A tragédia vivida pela equipe da Chapecoense comoveu não só o Brasil, mas o mundo todo. Com o clima de tristeza e a necessidade de reconstrução do elenco da equipe, o jornalista francês Stéphane Dermani teve a ideia de produzir um documentário sobre o processo de recuperação do clube. O foco foi nas categorias de base, durante a Copa São Paulo, o primeiro torneio de uma equipe da Chape depois da tragédia. O trabalho denominado "Les Héritiers de Chapecoense" ("Os Herdeiros da Chapecoense", em tradução literal) foi veiculado no Canal Plus, da França.
A história poderia terminado cedo - a Chapecoense nunca havia passado da primeira fase da Copinha - mas a equipe mostrou poder de superação para eliminar, inclusive, o São Paulo e chegar às quartas de final, quando foi eliminada pelo Paulista de Jundiaí. Em entrevista ao "Redação SporTV" desta sexta-feira, o jornalista falou sobre o sentimento da equipe durante a caminhada na competição (assista ao vídeo acima).
- O que eu lembro dessa campanha é que eles realmente se comportaram como jogadores da Chapecoense. É o DNA do clube, a raça, a vontade. E aí eles saíram da primeira fase, ganharam o segundo jogo, empataram o terceiro. Chegaram a jogar contra o São Paulo, que era o grande favorito da Copinha. Tinha várias "coroas" na cabeça: era Campeão Brasileiro Sub-20, da Copa do Brasil, do Paulista, acho que era um time invicto há mais de 40 jogos, só goleava na primeira fase. A Chape chegou, e com muita raça, muita vontade, segurou o 0 a 0 e ganhou nos pênaltis. Para os garotos, foi um feito incrível, e eles ganharam do jeito que a Chapecoense ganha: sendo raçudos em campo, sempre dois ou três na marcação, gastando uma energia incrível. No final, eu perguntei para eles: "De onde vem essa força toda?" e todos falaram daqueles lá de cima, dos que se foram - comentou Darmani.
No entanto, o início não foi nada fácil. Stéphane conta que o clima no início da competição era de profunda tristeza e que na partida de estreia da equipe, contra o Nova Iguaçu, os jogadores sentiram a pressão causada pelos vários veículos de mídia de todo o mundo que estavam presentes no local.
- Cheguei lá 30 dias após a tragédia e os torcedores se reuniam ainda para mostrar apoio, a cidade ainda muito emocionada, muito triste, depois do Natal. Esses jogadores também tiveram uma folga excepcional, voltaram para casa, porque o ambiente era muito pesado. Então eles foram achar um reconforto com os familiares. Isso tirou um pouco da fase de preparação do time. Eles voltaram e foi uma sensação muito estranha, estavam acostumados a ter os profissionais do lado deles, muitos já haviam treinado com os profissionais, então achei um ambiente de vestiário bastante pesado. (...) A estreia deles foi muito complicada, muita mídia, tinham umas 15 televisões para o primeiro jogo deles, contra o Nova Iguaçu. Eles não aguentaram a pressão e perderam por 2 a 0. Todos falaram: "A gente esperava uma mídia atrás da gente, mas não tudo isso" - concluiu.
O documentário, que mostra principalmente o tom da reconstrução da equipe, possui três episódios e está disponível na internet. Apesar de o documentário ser narrado em francês, as entrevistas com os membros da equipe estão em português.