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De sem teto ao Guinness: americana de 56 anos ainda quer surfe nos Jogos

Angela Madsen perdeu tudo ao ficar paraplégica aos 20 anos, mas conseguiu se reinventar através do remo e do atletismo, onde foi 7ª no Rio: 'Daria um bom filme''

11 setembro 2016 - 09h16

Primeiro veio a maternidade precoce. Depois, um acidente que a deixou paraplégica. Ficou sem dinheiro, sem casa, sem perspectiva. A verdade é que a história que levou Angela Madsen para o esporte daria um filme dramático. Não por acaso, a própria atleta paralímpica tentou colocar sua vida em páginas ao lançar um livro recentemente. Aos 56 anos e calejada por uma trajetória tortuosa, se considera vitoriosa. Famosa principalmente pelas aventuras e recordes impressionantes como remadora em águas abertas, a americana está em sua terceira Paralimpíada, desta vez, no atletismo. O sorriso após deixar o campo do Engenhão evidenciava que a sétima colocação no lançamento do dardo no Rio foi o que menos importava.

- Foi uma série de desafios. Mas você tem que saber se adaptar. Viver cada dia. Isso te ensina a se cercar de pessoas positivas. Tudo de ruim que aconteceu me tornou capaz de remar e cruzar o oceano. Me tornar uma atleta paralímpica. Tudo de ruim que acontece não pode ser somente ruim. Tem que se tirar algo bom - disse a veterana.

O roteiro improvável começou quando Madsen tinha apenas 17 anos e se tornou mãe solteira. Na época, ela sonhava em ser atleta, mas acabaria perdendo a chance de conseguir uma bolsa nas universidades americanas por conta da maternidade. Incentivada pela sua família, decidiu então entrar no exército americano, deixando a filha sob os cuidados dos avós. Aos 20 anos, Angela se acidentou durante um treinamento de basquete no quartel ao sofrer uma queda de costas.

Precisou passar por cirurgia, mas um erro no procedimento resultou em uma lesão ainda mais séria que a deixou paraplégica. Na época, o exército dos Estados Unidos se recusou a pagar as contas médicas. Sem dinheiro, Madsen então perdeu mais do que o movimento das pernas. Perdeu sua casa, viu seu casamento acabar e caiu em depressão profunda. Como moradora de rua, chegou a viver em frente em a um armário de armazenamento da Disneylândia, na Califórnia, e guardava ali as suas coisas. Parecia o fim da linha.

Mas não era. A primeira modalidade adaptada que conheceu foi o basquete em cadeira de rodas, ao assistir um campeonato de veteranos. Ao se arriscar ali, pôde começar a reconstruir sua vida, mesmo que devagar. Ainda levaria mais um susto ao cair no buraco do metro em San Francisco. Ela conta que, a partir daquele momento, resolveu viver a vida com toda a intensidade que podia. Tentaria dar seu melhor para encontrar sentido. E ser paraplégica não delimitaria limites.

- Senti sensações de perdas esmagadoras. Todos nós sentimos em algum momento. Mas há tempo para seguir em frente. Você tem que saber reinventar a si mesmo. Decidir quem você quer ser.

Foi quando conheceu o remo. Nascida na Califórnia, ela sempre gostou de surfar e sentia falta da água do mar. Ficou próxima da modalidade em 2006, quando competia em surfe adaptado e pôde assistir a algumas provas. Ali, descobriu que tinha dom natural para o esporte e se arriscou. Ganhou medalhas em mundiais e representou os Estados Unidos na Paralimpíada de Pequim 2008. Fora das competições oficiais, ficou famosa por cruzar longas distâncias em mar aberto. Foi a primeira mulher a atravessar o Oceano Índico a remo. Por muitas vezes, se colocou em risco ao cumprir desafios sem barco de apoio.

- Eu fui como remadora para os Jogos de Pequim. Remar me levou ao oceano, comecei a fazer isso sem barcos de apoio. É algo inédito para um paraplégico. Tenho seis recordes no Guinness por fazer isso. Além de ser surfista, né. Cheguei a me arriscar e ficar dias à deriva, esperando a guarda costeira, a mais de 170 milhas da costa  - conta, orgulhosa.

O capítulo que inclui o atletismo veio logo depois. Perto dos 50 anos, Angela conseguiu se classificar para os Jogos Paralímpicos de Londres no arremesso do peso e no lançamento do dardo, onde conseguiu um bronze. Em sétimo lugar no Rio, ainda não sabe se os Jogos de 2016 serão os seus últimos. Fã de surfe desde criança, diz que adoraria se arriscar na modalidade caso entre em um programa paralímpico. Em quatro anos, ela terá 60. Mas quem dúvida?

- Acho que a história daria um bom filme. Eu já escrevi um livro: ''Remar conta o vento''. É uma questão de tempo. Ainda não sei se vou ter outra chance em Paralimpíada. Mas quem sabe? Se colocaram o surfe então...