O Hospital São Julião, em Campo Grande, realiza sua primeira cirurgia que ajuda pacientes a recuperar a audição, conhecido como 'Implante Coclear'. Procedimentos semelhantes já são realizados, mas está é a primeira técnica "biônica" no Estado.
Leandro de Oliveira, 30 anos, perdeu os sentidos sonoros do ouvido direito, com o passar dos anos, devido uma doença degenerativa. Ele que é professor de matemática, na Escola Municipal Senador Rachid Saldanha Derzi, viu no procedimento a esperança de voltar a ouvir novamente. " A vida continua normal, com pouco de dificuldade, mas espero que elas sejam superadas com o implante desse aparelho, e que eu possa ouvir como uma pessoa qualquer, normalmente", explicou animado.
Segundo informou Leandro, esse problema aconteceu gradualmente, agora ele luta também para não perder a audição do lado esquerdo. "Primeiro, vamos fazer no lado que já não possui audição, depois com o passar do tempo, tomaremos providências para não perdermos os sentidos do lado esquerdo".
O otorrinolaringologista Rafael Pontes Ribeiro é o responsável pela primeira cirurgia do tipo, realizada em Campo Grande. O implante coclear já é usado há mais de 30 anos no Brasil e no mundo, evoluiu muito nos últimos tempos e gradualmente vem ganhando mais credibilidade. "Para o paciente é maravilhoso. Ele consegue ouvir normalmente e até falar no telefone", explica o médico.
Esse tipo de implante é realizado com um corte feito atrás da orelha do paciente, que os médicos instalam o aparelho, substituindo a função do ouvido. Ele é colocado no lugar de uma estrutura chamada cóclea. Por isso, o nome: implante coclear.
Rafael ressaltou ainda, que a cirurgia é bastante delicada, por mexer com os pontos conectivos da audição. " Todo processo de implantação é complexo. A cóclea é o principal órgão da distribuição da audição, localizada no ouvido interno. É uma fibra que vai levar estímulos sonoros para a cóclea, ligando ao cérebro".
Implante Coclear
Trata-se de um dispositivo eletrônico, também conhecido como ouvido biônico, que estimula eletricamente o nervo auditivo, devolvendo o impulso sonoro. O trabalho do cirurgião deve ser complementado por um fonoaudiólogo, pois a pessoa que passa pelo procedimento cirúrgico precisa aprender a ouvir e isso envolve uma série de exercícios específicos e dedicação do paciente.
O tempo entre o procedimento e a volta da audição é de aproximadamente seis meses. "Depois de 30 dias da cirurgia que ele irá começar efetivamente utilizar o aparelho, com a ativação dos eletrodos. Para começarmos os trabalhos de associação sonora", explicou a fonoaudióloga Cristiani Baraldi.
Conforme Cristiani, os resultados variam de indivíduo para indivíduo, em função de uma série de fatores como memória auditiva, estado da cóclea, entre outros.
Estudiosos afirmam que o procedimento pode ser feito em crianças a partir dos 12 meses de idade e em adultos que apresentam deficiência auditiva bilateral de grau severo e profundo, que não obtiveram benefícios com o uso de aparelhos de amplificação sonora individual. "A diferença entre os aparelhos de audição comuns e o implante coclear é que os aparelhos só amplificam o som, já o implante, fornece impulsos elétricos" ressalta.
"Realizamos cirurgias similares aqui no hospital, em média, cinco por mês, por isso a nossa referencia para esse tipo de cirurgia. Mas é um avanço essa nova técnica, sem mencionar nos altos custos", informou o médico responsável, destacando que o valor do tratamento é muito elevado e o SUS (Sistema Único de Saúde) não cobre.
A cirurgia foi disponibilizada por meio de um convênio médico do paciente que é da Prefeitura Municipal e o Hospital, mas Leandro é quem custeará o restante do valor, que totaliza cerca de R$ 60 mil, só o aparelho. Já o procedimento, incluindo, a equipe médica e o tratamento, fica em torno de R$ 100 mil.