A cada quatro anos, o processo se repete: a ansiedade aumenta, as ruas são decoradas de verde e amarelo e o país para vendo a seleção jogar a Copa. Mas, além do ufanismo de chuteiras, o que faz o Mundial ser tão interessante?
Há várias explicações. Uma delas é que a Copa é a chance (talvez única) de reunir seleções de todo o mundo, em uma competição de tiro curto que, por isso mesmo, dá oportunidade para algumas surpresas. Raramente as zebras chegam às finais, mas o simples fato de desbancarem potências, tal como um Robin Hood da bola, já é o bastante para cativar a audiência.
E mesmo quando os jogos são entre pesos-pesados, é comum que haja detalhes sutis que podem resultar em vitórias épicas ou eliminações dolorosas. Para ficar apenas em doídas derrotas do Brasil, podemos lembrar o passe equivocado de Toninho Cerezo que gerou o primeiro gol da Itália em 1982; o incrível azar do goleiro Carlos em 1986, que acertou o canto de um pênalti, apenas para colocar uma bola chutada na trave para dentro do gol, com as costas; ou Roberto Carlos que, em 2006, arrumava a meia enquanto a França levantava a bola na área e Henry mandava para as redes.
Hoje em dia, há estatísticas e números em abundância no futebol, especialmente na Copa. Estudiosos do esporte ou adeptos de apostas esportivas costumam escrutinar de alto a baixo todos eles. Tal como uma bolsa de valores, as apostas online copa do mundo são acompanhadas de perto pelos especialistas. Eles querem perceber não apenas os grandes fatos (como cartões vermelhos ou substituições), mas também as nuances de cada partida, que podem fazer uma diferença mínima, mas suficiente para uma vitória.
Mas poderia a fria análise de números prever fatores aparentemente aleatórios, como o meião de Roberto Carlos? A razão tende a responder “não”. Mas há quem discorde.
No início dos anos 80, Paolo Rossi jogava na Juventus, que disputava palmo a palmo o campeonato italiano com a Roma de Falcão. Não seria absurdo que Rossi conhecesse o estilo de jogo dos meio-campistas brasileiros e imaginasse que, sem um passe vertical disponível, a opção natural fosse uma virada de jogo. Bastaria a Rossi estar bem posicionado e esperar um passe menos cuidadoso, que Cerezo deu.
Já Carlos, em 86, tinha o estilo de não adivinhar o canto em pênaltis, e saltar somente após perceber para onde a bola iria. Se o chute não fosse suficientemente forte ou angulado, ele tinha chance de defender. Mas a verdade é que ele nunca foi um grande pegador de pênaltis – justamente porque saía sempre uma fração de segundo atrasado. Mas que, em 86, foi o timing perfeito para estar no lugar errado na hora errada, e rebater a bola com as costas.
Já o meião de Roberto Carlos é difícil de explicar. Mas o time de 2006 ficou marcado como uma seleção desunida, cheia de brigas internas e vaidades pessoais. Não era uma equipe onde um corria pelo outro. As cabeças dos brasileiros estavam em outros lugares, não no campo. Já a de Thierry Henry estava bem atenta, e encontrou a bola na pequena área.
Se todos esses fatores supostamente aleatórios puderem realmente ser previstos, seria necessário um nível de processamento de dados astronômico. Mas não custa lembrar que há apenas algumas Copas atrás, usava-se disquetes de 1Mb para guardar informações. Hoje seu telefone armazena mais de 500 Gb – e crescendo.
(Foto: Pixabay)
A edição 2022 do Mundial, no Catar, já mostrou um pouco de suas adoráveis surpresas, como a vitória saudita sobre argentinos, e o triunfo nipônico sobre germânicos e espanhóis. Exatamente como esses momentos vieram a acontecer é algo muito sutil, quase mágico. É a insustentável leveza da Copa.