Após os movimentos sociais expressos que pediam “renovação” em junho de 2013, aguardava-se uma onda de modernização nos quadros políticos brasileiros e, por consequência, em Mato Grosso do Sul. Parece que isso não aconteceu. Os partidos políticos são refratários à mudanças, até porque são dominados por grupos de comando que impedem a oxigenação de seus quadros, um estranho caso de hereditariedade sem laços de parentesco.
Como no filme “O Estranho Caso de Benjamin Button”,adaptado do romance de 1920 de F. Scott Fitzgerald sobre um homem que nasce com oitenta e poucos anos, os políticos brasileiros nascem velhos e vivem na virtualidade de um mundo só deles e para eles.
Isso fica patente quando os leitores (e eleitores) têm a oportunidade de se manifestar através de enquetes (sem valor de amostragem científica) como a disponibilizada pelo TopMídia News, no período entre 4 e 14 de outubro.
Para a pergunta: “Você acha que houve renovação política com os deputados estaduais e federais eleitos em MS”, ampla maioria (79%) escolheram a opção “Não”, enquanto apenas 21% optaram pelo “Sim”.
E as novas composições das bancadas federais e estaduais apresentaram várias alterações: a Assembleia Legislativa receberá nove novos parlamentares: Grazielle Machado (PR), Renato Câmara (PMDB), Angelo Guerreiro (PSDB), Professor Rinaldo (PSDB), Beto Pereira (PDT), Flávio Kayatt (PSDB), Antonieta Amorim (PMDB), Barbosinha (PSB) e João Grandão (PT); em relação à Câmara Federal serão cinco novos deputados federais: Zeca do PT, Carlos Marun (PMDB), Márcio Monteiro (PSDB), Teresa Cristina (PSB) e Dagoberto Nogueira (PDT).
Os mesmos
Se os leitores que responderam à enquete não vêm como renovação de bancada, motivos têm de sobra, todos os eleitos atuam na política há muito e alguns, da mesma forma que os Trad, seguem tradições familiares. A vereadora por três mandatos, Grazielle Machado é filha de Londres Machado; Felipe Orro foi prefeito de Aquidauana, deputado estadual e é filho de Roberto Orro; prefeito de Ivinhema por dois Mandatos, Renato Câmara é filho de Nelito Câmara; e Beto Pereira, prefeito de Terenos por dois mandatos, é filho de Valter Pereira.
Laços e enredos
A política, salvo raras exceções que confirmam a regra, é um círculo vicioso (e aqui a derivação de vício parece muito bem aplicada) que renova sem mudar, sem oxigenar.
Sobram exemplos de falta de renovação efetiva, até porque a única renovação é o velho de roupa nova ou por herança. O segundo turno das eleições 2014, aqui em Mato Grosso do Sul, é um exemplo claro da enorme barreira interposta entre o desejo do eleitor e obstinação pelo poder.
O eleitor optou por mudança e deu seu recado da única forma que lhe é permitida e obrigatória: o voto. Escolheu por tirar do comando o PMDB e seus penduricalhos, que governam o Estado há 8 anos e a Capital há 20 anos. Os votos deram a oportunidade de dois outros candidatos disputarem o governo: PT, representado pelo senador Delcídio do Amaral, e PSDB do ex-prefeito de Maracaju e deputado federal Reinaldo Azambuja. Se não representa uma renovação, significa mudança. Ou não.
No entanto, detalhes da Democracia - que ainda não é perfeita, mas, mesmo assim, o melhor regime – obrigam os candidatos a buscarem o apoio daqueles que foram reprovados nas urnas ou não têm estrutura suficiente para o enfrentamento aos grandes partidos. Quem melhor se saiu nas negociações foi o segundo mais votado, Reinaldo Azambuja, que atraiu a corrente peemedebista de Nelsinho Trad e, posteriormente o PMDB do governador André Puccinelli.
E o leitor mostrou por meio da enquete, que está coberto de razão ao não acreditar em renovação, mesmo que o discurso “da moda” seja a Nova Política.