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09/11/2016 08:19

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Emily quer reforço emocional do Brasil e Marta perto do gol: 'Ali é perigosa'

Em entrevista exclusiva, técnica da Seleção diz admirar trabalho de treinadora sueca: 'Deixou de jogar contra o Brasil e conseguiu se classificar à final da Olimpíada'

Emily ainda tem a agenda corrida. Isso por garantir um momento histórico no último dia 1 de novembro. Tornou-se a primeira mulher a assumir como técnica da seleção brasileira feminina de futebol. Todos buscam declarações e também saber da emoção da técnica ao assumir o cargo. Apesar dos compromissos, ela quer logo ir a campo e colocar suas ideias em ação. A primeira delas? Trabalhar um pouco mais o lado emocional das atletas. Ela acredita que pode ter sido sim um fator decisivo na perda da medalha nos Jogos Olímpicos, em que via como o momento ideal para que ouro chegasse, o que acabou não ocorrendo. Ela ainda não recebeu o sim do presidente da CBF, Marco Polo del Nero, para levar uma coaching esportiva à seleção, mas diz que seguirá insistindo no pedido, pois faz parte de sua estratégia a longo prazo.  

- Eu fiz um pedido ao presidente (Marco Polo del Nero) da coaching. Ele não me deu aval ainda, mas gostou da ideia. Eu expliquei o que seria feito. O trabalho não seria nem a curto, nem a médio prazo. Ele leva um tempo. Seria a longo prazo. Pode ser que sim. Pode ser que faltou esse detalhe mais da parte psicológica porque é muito duro você perder como nós perdemos e você ter a reação de "não, nós precisamos dessa medalha porque é importante".  É muito difícil perder da maneira que perdeu. Nós que estávamos assistindo não acreditávamos no que estava acontecendo porque eu particularmente via a medalha de ouro nessa Olimpíada. De todas que eu assisti, e eu assisti todas (com a participação da seleção brasileira feminina), eu via que esse era o momento, mas infelizmente ele não aconteceu.  É um trabalho que eu estou atrás e vou continuar pedindo ao presidente que a gente possa fazer algo diferente. Não que não foi feito. Foi feito sim um trabalho com psicólogo, o senhor Serapião, que por sinal é uma pessoa excepcional. Mas acho que o coaching esportivo está hoje mais atualizado dentro do que eu tenho como estratégia. Isso é um ponto que iria ajudar bastante – afirmou em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com. 

O modelo que ela traz como técnica no feminino é justamente de quem soube tão bem analisar o cenário e eliminar o Brasil depois de um 5 a 1 na primeira fase da Olimpíada. Emily tem Pia Sundhage como exemplo e segue há anos a carreira da treinadora, que comandou a Suécia na competição em agosto. Ela ressalta que futebol é estratégia e a da treinadora sueca foi deixar de jogar. Acabou dando certo. A time comandado por Vadão perdeu nas cobranças de pênaltis após um bloqueio defensivo adversário.

- Das técnicas do exterior, eu leio muito sobre a Pia. Em toda a carreira dela, eu acho ela estrategista. Foi a técnica da Suécia na Olimpíada. Ela deixou de jogar. Na realidade, foi uma estratégia: "Eu vou no primeiro jogo contra o Brasil, vejo como vai ser". Tomou 5 a 1, mas esse um pode ter criado uma expectativa. "Como eu cheguei nesse 5 a 1? Por onde eu cheguei nesse 5 a 1?". Ela mudou toda a estratégia dela contra os Estados Unidos e deu certo. "Vou levar o jogo para os pênaltis, vou ganhar nos pênaltis e nós vamos classificar". Foi, deixou de jogar contra o Brasil e acabou conseguindo se classificar para a final da Olimpíada. Futebol eu vejo que hoje é estratégia. Você tem as peças na mão. Nem sempre vão ser boas, do jeito que você espera. Com ela, a seleção sueca mudou muito. Hoje, tecnicamente, é uma seleção normal, mas que defensivamente defende como ninguém. Ela usou da estratégia defensiva. É duro você perder para uma equipe que não quis jogar, mas a gente tem que respeitar porque é uma estratégia que ela usou naquele momento e que deu certo. A Pia é a treinadora que já acompanhava e lia sobre ela.

