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Política

Vereadores compraram imóveis e animais sem declarar à Receita, diz Gaeco

16 dezembro 2015 - 13h32Por Diana Christie

Apesar de não apresentar provas documentais de que os vereadores de Campo Grande receberam propinas durante o período investigado, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) aponta supostas inconsistências na movimentação bancária dos vereadores.

De acordo com o relatório entregue à PGJ (Procuradoria-Geral de Justiça), parlamentares adquiriram imóveis, carros e até bezerros sem prestar contas à Receita Federal ou incompatíveis com a renda líquida para a função exercida. Os cálculos têm como base análise realizada pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

O vereador Edson Shimabukuro (PTB) teria registrado a maior incompatibilidade financeira em 2014. Enquanto declarou renda de R$ 252,7 mil, teria movimentado R$ 707,2 mil. Eduardo Romero (Rede) movimentou R$ 296,6 mil, sendo que sua renda declarada era de R$ 117,9 mil, além de um imóvel de R$ 150 mil adquirido, que não foi registrado em seu cadastro de pessoa física.

Na mesma época, Carlão (PSB) disse possuir renda líquida de R$ 177 mil, mas com créditos de R$ 601,4 mil. Além disso, conforme o Gaeco, ele comprou 40 bezerros pelo valor de R$ 27,5 mil e pagou a vista, em espécie, mas emitiu a documentação em nome de Jamil Name.

Demonstração da Movimentação Financeira do vereador Carlão - Foto: Reprodução/TopMídiaNews


Já o vereador Jamal Salém (PR) declarou renda de R$ 393,2 mil em 2013, mas chegou a movimentar R$ 4,6 milhões no período. Considerando a renda líquida e a variação patrimonial, o republicano teria adquirido cerca de R$ 100 mil em bens que não possuem ‘lastro, reversa ou disponibilidade monetária’.

O médico Paulo Siufi (PMDB) alegou ter renda de R$ 959,5 mil em 2014, mas teria recebido até R$ 1,2 milhão. Segundo o Gaeco, no ano anterior, ele adquiriu um imóvel de R$ 140 mil, porém emitiu uma Declaração de Operações Imobiliárias no valor de R$ 440 mil.

Relator da comissão processante, Flávio Cézar (PT do B) também apresentou variações significativas, como os colegas. Em 2013, ele afirmou ter rendimentos de R$ 143,8 mil para uma atividade bancária de R$ 339,5 mil. Todavia, o Coaf registrou a compra de um imóvel de R$ 560 mil em março de 2014, incompatível com a renda do vereador.

Alvo de diversas polêmicas, Chocolate (PTB) declarou, em 2014, rendimentos de R$ 137 mil com movimentação de R$ 341,1 mil. No período, ele também adquiriu um veículo Hyundai HB20 registrado em nome da namorada, no valor de R$ 39.350,00, e um Hyundai Elantra, de R$ 89.790,00, dos quais R$ 20 mil foram pagos em espécie.

Ex-secretário de desenvolvimento econômico, Edil Albuquerque (PMDB) declarou renda de R$ 256,9 mil em 2013, enquanto teria movimentado R$ 574 mil, e recebido R$ 283,8 mil em 2014 para uma movimentação de R$ 331,3 mil. Já o atual presidente da Câmara Municipal, João Rocha (PSDB), afirmou ter recebido R$ 225 mil em 2014, quando circulou R$ 526,2 mil.


Representando o PSD na Casa de Leis, o vereador Coringa teria declarado renda líquida de R$ 153,1 mil em 2014, mas movimentou R$ 333,6 mil no período. No mesmo ano, Delei Pinheiro (PSD) declarou receitas de R$ 227,1 mil, mas movimentou uma quantia de R$ 315,2 mil. E, também do mesmo partido, Otávio Trad registrou rendimentos de R$ 121,4 mil em 2013, quando a soma de R$ 459,6 mil passou por sua conta.

Por sua vez, Vanderlei Cabeludo (PMDB) afirmou ter recebido R$ 161,4 mil, quando fez circular R$ 590,9 mil. No mesmo partido, Carla Stephanini declarou renda de R$ 331,3 mil em 2014, tendo mobilizado R$ 1,1 milhão, enquanto Airton Saraiva (DEM) teve em conta cerca de R$ 656,6 mil, mas só registrou R$ 162,8 mil, o equivalente a mais que o triplo do que era esperado.


 Movimentação do vereador Airton SaraivaFoto: Reprodução/TopMídiaNews


Na contramão dos demais, apenas o vereador Gilmar da Cruz (PTB) apresentou decréscimo de renda. Enquanto declarou R$ 140,8 mil em 2013, tendo movimentado R$ 156,2 mi, houve uma desproporcionalidade em 2014, quando declarou renda de R$ 174,3 mil, mas só circulou R$ 48,2 mil, denotando ‘utilização de conta bancária de terceiros’.

Detentor de mandato durante o período investigado, o ex-vereador Alceu Bueno (PSL), que renunciou após o envolvimento em escândalo de exploração sexual de menores e extorsão, também apresentou incompatibilidades. Segundo o Gaeco, ele tinha receita declarada de R$ 125,3 mil, mas fez circular R$ 281,5 mil em sua conta bancária.

Investigados

Assinado pelo promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, o relatório da Operação Coffee Break solicita o indiciamento dos suspeitos por associação criminosa, corrupção passiva e corrupção ativa. Eles teriam influenciado em suposta compra de voto de vereadores através de propinas e oferecimento de cargos na administração.

Por associação criminosa são citados o ex-governador André Puccinelli (PMDB), os ex-prefeitos Nelsinho Trad (PTB) e Gilmar Olarte (PP por liminar), os empresários Carlos Eduardo Naegele (Jornal Midiamax), João Amorim (Proteco Construções) e João Baird (Itel Informática); Fábio Portela (IMTI), Luiz Pedro Guimarães e Raimundo Nonato; além dos vereadores Mario Cesar, Airton Saraiva e Flávio Cézar.

Por formar um grupo criminoso que dialogava pessoalmente com os vereadores para conseguir votos no dia da cassação, devem ser indiciados por corrupção ativa Gilmar Olarte, Mario Cesar, Flávio César, João Amorim, João Baird, Ayrton Saraiva e Fábio Portela. Já os vereadores Paulo Siufi, Edil Albuquerque, Edson Shimabokuro, Eduardo Romero, Jamal Salém, Gilmar da Cruz, Chocolate, Carlão, João Rocha (PSDB) e o ex-vereador Alceu Bueno, podem responder por corrupção passiva.