Com pouco mais de três semanas de vida, a pequena Lorena, internada na UTI neonatal da Santa Casa de Campo Grande, segue aguardando por uma cirurgia cardíaca urgente para tratar uma grave malformação congênita. A mãe, Geisiane Zanatto, divulgou nesta quarta-feira (3) uma carta aberta para denunciar a falta de acompanhamento médico adequado e o que chama de "espera injustificável" mesmo após o plano de saúde garantir suporte para o tratamento.
"Minha filha nasceu no dia 9 de junho com atresia tricúspide grau 2, uma grave cardiopatia congênita, além de carregar um teratoma na cabeça. Desde a segunda ultrassonografia morfológica, no dia 11 de fevereiro, já sabíamos do diagnóstico e começamos a lutar por atendimento", relata Geisiane.
Ela conta que procurou atendimento em Campo Grande e foi acolhida inicialmente em abril por um cardiologista que orientou sobre a necessidade da cirurgia ocorrer até o segundo dia de vida da criança. No entanto, o plano de saúde IMPCG não cobria o atendimento com esse médico e não houve tempo hábil para uma ação judicial que garantisse o procedimento.
"Nós fomos orientados que a Santa Casa seria referência nesses casos e conseguimos contato com a cirurgiã cardiopediátrica no dia 21 de abril. Ela nos tranquilizou, disse que atenderia o caso da Lorena. Mas, desde o nascimento, minha filha tem sido acompanhada apenas por médicos plantonistas. Nenhum cirurgião cardíaco acompanhou a evolução clínica dela", denuncia a mãe.
Segundo Geisiane, a primeira semana de vida da bebê foi estável, com boas condições para a cirurgia. No entanto, o foco da equipe médica foi alterado para a realização de uma ressonância magnética, por conta do teratoma na cabeça.
"O exame, que deveria ter sido feito no dia 13 de junho, foi adiado por cair no feriado. Informaram que exames só são realizados às terças e sextas, desde que não seja feriado", explica. No dia 17 de junho, durante o procedimento, Lorena sofreu uma parada cardíaca. Foi reanimada e o exame foi remarcado para 20 de junho, mas não pôde ser realizado devido à instabilidade do quadro clínico.
Depois, a bebê ainda desenvolveu uma infecção e precisou passar por sete dias de antibiótico. Geisiane conta que, após esse período, a neurologia informou que não haverá nova tentativa de ressonância, informação que foi repassada à equipe cardíaca.
"Enquanto isso, o tempo passa. Minha filha segue lutando. Está usando medicação Alprostadil para manter a circulação sanguínea, e recebe plasma a cada 12 horas para ajudar na coagulação", descreve. "Hoje, dia 2 de julho, saiu o resultado do exame de coagulação e Lorena está pronta para a cirurgia. Mas seguimos aguardando o agendamento".
Segundo a mãe, ela foi informada de que as cirurgias cardíacas são feitas apenas entre segunda e quarta-feira. Ela teme que a espera aumente o risco de novas infecções dentro da UTI neonatal, onde a bebê está exposta.
"O plano IMPCG garantiu total suporte para a cirurgia e acompanhamento com equipe especializada, mas a Dra. responsável só atende pelo SUS. Os atendimentos não diferem em prioridade nem em frequência e o mais grave: em nenhum momento desde o nascimento minha filha foi acompanhada por um cirurgião cardíaco pediatra".
Geisiane afirma ainda que, para conseguir qualquer atendimento com neurologista, precisa ligar para o SAC da Santa Casa e implorar por agendamento. "É impossível descrever a angústia de uma mãe que vê a filha pronta para lutar pela vida, mas presa numa espera injustificável. Minha filha precisa de ação, de cuidado, de urgência. Minha filha precisa de respeito à vida", finaliza angustiada.