Emily ressalta que nem sempre uma treinadora terá as melhores peças e será preciso uma estratégia para que a vitória chegue. Mas, em relação a peças, ela tem uma estrela, Marta, e não pretende usar a camisa 10 no mesmo esquema que Vadão utilizou. A treinadora quer a cinco vezes melhor do mundo o mais próxima possível do gol. O comprometimento defensivo deve existir, mas ela quer da craque da Seleção a liberdade ofensiva ao lado de Cristiane.

- Professor Vadão aproveitou a Marta de uma maneira que ele, dentro do que era ideal para ele, acredito que deve ter dado resposta dentro da preparação e ele apostou nisso na Olimpíada. Não foi isso que fez com que o Brasil não conseguisse a medalha. Eu penso dessa maneira. Foi uma aposta que ele fez dentro de tudo que eles tinham estudado. Mas eu particularmente vou procurar usar a Marta mais próxima do gol. É uma coisa minha. Cada um tem uma maneira de trabalhar e tem que ser respeitada. Eu vou procurar tê-la mais próxima do gol. Acho que ali ela é perigosa. Todas têm que se sacrificar ofensivamente. A gente tem vários exemplos. O exemplo do Barcelona é um. Messi tem que baixar até algumas vezes atrás da linha do meio de campo para defender. Então todos têm que defender bem, todos têm que atacar bem. Mas na hora que a gente estiver fazendo essa transição, quando estivermos com a posse de bola, acredito que ela tem que estar ali próxima do gol perto da Cristiane. Isso vai ser uma mudança. Não sei nem se é uma mudança, mas uma característica de jogo diferente que eu acredito que possa dar um resultado positivo.

Confira outras respostas de Emily, nova técnica da Seleção:

Uma mulher à frente da Seleção

- É bastante inovador para mim isso. É uma coisa que eu nunca imaginei que pudesse acontecer comigo por conta de ser uma mulher. A seleção já teve muitos treinadores de expressão. O próprio professor René (Simões), que veio do masculino. O professor Vadão, que veio do masculino também. Mas por ser uma mulher para a sociedade parece um absurdo. Estamos quebrando barreiras. Eu já quero ir para o campo. As pessoas comentam: "como está sua vida?". É uma correria, mas uma correria que eu preciso fazer, pois vai ser bom para a modalidade. Mas eu quero me apresentar logo e estar dentro do campo. Quero começar a trabalhar. Ter o contato com elas. O contato da comissão técnica com as atletas. Eu quero logo ir para o campo. Esse é meu desejo agora.

Contato esta semana com as jogadoras no exterior

- Depois que eu assumi ainda não falei com as meninas. Esse é o próximo passo que eu quero dar. Agora está na correria de atender todo mundo e contar um pouco da minha história porque ninguém me conhece. As pessoas que não estão envolvidas no futebol feminino não me conhecem. É mostrar um pouco do que é a Emily, é mostrar o que sua comissão técnica está proposta a fazer para a modalidade e para a seleção brasileira. O próximo passo que estou pensando em fazer é voltar para a CBF e começar a fazer essas ligações, esse primeiro contato com elas por telefone para saber a ideia delas também, falar que nós precisamos andar juntas porque chegou o nosso momento. Acredito que algumas sonhavam também ter o comando de uma mulher. Nós juntas podemos fazer a diferença. Estou aguardando o momento certo para que a gente possa ter esse primeiro contato. 

O diferencial da mulher no comando

- A mulher pode trazer o fora de campo. Acho que dentro de campo a linguagem é a mesma. O professor Vadão era capacitado para estar ali, entende de futebol. Hoje eu tenho muito que aprender, eu sei que tenho muito a aprender, mas dentro do que eu vejo em outras seleções, vejo dentro da CBF, eu acredito que estou preparada para esse momento, mas penso que o ano que vem eu tenho que estar melhor, no Mundial tenho que estar melhor preparada, na Olimpíada eu tenho que estar melhor preparada. Então, eu vejo que o fora de campo pode ajudar. Um bate papo, uma conversa que às vezes elas não teriam com a comissão técnica que era toda masculina. Essa coaching eu procurei que fosse uma mulher e será uma mulher caso aconteça. Esse ela entre a coaching, eu e as atletas e a coaching, a comissão técnica e as atletas. É uma estratégia que eu pensei e falei: vou levar isso para a seleção principal e espero que dê certo.

