Criado para ser um modelo no atendimento à crianças em Campo Grande, o Cempe (Centro Municipal Pediátrico), "menina dos olhos" do prefeito Gilmar Olarte, volta é alvo de duras críticas e reclamações dos médicos pediatras da Rede Municipal de Saúde. Os profissionais denunciam os frequentes deslocamentos dos postos de saúde para a instituição sem aviso prévio. Os que resistem são coagidos e forçados a irem para o Centro Pediátrico ou são acusados de abandono de plantões por parte dos gerentes administrativos.
Segundo a presidente da Sociedade de Pediatria do Mato Grosso do Sul, Tânia Hildebrand, a pressão que os médicos estão sofrendo já provocou a demissão de oito profissionais, que não concordaram com os plantões no Cempe. Ainda segundo ela, 80% dos médicos pediatras são mulheres e estariam sofrendo violência da população, insatisfeita com os atendimentos.
“O pediatra não é inimigo, mas é isso que a estão pregando. Esta cada vez mais difícil desempenhar a atividade que amamos tanto. Estamos pedindo só tratamento digno. Mas essa falha na gerência acaba gerando violência e medo do profissional de atuar”, ressalta a presidente.
Tânia ainda explica que as principais reclamações estão ligadas ao Cempe, já que muitos médicos não concordam com a situação atual. "Lá era para ser um centro de referência, mas o que se vê é outra coisa. Por isso, muitos médicos preferem ficar na periferia, onde estão os pacientes que estão próximo de casa, do que vir ao centro, obrigando as famílias a se deslocarem até ao Cempe. Esse desentendimento tem gerado insatisfação na classe", comentou.
A presidente ainda lembra que o projeto inicial era para atender 240 pessoas, mas hoje, os atendimentos estão acima de 500 por dia. "Isso vai contra o que preconiza o Ministério da Saúde que prevê a descentralização da saúde".
A classe também destaca o desequilíbrio no salário dos médicos pediatras da Remus em relação ao Cempe. "Um profissional que tem plantão de 20 horas na Remus recebe em média R$ 2,6 mil. Já quem está no Cempe ganha três vezes esse salário para fazer o mesmo atendimento".
Uma reunião foi agenda para a próxima segunda-feira (30) pela manhã, onde uma comissão formadas por médicos deverá se reunir com integrantes da prefeitura e com o secretário municipal de Saúde, Jamal Salem, para encontrar um consenso em relação a todos os assuntos.
Outras reclamações
Médicos de outras especialidades também estão insatisfeitos com relação ao déficit nos salários e com relação as condições de trabalhos, os médicos denunciam que a infraestrutura está sucateada. Os médicos chegaram até encaminhar uma proposta para a prefeitura, porém, até agora, não houve nenhuma reposta e nem uma contraproposta sobre o assunto.
Os médicos clínico-gerais também denunciam que estão sendo enviados para fazer atendimento no Cempe. A classe afirma que o local foi classificado pelo próprio prefeito Gilmar Olarte como referência ao atendimento infantil e que os atendimentos seriam feito exclusivamente por médicos pediatras.
O Conselho Municipal de Saúde até o momento não aprovou a criação do Centro Municipal de Saúde justamente porque entende que não há razão e nem necessidade de alugar um hospital privado ao custo de R$ 194 mil por mês sendo que o recurso poderia ser investido nos postos de saúde e na construção do Hospital Municipal que foi esquecida pela atual administração.
A alegação inicial do prefeito Gilmar Olarte para a criação do Cempe seria para ampliar os leitos em Campo Grande, seguindo uma determinação do Ministério Público Estadual onde poderia sofrer uma ação civil pública podendo responder por uma ação civil pública. O caso segue tramitando na Justiça.
A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que até o momento não recebeu nenhum denúncia oficial dos médicos e que a classe pode protocolar o caso na ouvidoria do Sistema Único de Saúde ou na própria Sesau para que o caso seja investigado. Já com relações aos plantões, a Sesau explica que os médicos não possuem um plantão fixo e que são destinados de acordo com a necessidade da Rede Municipal de Saúde.