A perícia criminal finalizou o laudo que reconstituiu a cena do atropelamento de Andressa Fernandes Teixeira, de 29 anos, morta pelo marido Willames Monteiro dos Santos, 33 anos, em abril de 2024. O laudo final foi concluído no último dia 14.
A reprodução foi requisitada pela delegada Analu Lacerda Ferraz, da Deam (Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher), responsável pelas investigações. O exame foi realizado no fim de maio passado, porém só foi encerrado neste mês. A perícia reconstruiu os relatos de uma vizinha, que presenciou o caso e é testemunha nas investigações, além da versão de Willames.
Durante a reconstituição da vizinha, ela relatou que na tarde do crime, Andressa e Willames teriam bebido e discutiam. Por volta das 21h, a vítima teria saído e sentado na calçada de casa, próximo ao portão. Pouco depois, já dentro de casa, a vizinha ouviu um barulho no portão dos vizinhos e saiu para ver o que tinha acontecido. Ao chegar, viu a filha de Andressa na calçada, próximo ao portão, gritando para o pai parar o carro.
Neste momento, ela já teria visto a vítima embaixo do carro, entre a calçada e a rua. O portão estaria entreaberto devido à ação do carro ao sair da garagem. A vizinha ainda conta que Willames teria dado ré novamente, mesmo com a vítima embaixo do carro, sendo arrastada junto.
Ela relata que teria se posicionado ao lado do carro, gritando que ele parasse, pois a mataria, mas ele teria respondido para que ela não se intrometesse. Ainda segundo a vizinha, Willames só teria parado ao alcançar o galho de uma árvore. Foi quando teria parado de dar ré e retirou o carro de cima de Andressa.
Já Willames, em sua reconstituição, contou que, ao entrar no carro, o som estava ligado e os vidros fechados. Ele também disse estar bêbado, que não se recordava se chegou a pressionar corretamente o controle do portão e que conversava com o filho menor, sentado no banco traseiro.
Além disso, afirmou que quando deu ré, não percebeu nada de anormal e só quando já estava próximo à árvore é que sua filha teria batido no vidro, pedindo que ele parasse. Foi quando desceu, foi até a traseira e encontrou Andressa embaixo do carro. Willames afirma que não notou a presença de mais ninguém além dos filhos.
Segundo a perícia, após o término da reconstituição, foi possível verificar que a versão da vizinha é compatível com o posicionamento em que o corpo de Andressa foi encontrado e converge com os ferimentos observados. Nenhuma divergência foi relatada.
Já na versão de Willames foram contatadas duas divergências. A primeira é quanto ao relato dele de não ter ouvido a vítima nem o barulho causado pelo atropelamento devido ao som alto. Já a segunda é sobre não ter percebido a resistência do portão ao tentar sair da garagem nem a ação da elevação do carro ao passar por cima da vítima.
Segundo a perícia, ficou demonstrado que após o acionamento da marcha ré, o próprio veículo abaixa automaticamente o som para que o motorista possa ouvir o alerta sonoro do sensor de aproximação traseira. O carro possui câmera e alerta dos sensores de aproximação. Ambos são ativados em uma tela no painel do carro independentemente da vontade do motorista, relata o laudo pericial.
Quanto a segunda divergência, em reconstituição, Willames teria dito que a luz da garagem estava apagada, mas, segundo a análise pericial, mesmo com esta versão, seria possível verificar o portão a partir das luzes traseiras do carro. Os peritos também destacaram a resistência do portão, feito em metal, além da nítida elevação do carro ao passar por cima da vítima.
Com o encerramento do laudo pericial, o exame foi encaminhado à polícia. O caso continua em investigação.
Relembre o caso
Andressa foi atropelada pelo marido, Willames Monteiro dos Santos, na noite do dia 20 de abril, na Avenida Cinco, bairro Nova Campo Grande.
Segundo o boletim de ocorrência, o casal passou o dia bebendo, quando teve uma discussão no fim da noite. Willames decidiu sair, mas Andressa ficou do lado de fora do portão trancado para impedir a passagem. O marido então deu marcha ré e atingiu o portão e Andressa.
Testemunhas alegam que Willames sabia que a esposa estava no local e, quando ouviu os gritos para pisar no freio, respondeu com um: "dane-se". A filha de 11 anos e o filho de 3 anos assistiram a tudo. A mais velha, inclusive, pedia em desespero para o pai parar. Foi ela também que pediu socorro no grupo da família.
A vítima foi arrastada por alguns metros e morreu no local. Socorristas do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e Corpo de Bombeiros tentaram manobras de ressuscitação, mas sem sucesso.
Vizinhos disseram à polícia que o autor tentou fugir, mas foi contido. A Polícia Militar relatou que Willames estava agressivo, ameaçando as equipes de socorro, e precisou ser algemado.
Ele foi detido com escoriações no pulso e no pescoço, por reagir à prisão em flagrante. O irmão do autor ainda teria retirado o veículo do local, prejudicando a perícia.