Formação da comissão técnica

- Em um primeiro momento, a mudança da comissão técnica estava em discussão ainda, quem ia ficar, quem não ia. Se eu ia trazer minha comissão técnica de confiança. São pessoas que vou conviver diariamente. Tem que ser pessoas da minha confiança e pessoas que eu conviva. A ideia sim é trazer mulheres. Há alguns nomes que eu tenho em mente. Mas, a princípio, a única mulher que teria seria a coaching nesse primeiro momento. O que eu vou buscar e pedir ao presidente é que eu visite todas essas treinadoras que estiveram na Copa do Brasil. São seis treinadoras. Que eu pudesse visitá-las. Ou até mesmo treinadoras que não estão atuando, mas são treinadoras de base que é o caso da Jéssica, do Rio Preto. É uma pessoa que eu pensei bastante. A própria Ana, de Valinhos. No primeiro momento, busquei pessoas que eu convivo e troco ideias sobre futebol, que eu tenho essa confiança. Pode ser que as coisas aconteçam de trazer outra mulher como assistente. No primeiro momento vai ser isso. Homens mais a coaching, ela uma mulher.

Uma técnica ofensiva?

- Me considero uma técnica moderna que sabe defender bem, que sabe atacar bem. E as atletas têm que ter o entendimento disso. Isso para mim é o principal.

Primeira pessoa para quem ligou?

- Depois que eu apertei a mão do presidente e ele me disse que eu era a técnica da seleção, de eu ter dito obrigado, meu irmão e minha mãe. São as duas pessoas que vêm me acompanhando há muito tempo. Foram as duas pessoas que eu falei: "Vocês estão preparados? Deu certo". Depois desse momento a única coisa que eu queria era ir para casa para poder abraçá-los e falar que deu certo. Agora, é trabalhar. Preciso estar dentro do campo para sentir o que é ser a técnica da seleção principal.

Qual o primeiro passo no cargo? 

- Fazer a convocação. Claro que já peguei todas as listas de todas as convocações, peguei junto com nosso supervisor Miguel. Peguei todas as convocações oficiais desde o Mundial de 2012, peguei também todas as convocações da sub-20 lá do Mundial também de 2012, 2010. Esse é meu próximo passo. Fazer a convocação. Pensar em tudo que eu vivi ali no São José, jogos que vivi da Copa do Brasil e Brasileirão. Nessa convocação vou colocar o que tem de melhor para esse primeiro torneio em Manaus.

Convocação de novos nomes

- Eu vou aproveita-las por merecerem estar ali e não pelo ambiente de seleção. A gente precisa dessa renovação, não podemos tirar as mais velhas assim do nada e colocar as mais novas porque não é fácil. Vou mesclar e não vou dispensar de uma vez as velhas depois que essas mais novas estiverem adaptadas à seleção principal. Quero conversar com Marta, Cristiane e Formiga que são as mais velhas e espero que elas aceitem estar nesse próximo ciclo. Vai ser muito importante e a seleção ainda precisa delas. Não só a seleção. Espero que elas pensem que a modalidade precisa que elas estejam na seleção. Penso muito na modalidade no nosso país. Se formos campeãs ou não formos, a modalidade tem que ser valorizada. Tem muita gente competente, tem gente que sofre para montar uma equipe. Está na hora de falarmos mais da modalidade. Não vai ser só a seleção que vai resolver os problemas. A gente tem que fortalecer a modalidade.

Aproveitamento de Formiga 

-  A ideia de trazer a Formiga para a comissão vai acontecer naturalmente. Mas antes de ir para a comissão ela tem o que deixar como atleta. Vou bater um papo com ela. Não digo que um ciclo de quatro anos, mas acho que dois anos até o Mundial tem muita coisa importante para fazer.

 

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