalhei. Nunca precisei passar por cima de ninguém para conquistar o que tenho. Só espero que a justiça seja feita e que eu possa dar a minha versão sobre tudo. Qual mãe que não se posicionaria na frente do filho 10 vezes se fosse preciso?”, indagou.