O PMDB teve que negociar e desmembrar o governo do prefeito empossado Gilmar Olarte para conseguir obter apoio suficiente que lhe permitisse ser o grande artífice da cassação do prefeito eleito Alcides Bernal. Foi o preço pago para desarticular o perigo que significaria averiguar contas e ações dos 20 anos de gestão peemedebista de Juvêncio Cesar da Fonseca, André Puccinelli e Nelsinho Trad.
De qualquer forma, não ficou sem representação na administração municipal, afinal o vereador Paulo Siufi soube negociar seu poder de articulação e ascendência sobre o grupo de vereadores e conquistar o Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande (IMPCG) para a médica Lilian Maksoud, e de certa forma a Secretaria Municipal de Saúde que está sob gestão de Jamal Salém (PR). Também o vereador Edil Albuquerque, ex-vice-prefeito e ex-secretário da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Turismo e do Agronegócio (Sedesc), retomou seu posto na secretaria, indicado por Olarte, dando continuidade ao que de bom e de ruim foi feito no governo anterior.
Agora, aqueles que se sentem alijados por não conseguirem contemplar o seu grupo com cargos do primeiro escalão, iniciam uma revolta que começou silenciosa, a partir do gabinete da vereadora Carla Stephanini e se propagou, forçando o líder Vanderlei Cabeludo a convocar uma reunião ainda esta semana, para contemporizar posições e despistar a imprensa dizendo que “o objetivo da sigla é apenas ajudar Campo Grande, sem a preocupação de estar no comando de secretarias”.
Inocência política
No entanto, essa inocência política não tem sentido em um grupo experiente, fica restrita a Carla Stephanini que joga duro para conquistar alguma pasta, mesmo que seja a (rejeitada pelo PTdoB) Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano – Semadur.
O governo foi repartido a contento, ganhou mais quem soube jogar melhor. O PMDB ganhou uma secretária e um instituto, ganhou também mais uma cadeira na Câmara, para Loester Nunes e trouxe de volta Magali Picarelli, que havia perdido sua vaga para seu ex-funcionário e aliado do prefeito cassado, Waldecy Chocolate – que também foi cooptado pela oposição que derrubou Bernal. Hoje o PMDB é o partido efetivamente no poder, mesmo porque enquanto não ficar decidida a nova direção regional do PP, Olarte tem um pé dentro e outro fora.
O PSDB também soube jogar o jogo e seus dois vereadores ganharam. Rose Modesto ganhou a Secretaria Municipal de Educação, João Rocha é líder do prefeito na Câmara. Faziam parte dos que jogaram a “indecisão” na votação que cassou Bernal, assim como o PTB e outros.
E ainda, observando a lista, podemos encontrar uma infinidade de pessoas que participaram das gestões peemedebistas e alguns que compunham o corpo diretivo da Câmara. Aliás, a Câmara Municipal vem sendo presidida pelo PMDB desde 1997 com o vereador Antonio Braga (aquela época era peemedebista), passando por Márcio Matozinhos, Nelson Trad Filho, Youssif Domingos substituído por Edil Afonso Albuquerque, Paulo Siufi Neto por dois mandatos , e agora Mario Cesar.
Então, não cabe inocência política, a revolta pode ser encarada como “forçar uma situação para beneficiar determinado grupo”, mas a reunião servirá também para analisar a situação após o recente caso Gaeco/Olarte.
Para quem sabe um pouco de política e polícia – ambas sempre andaram tão próximas no país – o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) não cumpre mandado de busca e apreensão baseado em suspeitas infundadas, e a investigação não se detém em recolher documentos e intimar um dos investigados.