Em meio a tantas empresas e escritórios investigados pela Operação Lama Asfáltica, um edifício localizado na Rua Arthur Jorge chamou a atenção da Polícia Federal pela grande movimentação de políticos, agentes públicos e empresários ligados ao esquema de fraudes em licitação.
Na região central de Campo Grande, a Galeria Quinta Avenida é considerada a central de operações da organização criminosa. De acordo com as investigações realizadas pela Polícia Federal, o local funcionava como um ponto de “pagamentos e arrecadações” de propinas e lucros de atividades ilícitas.
Assim como o avião da organização que recebeu o apelido de ‘cheio de charme’, o local também recebeu um codinome próprio. Em algumas das interceptações telefônicas, Elza Cristina Araújo dos Santos, sócia e secretária do empreiteiro João Krampe Amorim, convoca reuniões que devem ser realizadas no ‘extra’, geralmente envolvendo pagamento de propinas.
O escritório no 9º andar do prédio, vistoriado dia 9 de julho quando foi deflagrada a Operação Lama Asfáltica, é velho conhecido dos agentes de fiscalização. Já durante a Operação Uragano, em que as autoridades investigaram um esquema de fraudes em licitações semelhante ao atual, o local já era apontado como ‘QG’ - quartel-general - da organização.
Na época, o empresário Geraldo Assis, da Planacom, chegou a ser preso, revelando em seu depoimento que o dinheiro desviado de obras superfaturadas seria entregue para uma secretária de João Amorim na Galeria Quinta Avenida. De acordo com ele, o encontro era rápido, sem conversas ou recibos, e os pagamentos sempre eram feitos por intermediários.
Deflagrada em Dourados, a Uragano também vasculhava o envolvimento no esquema do ex-governador André Puccinelli (PMDB), do ex-secretário de obras, Edson Giroto (PR), do conselheiro Osmar Jerônymo e do empreiteiro Éolo Ferrari, que participaram da administração peemedebista na prefeitura de Campo Grande.
Escritório também recebeu o apelido de 'extra' - Foto: Geovanni Gomes
Alvos da Operação Lama Asfáltica, Giroto e João Amorim tiveram as casas vistoriadas, assim como o ex-secretário municipal de administração, José Antônio de Marco, e a sede da Seinfra (Secretaria de Estado de Obras e Infraestrutura)/ Agesul (Agencia Estadual de Gestão de Empreendimentos). Durante a vistoria, foram recolhidos documentos, dinheiro, computadores e até uma obra-de-arte.
De acordo com a Receita Federal, as novas investigações começaram há dois anos, quando foram detectados indícios de que importante empresário de Mato Grosso do Sul, possivelmente João Amorim, e diversas pessoas ligadas a ele corromperiam servidores públicos, fraudando licitações e desviando recursos públicos.
Dentre as ações do suposto grupo criminoso consta o direcionamento de licitações a empresários ligados à organização, os quais recebiam valores supostamente superfaturados e repassavam parte dos lucros a servidores coniventes envolvidos. Também foram identificadas vultosas doações para campanhas de políticos. Nesta fase da Operação, as autoridades policiais analisam os documentos apreendidos para começar as oitivas e ouvir os depoimentos dos envolvidos.