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Morte de Senna marcou história há 22 anos

01 maio 2016 - 12h23Por Globo Esporte

Dia 1º de maio de 1994 caiu num domingo. Foi nessa data que a F1 organizou o GP de San Marino, em Ímola, na Itália, terceira etapa do campeonato. Desde então, portanto há 22 anos, nunca mais uma corrida de F1 coincidiu de ser disputada dia 1º de maio. Para o fã da F1, ou mesmo aqueles que se sensibilizam com uma mensagem mais elevada, o 1º de maio representa sempre um momento para reflexão, por vezes confundido com saudade. Foi nesse dia queAyrton Senna sofreu o acidente fatal na curva Tamburello, na segunda volta da relargada, depois da saída do safety car, na sexta volta da prova, às 14h17.

Ainda há hoje profissionais daquele tempo na F1, como o fisioterapeuta Josef Leberer, austríaco. Atualmente ele trabalha com os pilotos da Sauber, o brasiliense Felipe Nasr e o sueco Marcus Ericsson. Josef e Senna se tornaram amigos. Em 1988, ele foi cuidar, na sua estreia na F1, com ninguém menos de Senna e Alain Prost, na McLaren. E quando Senna deixou o time de Ron Dennis para correr na Williams, no fim de 1993, convidou Josef para ir com ele.

“Era novembro ou dezembro, não me lembro. Só sei que tocou o telefone às duas horas da manhã, na minha casa. Eu acordei assustado e perguntei quem era. Ayrton respondeu, rindo. Recordo de ter dito a ele que aquela não era hora para brincadeira. Foi quando ele me disse que estava ligando para me dizer que desejava seguir comigo, ele se encarregaria da minha transferência para a Williams”, disse ao GloboEsporte.com, Leberer.

“Eu não sabia que nunca mais tivemos um GP dia 1º de maio, aqui na Rússia será a primeira vez?” Ao ser informado que a informação está correta, mudou o semblante. “1º de maio de novo... Bem, para mim não muda muito. Todo 1º de maio é especial, não há como não tê-lo na mente, nos tornamos amigos confidentes. Lembro da data pela perda de Ayrton e por ser aniversário de minha mãe.”

Para o fisioterapeuta, o fato de 22 anos depois o tema Ayrton Senna reverberar com intensidade no paddock “é uma demonstração da sua força, do quanto deixou não só para a F1, mas todos nós. Eu me sinto orgulhoso”.

Nasr tem no seu capacete a assinatura de Senna. “É minha homenagem a essa data. Em 1994 eu tinha dois anos de idade, apenas. Mas vi e vejo vídeos do Senna e, claro, me impressiono. Eu sempre o tive como modelo para chegar na F1, posso dizer que apesar de não conviver se tornou meu herói, como piloto e pela personalidade”, disse o piloto da Sauber ao GloboEsporte.com.

Felipe Massa teve um momento de desgaste com Senna, quando ainda era bem jovem. Como todo piloto de kart, Massa via Senna como um modelo. Até hoje a lenda Ayrton Senna circula com desenvoltura no kartódromo de Interlagos, onde ele tanto competia e treinava. “Eu estava em Ilha Bela (litoral paulista), num clube, e o Senna chegou com uma moça, num barco. Ancorou lá. Eu fui pedir um autógrafo e ele não me deu a atenção que eu esperava. Para uma criança isso marca”, contou Massa ao GloboEsporte.com.

“Isso não tira os méritos dele como piloto e mesmo como pessoa. Vai saber o que estava passando na cabeça dele naquele instante. Eu uso isso no meu relacionamento com os fãs. Cuido para não estar tão concentrado em algo e, de repente, não dar atenção a eles.” Para Massa, como piloto Senna era excepcional.

O fato de a corrida de Sochi também ser realizada dia 1º de maio não tem significado maior. “Não é por isso que nos lembraremos mais ou menos de Senna. Sempre dia 1º de maio em alguma hora você vai pensar nele.”

O suíço Beat Zehnder era o chefe dos mecânicos da Sauber em 1994. Além de Senna o GP de San Marino teve outra fatalidade. No sábado, o austríaco Roland Ratzemberger, da Simtek, perdeu a vida na sessão de classificação, ao colidir no muro da curva Villeneuve.

