O movimento que ganhou o Brasil inteiro, se espalhando como sementes no solo que ainda era irrigado pelas chuvas, parecia querer brotar em árvores de esperança. Secou junto com a represa da Cantareira e vai definhando como o “Velho Chico”. Os brotos mais verdejantes de esperanças acreditaram. Inocentes. Assistimos o caso raro de vermos os políticos atônitos e acuados. Perdidos, e quase sem reação. Acreditamos.
Pois até isso eles conseguiram nos tirar. Mas, fica a questão: se nós os alimentamos com nossos votos e nossas insensatas guerras de postagens em redes sociais, numa torcida cega e ilógica que trava uma guerra que mata e destrói amizades, eles nos tiraram ou nós nos entregamos?
Não foram movimentos, foram chuvas de verão e pleno junho. Extemporânea.
O jogo da informação
Aparentemente, a população timidamente retoma as ruas. Sequer se pensa em vinte centavos, agora é pelo direito de protestar, de buscar a verdade sobre as urnas lacradas. E lá e cá, os pequenos, os estranhos, buscam se aproveitar e expor seus conceitos, aqueles que o tempo fez questão de desmentir.
Se nas primeiras manifestações tiraram tirar-lhes o crédito estampando mais os excessos de pequenos grupos de vândalos saqueadores, nesta estampa-se mais os filhotes inconsequentes dos regimes ditatoriais. É uma pena que se apequene tanto o clamor popular.
O engano
Em cada município repete-se a novela das falsas discussão sobre o valor do aumento de tarifa do transporte coletivo e correção dos valores do IPTU. Um jogo urdido entre poderes querendo fazer acreditar que haja uma queda de braço onde, hoje as prefeituras são as vilãs e os vereadores de cada município os mocinhos. Um faroeste “B” sul-americano onde, na verdade, só existem atores, amigos de camarim.
Mas a reação não virá, nada se cobrará daqueles que a maioria de nós elegeu – ou não —, estamos lambendo as feridas da recente batalha das eleições, que nos lanhou e nos levou aqueles que eram amigos mas estavam em outras trincheiras.
Vitória inócua
Somos um mar de desinformação que começa no cientificismo barato dos institutos de pesquisa e termina com as contestadas urnas, caixas lacradas que pretende ser a única certeza num país de incertezas, desconfianças e tristes certezas.
Na terça-feira, por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aceitou liberar acesso aos arquivos eletrônicos e demais documentos referentes à totalização dos votos da eleição presidencial. Com esses dados será realizada uma auditoria do resultado. Ao saber da decisão do TSE, deputados tucanos comemoraram no plenário da Câmara. A corte, porém, negou a criação de uma comissão multipartidária para auditar o pleito.
O ministro Gilmar Mendes defendeu que a Justiça Eleitoral acabe com suspeitas de fraude no resultado nas eleições, mesmo que sejam descabidas e levantadas por meio das redes sociais. Segundo o ministro, o pedido do PSDB contribui para a pacificação do assunto.
Mas, a grande dúvida que toma parte da população, não é o resultado impresso das eleições, mas o software das urnas. A questão é sobre a possível manipulação dos votos. A questão é que temos um sistema de votação e apuração não confiáveis. A questão é que temos um país não confiável.
Não era pelos vinte centavos, era pelo direito de sermos uma Nação. Mas, perdemos para nós mesmos. Não votamos, torcemos. Por isso, estamos entregues às vitórias ou derrotas. Se em vez de torcermos, nós votássemos com todas circunstâncias que isso exige, após as eleições formaríamos um contingente de críticos constantes e tenazes a cobrar decência e trabalho.
A cada eleição, a cada período eleitoral de ataques e mentiras e nulo de propostas, a cada governo que se instala mais para justificar os erros e os não-fazeres, fica mais patente que viveremos de movimentações cívicas apenas por R$ 0,20. Ou nem isso.