A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul não conseguiu localizar o pastor Jairo Fernandes para que possa prestar depoimento ao Corregedor-Geral, deputado estadual Maurício Picarelli (PSDB). O pastor foi o responsável por gravar a conversa em que o deputado estadual Paulo Corrêa (PR) orienta o colega de parlamento, deputado Felipe Orro (PSDB), a colocar folha de frequência no gabinete e, até mesmo, utilizar um ponto 'fictício', na tentativa de burlar possíveis matérias jornalísticas que poderiam ser publicadas sobre o caso.
Mauricio Picarelli havia informado que Jairo Fernandes iria prestar depoimento nesta sexta-feira, 18 de novembro. Entretanto, o pastor não foi encontrado para receber a intimação e o depoimento precisou ser adiado para a próxima semana. De acordo com informações da assessoria do parlamentar, a correspondência enviada à residência de Jairo retornou. Ele também não atende celular e o advogado dele afirmou que não estava conseguindo contato com o pastor.
Picarelli explica que escutou duas testemunhas na semana passada: Walter Careiro Filho e Summer Ávila. Os dois estavam junto com o deputado Zé Teixeira (DEM) quando o pastor Jairo Fernandes supostamente tentou vender o áudio da ligação entre os dois parlamentares. “Os dois confirmaram a versão do Zé Teixeira de que o pastor tentou vender a gravação. No nosso entendimento, isso caracteriza constrangimento e tentativa de extorsão”, disse Picarelli.
Orro afirmou que usou o celular de Jairo no inicio de 2015 e que a conversa foi gravada por um aplicativo. O parlamentar afirmou também que foi chantageado pelo pastor.
A conversa
Interceptação telefônica nos telefones da Assembleia Legislativa mostra o deputado estadual Paulo Corrêa orientando Felipe Orro sobre como burlar o controle de frequência dos servidores comissionados lotados no gabinete. “O que temos mais do que os outros? Coloca um controle de ponto. Mesmo que seja fictício. Pega seu chefe de gabinete e manda agir. Todo o dia as pessoas têm que assinar o ponto até que passe esse rolo aí”, disse Paulo Corrêa.
Durante a conversa, Paulo Corrêa se demonstra preocupado com uma série de reportagens sendo realizadas pelas Assembleias Legislativas de todo o Brasil sobre supostos funcionários fantasmas. “Presta atenção. Não tem ninguém do seu lado? Vou falar com calma para você. Você está sabendo o que está sendo feito? Estão entrando nas Assembleias do Brasil inteiro. Onde ela pega você. Você e eu temos bastante. Você sabe o que eu e você temos mais do que os outros”, destacou Corrêa.
O parlamentar continua e orienta Felipe Orro a fazer uma folha com o controle de frequência de todos os servidores, incluindo os comissionados que ficam nas cidades onde os parlamentares possuem base eleitoral. “Coloca um controle de ponto. Mesmo que seja fictício. Pega seu chefe de gabinete e manda agir. Todo o dia as pessoas têm que assinar o ponto até passar esse rolo aí”, afirmou.
Paulo Corrêa ainda acusa o primeiro-secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, Zé Teixeira, de estar espalhando informações sobre os servidores da Casa de Leis. “Quem está falando mais que a boca é o Zé Teixeira. Eu não posso acusar ainda porque não tenho prova. Mas desde o início ele diz que a gente tem mais do que precisa. É uma conquista nossa”, disse.
Corrêa volta a pedir para Felipe Orro tomar cuidado com a frequência de seus comissionados. “Agora temos que tomar muito cuidado. Onde está o seu rabo? Está ai. Pega desde o dia 15 de fevereiro e manda todo mundo assinar. Vamos dizer que você tem vinte da cota normal e tem mais vinte. Faz os 40 assinar. Assina o ponto. Deixa sempre no dia anterior assinado. Quando pedirem ‘cadê o controle de ponto’, você apresenta e diz que estão na base, mas a frequência está aqui”, orienta Paulo Corrêa.