Como Leberer, o chefe da Sauber não se ateve a coincidência de datas entre o GP de San Marino de 1994 e o da Rússia, neste domingo. “Não pensei nisso, 1º de maio será sempre 1º de maio para nós. Não temos como esquecer. Primeiro o acidente do Rubens (Barrichello), na sexta-feira, depois a morte do Roland, no sábado, que havia pilotado para nós, quando competíamos no Esporte Protótipos, e no domingo o que aconteceu com Senna.”

Zehnder faz uma declaração surpreendente: “No domingo, eu disse a Peter Sauber que estava deixando a equipe. Eu não queria aquilo para mim, foi muita coisa junta, em tão pouco tempo. Peter Sauber conversou comigo nos dias seguintes e fui aceitando a ideia de rever minha decisão”.

O problema para o suíço é que na corrida seguinte, Mônaco, no primeiro treino livre, quinta-feira de manhã, o piloto da Sauber Karl Wendlinger bateu na saída do túnel e entrou em coma. “Foi outro impacto enorme.” Ele sobreviveu, mas os danos afetaram sua capacidade de pilotar. A carreira na F1 praticamente acabou ali. “Depois de tudo o que passamos duas semanas antes, lá em Mônaco vieram nos informar que Karl estava tendo convulsões.”

Max Mosley, presidente da FIA, liderou a proibição, a partir de 1994, da grande maioria dos recursos eletrônicos dos carros, como suspensão ativa, controle de tração, freios ABS, acelerador eletrônico, dentre outros. “Mas não reduziu a potência”, disse ao hoje repórter do GloboEsporte.com o grande nome de engenharia nos anos 80 e início dos 90, John Barnard, ex-McLaren, Ferrari e Benetton.

“Os carros perderam aderência e continuaram com seus cavalos de potência.” Para o técnico inglês, a causa dos acidentes pode não ter sido essa, mas esse foi um fator que contribuiu para explicar o que a F1 experimentou no começo de 1994.

Na etapa seguinte a de Mônaco, depois de Barrichello quase ter morrido, os acidentes fatais de Ratzenberger e Senna, e o quadro crítico de Wendlinger, o desfile de catástrofes na pista não acabou. Zehnder conta: “Nós fomos para Barcelona, depois de Mônaco, e Montermini (Andrea Montermini), com o carro da Simtek também, bateu no muro da entrada da reta dos boxes. A frente do carro ficou destruída e seus pés estavam expostos”, lembra Zehnder. “Quando aquilo iria acabar, foi terrível.”

Tudo o que se passou naqueles dias serviu, na visão de Niki Lauda, para salvar muitas vidas. “É triste, perdemos pilotos, amigos, mas aquelas tragédias serviram para dar novo rumo à segurança da F1. Veja os carros hoje e os daquele tempo. Só de olhar dá para ver que a segurança avançou muito. Um acidente como o de Fernando (Alonso) na Austrália não permitiria ao piloto sobreviver. E o vimos sair debaixo do carro tirando a poeira do macacão”, falou ao GloboEsporte.com.

“A data de 1º de maio e a de 30 de abril, quando perdi um amigo, Roland, são para serem lembradas independente de nesses dias haver corrida de F1 ou não”, diz o austríaco. Curiosamente, naquele 1º de maio de 1994, Lauda chamou Senna para uma reunião. O hoje repórter do GloboEsporte.com viu o exato momento em que Lauda, domingo de manhã, depois do warm up, treino que havia 4 horas e meia antes das largadas, disse a Senna, no paddock: “Você tem de liderar esse movimento”.

O campeão do mundo de 1975 e 1997, pela Ferrari, e 1984, McLaren, sabia que havia algo errado com a F1, o regulamento tornou os carros inseguros, o corte repentino de todos os recursos eletrônicos elevou sobremaneira a possibilidade de os pilotos perderem o controle do carro. “Sim, eu me reuniria com Ayrton naquela semana”, falou Lauda, consultor da Ferrari. O encontro seria na quinta-feira. A ideia era questionar Mosley sobre as mudanças e propor algo para reduzir os riscos de novos acidentes.

Não foi possível. Horas depois, naquele 1º de maio de 1994, Senna foi outra vítima daquela F1 desarmônica, insegura, perigosa, cujos responsáveis pelo regulamento não levaram em conta questões elementares, como a possibilidade altíssima de o carro fugir ao controle dos pilotos.

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